Capítulo - XVII Na hora certa

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No dia seguinte Harry acordou bem cedo. Havia se lembrado do compromisso com a bibliotecária da escola, e apesar de ainda estar receoso com aquilo tudo que havia passado no dia anterior, acreditava que com o “basta” que Louis havia dado no trio de garotos, ninguém viria mexer consigo tão cedo.

Quando saiu de casa, caía uma ligeira garoa gélida, o que o obrigou a apanhar um guarda-chuva. Não queria acordar a mãe para levá-lo no colégio, já que havia saído antes das oito da manhã, e como havia visitas em sua casa naquela semana, era melhor deixar que todos dormissem e saísse em silêncio. E assim o fez. Ao passar pela casa de Louis não pôde deixar de sorrir com certo carinho, sentindo o peito aquecer. Devia muito ao amigo e certamente faria uma visita ainda naquela tarde.

Harry levou menos tempo que o usual para chegar à escola. Havia andado rápido, já que o frio cortante, junto da garoa, o incomodava, corando suas bochechas e a ponta de seu nariz. Assim que chegou, deixou o guarda-chuva no suporte da portaria, cumprimentou as moças do balcão e seguiu em direção ao corredor das classes do 1º ano, onde mais uma prova de recuperação era aplicada. Discreto, passou reto, sem bisbilhotar quem havia ficado pendurado nas notas. Não era de seu interesse.

Após chegar à biblioteca, devolver os livros e alugar outros dois, Harry seguiu até o refeitório, dirigindo-se à lanchonete. Estava com as mãos geladas e precisava urgente de uma caneca fumegante de chocolate-quente, caso quisesse chegar em casa antes de congelar.

Ao se sentar em uma das mesas, observou um grupinho de garotos falantes se aproximar. Não deu muita importância a eles, mas de relance, notou que pelo menos dois deles faziam parte do grupo dos baderneiros que tentaram o agredir no dia anterior. Ligeiramente incomodado, o garoto tratou de terminar logo sua bebida, zarpando em seguida do ambiente. Foi ao banheiro lavar as mãos, já que havia melecado os dedos com o chocolate que havia transbordado, e aproveitaria para arrumar a toca que cobria sua cabeça e protegia seus cachos.

Mal teve tempo de terminar de secar as mãos quando ouviu o forte estampido da porta colidindo com a parede. Deu um salto, voltando à atenção aos recém-chegados, mal acreditando em sua imensa falta de sorte.

- Achou que íamos deixar barato o que aquele seu amigo lunático fez com os nossos companheiros?! – declarou o grandalhão que andava desengonçado em sua direção, vertendo de ódio.

Atrás dele vinham mais três garotos, sorrindo em excitação ao ficarem à sua frente. Estralavam os dedos, preparando-se para usar os punhos, ao que tudo indicava. Pego pelo desespero e dada a surpresa do encontro, Harry correu até uma das cabines, se trancando dentro dela. Encolheu-se ao lado da privada, sentando-se abraçado com as pernas, de cabeça baixa. Não podia acreditar que aquilo tudo estava se repetindo, que aquele pesadelo, mais uma vez, estava acontecendo.

Mordia os lábios enquanto ouvia as ofensas extremamente raivosas e ameaçadoras. Os garotos socavam a porta, a chutavam, chacoalhavam. Harry depositava toda sua esperança na tranca da cabine, mesmo sabendo que o material era fraco demais para resistir aos trancos violentos.

Ao ouvir o forte barulho do metal estourando, Harry levou as mãos até a cabeça, cobrindo-a com força enquanto tremia, completamente fora de si.

- Se você já ia apanhar antes, agora vai apanhar muito mais, Styles! – urrou o grandalhão, enfiando-se feito um ogro dentro do pequeno espaço da cabine, puxando o pobre garoto pelos cabelos. Harry tropeçou cambaleante, com o rosto choroso.

- Por favor, não façam isso! – implorava, sentindo-se apavorado. – Por favor! – dizia amargurado, com os lábios e mãos trêmulos.

Mas ninguém ali teve dó dele. Ninguém ali estava a fim de brincar. O papel do quarteto era vingar os amigos machucados no dia anterior, e pelo ódio que sentiam, Harry não teria chances daquela vez.

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