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Ilgwang-meyon é uma simpática vila piscatória situada nos arredores de Busan. É conhecida pela sua praia de areias brancas, pelo marisco fresco e pelos templos de Haedong Yonggungsa e Jangansa. E é a terra natal de Park Jimin, um jovem de rosto bonito e olhos tristes.

É uma tristeza subtil, uma leve sombra nas suas iris escuras e que nem toda a gente tem a capacidade de notar apesar de todos conhecerem a tragédia que assolou a família Park há alguns anos atrás. Antes disso os seus olhos brilhavam com todos os sonhos e ambições do mundo.

"Pai? Achas mesmo que vais conseguir chegar a tempo de veres a minha audição?"

"Já te disse que sim. O senhor Jeon deu-me a tarde de folga e como tenho poucas entregas de certeza que vou acabar antes do meio-dia. Não te preocupes que lá estarei!"

Escola de Artes Performativas de Seul. Encorajado pelo seu melhor amigo Jung Hoseok tinha enviado um vídeo seu a dançar. Sem grandes expectativas, mas ao mesmo tempo com o coração cheio de esperança. E agora o sonho estava prestes a tornar-se real. Se ao menos a portada sala se abrisse para revelar a figura alta e esguia do seu pai. Mas não. Apenas continuava imóvel e fechada. E os ponteiros do relógio avançavam decididamente. Vinte minutos para as quatro da tarde. Ele devia estar preso no trânsito. Quinze minutos para as quatro. Devia estar a entrar no parque de estacionamento e a protestar entre dentes com o facto de estar lotado. Dez minutos para as quatro. De certeza que estava a correr que nem um louco pelo átrio, subindo os degraus da escada de dois em dois porque o elevador estava ocupado. Cinco minutos para as quatro. O telemóvel da sua mãe toca sobressaltando-os aos dois.

"Senhora Park? Estou a falar do Hospital Central de Seul. Precisamos que venha imediatamente para cá. O seu marido teve um acidente."

E assim os estúdios da EAPS deram lugar á copa do restaurante Hwang. Com dois irmãos pequenos para sustentar Jimin não teve outra escolha senão tornar-se o homem da casa. O horário escolar e os trabalhos de casa transformaram-se em longas horas a lavar pratos e a ajudar o cozinheiro. O senhor Hwang, um homem baixinho e afável, propôs-lhe que fizesse apenas um part-time de forma a que pudesse continuar os estudos com a promessa de lhe pagar o mesmo que aos empregados que tinham horário completo. Jimin recusou dizendo que seria muito injusto para com os outros. Mas o que ele não referiu foi que, mais do que a injustiça, o que não conseguia suportar eram os olhares de pena dos professores e dos seus colegas.

Há seis anos que o restaurante era a sua segunda casa. A sua rotina começava ás nove e meia da manhã e só terminava quando a noite já ia bem avançada. Era sempre o primeiro a chegar e muitas vezes o último a sair. É um trabalho cansativo e desgastante, mas Jimin não se importa. O cansaço físico é algo com que ele consegue lidar. Já os pensamentos que o invadem quando a sua mente não está ocupada é outra história...

Nada fazia prever que aquela manhã de Primavera seria diferente das outras. Após deixar os seus irmãos na escola dirigiu-se para o restaurante. Era da sua responsabilidade preparar tanto a sala como a cozinha de forma a que quando o cozinheiro e os outros empregados chegassem estivessem prontos a atender os clientes. Depois de corta re preparar todos os ingredientes e quando se preparava para pôr as mesas Jimin reparou que não havia detergente de lavar a loiça. Não era possível! Ia jurar que tinha uma embalagem por encetar no economato. Praguejando contra si mesmo agarrou nas chaves do estabelecimento e saiu. Sem um meio de transporte teria de correr até ao supermercado mais próximo que ficava cinco ruas acima.

E foi então que o segundo sinal de que aquele dia não seria igual aos outros ocorreu.

Do outro lado da estrada uma mercearia com bancas de fruta e vegetais expostos fê-lo parar abruptamente. Era uma pequena loja que sempre tinha estado fechada. Quem seria o proprietário? Quando teria aberto? Voltando á realidade o rapaz atravessou a estrada e entrou na mercearia. Detergente. Ainda tinha montes de coisas para preparar e já tinha perdido imenso tempo.