UM: ONDE ESTOU?
— Não, senhora! — Era a voz de uma mulher. — A senhora não pode entrar aqui!
— Mas eu... — Insistiu.
— Tirem essa mulher daqui! — Ordenou, dessa vez, uma voz grave. — Imediatamente!
E eu apenas ouço. Não sinto nada. Não vejo nada. Apenas ouço.
Então eu apago.
Algum tempo mais tarde, eu acordo de olhos fechados. Não faço ideia de quanto tempo se passou. Talvez uma hora ou duas... Talvez oito horas. Ou, quem sabe, já se passaram dias. Me assustei com o que ouvi. Não que as palavras tenham sido assustadoras, não foi o caso.
— Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte... — disse uma trêmula e rouca voz de mulher, tão próxima que parecia estar ao meu lado. — Amém.
"Meu Deus!", exclamei internamente, assustado ao perceber que havia uma mulher orando debruçada sobre mim. "A onde eu estou? No meu leito de morte? No meu velório? Que diabos está acontecendo aqui?"
Às vezes, é como se minha mente visse alguns vultos, às vezes algumas luzes... Mas na maior parte das vezes, é apenas escuridão. Então eu me perco em pensamentos com pessoas que não sei se conheço. E isso realmente parece tudo, menos com a morte. Acredito que na pior das hipóteses, você morre e desliga. Da mesma maneira que não vê e não sente, não ouve... O que não é o meu caso. Eu ouço! E ouvi muito bem o final dessa prece.
Tento me concentrar para ouvir mais coisas. Percebo que tem algum aparelho emitindo um som agudo, com intervalos constantes, em um ritmo estável... O que não é nem um pouco agradável. Já sei do que se trata.
Pelo menos eu não estou morto — apesar de estar na metade do caminho para o outro lado.
DOIS: FIOS E TUBOS
Não é muito agradável descobrir que está em coma induzido — o que os médicos preferem chamar de "sedação". Pois bem, estou sedado, e, para eles, inconsciente. Meu melhor amigo atualmente é um monitor de sinais vitais que parece conhecer cada centímetro do meu corpo melhor do que eu mesmo — o que não é muito difícil nesse momento.
Feliz e ao mesmo tempo infelizmente eu não sinto nada. Não sinto os fios conectados ao meu corpo e nem mesmo o cano pelo qual passa o ar que eu respiro.
— Vamos classifica-lo como o número sete na escada de Glasgow — disse a voz de um homem enquanto checava o meu estado clinico. E eu me pergunto quem é esse fulano. E por que diabos ele criou uma escala da qual eu faria parte. Digo, é claro, ele provavelmente nem sabe da minha existência, mas para que serve essa escala?
Apago novamente.
— Nossa, amiga, você viu como ele olhou para você? — questionou animada uma voz feminina. — Você vai falar com ele?
— Bah! Tu não tens noção da realidade, não? — disse aquela que eu acredito ser uma enfermeira, com sotaque de quem viveu a vida inteira no sul e mudou-se recentemente para a região sudeste. Se é que eu ainda estou na região sudeste. — Estou trabalhando. Não posso ficar pensando naquele queixo-duro em horário de serviço.
E a escuridão me dá "olá" novamente.
— Você é louco, papai! — gritou uma menininha no banco de trás do carro. — Faz de novo?
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Sonhos Induzidos
Short StoryFernando acorda, mas não consegue abrir os olhos. Ele pode ouvir todos que estão ao seu redor, mas não consegue se comunicar. Os médicos chamam isso de sedação. Poucas pessoas entram em seu quarto para visitá-lo, mas muitas entram em sua mente, mesm...