— Mortalmente Morto —
Júlio C. WidellDois policiais patrulhavam uma das ruas da cidade. Aquela noite para eles estava sendo entediante e sem graça. Seu chefe ou Boss, como chamavam carinhosamente, estava cheio de trabalho, pois várias chamadas estranhas estava deixando os telefones congestionados, até que uma hora simplesmente tudo parou. Rádios, telefones celulares e tevês. Tudo parou assim que as luzes apagaram como se algum ser tivesse sugado cada gota de energia possível, mergulhando a cidade toda em um mar negro.
Thayane e Igor estavam há horas rondando o perímetro com a viatura. As sirenes vermelhas iluminavam boa parte das ruas, que no momento permaneciam vazias e silenciosas.
— Só pode está de brincadeira — disse Igor, um homem alto e magricelo que naquele momento olhava para fora em busca de algo. — Não acredito que vou passar minha noite toda nesta porcaria de veículo. Já rodamos o bairro todo e nada, acho que as ligações eram apenas brincadeiras de gente que não tem nada para fazer. Confesso que estou cheio deste emprego, pensei que seria mais agitado. Tipo prender e bater em alguns bandidos, mas...
— Cala a porra da boca — interrompeu Thayane, que era a típica policial mandona e exagerada, mas no fundo um amor de pessoa. Seus cabelos encaracolados de uma verdadeira mulata balançavam ao sabor do vento que entrava pela brecha do vidro. Sua aparência era bondosa. O rosto redondo e os olhos incrivelmente grandes eram disfarçados por uma leve maquiagem.
— Você só sabe reclamar, dê graças a Deus pelo Boss ter nos deixado sair. Não admiro terem te colocado comigo. As suas últimas missões foram um tremendo fracasso. Então não reclama. Ok? — Ela o encarava e o viu fazer uma careta.
— Não estou reclamando só não quero passar a noite toda andando e andando sem nenhuma ação. — Ele olhou para ela de canto de olho e continuou. — Depois dessa não vejo a hora de me encolher em minha cama e assistir a um bom filme. Eu preciso muito disso...
— Sei do que você precisa... — disse ela com sarcasmo. — Está louquinho para chegar em casa e se masturbar. Isso é o que quer.
Ele riu, mas não respondeu, pois sabia que se continuasse com aquela conversa, ela acabaria passando o resto da noite enchendo o seu saco.
— Deveríamos parar e comer alguma coisa, estou morrendo de fome.
— Vamos sim. Abriu uma lanchonete na Rua "10". Dizem que o x-tudo de lá é o melhor.
— Eu pago as bebidas!
— Você vai pagar tudo... — Thayane riu.
Durante o trajeto, os dois conversaram sobre os amigos de trabalho, e quando chegaram à Rua 10, depararam-se com o vazio. O silêncio os acompanhou, os faróis iluminavam a estrada vazia, o fast-food mais movimentado encontrava-se com os portões entreabertos. Uma cadeira estava do lado de fora como se alguém de dentro a tivesse jogado com toda a força, quebrando a vidraça.
— Mas que porra é essa? — sibilou Thayane ao sair do carro e ver a cena. — Que droga aconteceu aqui?
Igor não respondeu, ele retirou de seu coldre uma lanterna potente e após acendê-la, iluminou o local cheio de destroços. O policial caminhou sem dizer uma única palavra, estava atento e confuso com o que via diante de seus olhos.
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Mortalmente Morto
Short StoryISBN: 9781973106265 Revisado por Leticia Godoy Thayane e Igor são dois policiais e amigos de trabalho. Em uma noite onde tudo parecia ir de mal a pior, eles decidem parar para comer em uma lanchonete no centro da cidade. Só que o rango do fim do exp...