O Último Grito - Conto de Halloween

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Desde pequena sempre escutei estórias assustadoras sobre o halloween, estórias aquelas que toda cidade pequena possui e que parecem ser uma grande bobagem criada para nos assustar. Mas como toda estória, esta também foi baseada em pequenos rumores, aqueles rumores que vão passando de boca em boca. Dizem que nada é fantasiado do dia para a noite sem ter uma base que a sustente, algo que as deixam mais verídicas e assim implicam aquele medo que nos faz arrepiar até a espinha. E por mais que os anos tenham se passado, aquele medo bobo de certo modo ainda vive dentro de mim. Assim como vive dentro de outras pessoas também.

Meus irmãos sempre me falaram que a Morte deixava indícios de sua "aparição", personificada em um demônio de garras longas e afiadas que as raspavam contra as portas e as paredes das casas, ano a ano, sempre durante a noite de halloween, e cada vez mais sedenta por uma nova vítima. Aquele que fosse escolhido estaria condenado a sua sentença, viveria uma noite de verdadeiro terror e pânico, despertando seus maiores medos, até morrer da forma mais brutal e dolorosa possível. As vítimas simplesmente desapareciam, sem deixar rastros nenhum de seus corpos. Tudo o que restava era apenas o sangue das vítimas espalhado pela casa.

As casas dos meus vizinhos estavam impecáveis com as decorações de halloween deste ano, uma mais bem decorada que a outra. Tento terminar a minha a tempo para a grande noite de terror, faltavam espalhar algumas abóboras ainda pelo gramado, pendurar alguns morcegos nos galhos de minha cerejeira e terminar de pôr as luzes na fachada. Já haviam se passado algumas horas desde que liguei para o Dylan – meu namorado – vir me ajudar a pôr tudo isto no lugar, mas até agora nem sinal dele. Podia imaginá-lo já em algum bar bebendo com seus amigos estúpidos ao invés de estar comigo.

Termino de cortar a última abóbora - admirada com a minha habilidade manual para a coisa – estampando um belo sorriso diabólico nela. Distribuo pela grama junto com as outras dezenas que já havia talhado. À noite, essas abóboras ficarão lindas e terrivelmente assustadoras com as velas acessas em seu interior.

Depois de terminar o trabalho com as abóboras, uso o grampeador para prender as luzes pisca-pisca na minha viga da varanda, fazendo o contorno por toda ela. Percebo então uma marca peculiar na madeira, aparentemente feita por um canivete ououtra coisa pontuda e afiada, bem no meio do meu pilar da varanda enquanto terminava de prender as luzes pisca-pisca. Não conseguia identificar o símbolo, parecia uma letra mal desenhada, como um "w" que havia ficado tremido. Fico abismada com esses vândalos.

Mas algo tira minha atenção, além daquela marca no pilar. Um som potente de um motor se aproximava em minha rua, e junto com ele o som exagerado de alguma música que fazia até minha escada vibrar. De repente vejo um conversível prateado parando em frente a minha casa, de forma tão brusca que chegava a marcar o pneu no asfalto. Dylan e sua trupe!

- Ei, Cloe! Viemos te devolver esse garanhão aqui. – Fala o amigo do Dylan que estava na direção do conversível. – Ele é todo seu agora. – Ele sorri estupidamente ajeitando seus óculos no rosto bronzeado.

Abro um sorriso forçado, aquele que Dylan sabia reconhecer quando eu estava insatisfeita com algo, enquanto desço das escadas. Ele pula pra fora do carro com seu jeito extrovertido e se despede de seus amigos. O carro arranca marcando mais uma vez o pneu no asfalto, proliferando aquele som alto e exuberante por toda a rua, junto com gritos e risadas daqueles garotos. Ele vem até mim, que permaneço de braços cruzados deixando meu bom humor de lado.

- Oi gatinha. – Fala Dylan todo manso abrindo os braços para me receber.

- Onde você estava Dylan?! Estou te esperando faz horas aqui já. Olha tudo o que tive que fazer sozinha! – Explodo despejando reclamações em cima dele.

O Último Grito - Conto de HalloweenOnde histórias criam vida. Descubra agora