Incondicional
Rodrigo Rosas Campos
Chegou do trabalho excitado.
- Querida, você nem imagina, nem eu mesmo esperava!
- O que?
- Eles vão me mandar para a matriz nos Estados Unidos, por quatro anos! Não é o
máximo?
Ela ficou em silêncio, sua cara, aos poucos, fechou-se. Ele, sem entender nada,
perguntou.
- Querida, o que foi? Ninguém morreu não. Vão me mandar para os Estados
Unidos.
- E eu?
- Ora! Você vem comigo!
- Não posso! E minha família, meu trabalho?
- Ué? Então você fica.
- Você me deixaria aqui sozinha?
- Não. Você tem sua família, seu trabalho...
- Não seja cínico, Plínio!!!
- Querida, são só quatro anos e é a chance da minha vida!
- Quatro anos, só? Você me esperaria por este tempo todo?
- Claro! Nós noivamos por muito mais tempo e...
- Estávamos aqui mesmo, em nossa cidade, Plínio, podíamos nos ver e nos falar a
qualquer hora, você quer ir para outro país por quatro anos!
- Tá, e se fosse a sua carreira? A sua empresa te mandando para uma matriz no
estrangeiro? Você é louca para conhecer Paris, e é claro que eu te esperaria. Que eu
entenderia, te respeitaria, comemoraria seu sucesso com você. Ou você acha que eu sou
como o babaca do teu irmão que largou a Débora por ela ganhar mais que ele? Lembra que
até você ficou contra ele pela primeira vez na vida?
- Débora não foi para o exterior! Eu nunca moraria no exterior, eu quero conhecer
Paris, não morar lá. Você sabe muito bem disso. Gosto do meu país e...
- A não! Ativismos de adolescente cara pintada na nossa idade, não! Tudo menos
essa criancice Você quer ficar? Fica. Teremos as férias, feriados, internet, celular, telefone
e o escambau. Até correios, se você quiser mandar cartas, mas criancice adolescente não!
- Migalhas, Plínio, migalhas! Nos casamos para ficarmos juntos.
- Sim, serão só quatro anos e depois o resto de nossas vidas.
- Mas Plínio, os estrangeiros seremos nós e eles são frios com os estrangeiros.
- Vou a trabalho, não para uma colônia de férias. Vou por uma grande firma,
trabalhar na minha área, não para ser um sub empregado. Sabe quantas pessoas matariam
por isso?