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Jorge estava sentado. Os olhos fechados e a mente distante. Quando é que voltaria a pôr os pés nesta terra? - pensava, ainda sentindo um aperto no coração.

"Tens a certeza de que não te esqueces-te de nada?". A pergunta veio de repente, obrigando Jorge a despertar do seu sonho diurno. "Se eu tivesse me esquecido de alguma coisa, nem terias deixado-me sair de casa" - ele respondeu, abrindo os olhos e voltando a cabeça para a mulher que estava sentada ao seu lado.

Francisca era uma mulher jovem, nos seus vinte e poucos. Tinha uns olhos castanhos-claro. O olhar, penetrante.

Não era todos os dias que Jorge via a sua irmã mais velha assim, toda arrumada. Ela parecia feliz - ele pensava - apesar de toda a preocupação e o cansaço, embora sutil, que ainda marcava a sua face.

Francisca sorriu. "Tens razão" - respondeu, depois de uma pausa - "Acho que herdei esta maneira de ser da mãe". Ela gentilmente aproximou-se do irmão e pôs-lhe uma mão sob o ombro. "Sabes... tenho a certeza de que ela estaria orgulhosa de ti hoje".

Pela primeira vez desde que haviam chegado, Jorge parou para reparar nas pessoas que andavam de um lado para para o outro, agitadas. Ele nunca tinha pisado num aeroporto antes, tampouco viajado de avião. O clima no Aeroporto Internacional Nelson Mandela ainda era um ambiente novo.

"Acho que ela estaria mais orgulhosa é de ti, mana". Jorge fixava os olhos da irmã. "Eu não estaria aqui hoje se não fosse por ti".

Francisca sorriu, beijou o irmão na testa e depois levantou-se. "Vou ver se compro algo gelado para beber. Queres alguma coisa?" - perguntou.

"Não, obrigado " - Jorge respondeu, sorrindo para Francisca - "Ainda estou a tentar digerir aquele prato de katxupa com ovos fritos que preparaste para mim no pequeno almoço".

Agora, sentado sozinho, Jorge não conseguia parar de ver para o relógio de pulso. Faltava menos de duas horas para que ele estivesse dentro de um avião, rumo à uma terra longe. Longe de sua casa, longe de Cabo Verde.

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