Numa pequena congregação da Assembleia de Deus, situada em um bairro da periferia de Nova Iguaçu, estava acontecendo um culto especial, em que um ex-presidiário daria seu testemunho. Talvez coincidentemente, também estava presente o jovem Luiz, o Homem Justiça, que acabava de efetuar um salvamento naquela comunidade e aproveitou o ensejo para assistir àquele culto, o qual era dirigido pelo diácono Euripedes.
EURÍPEDES: Muito bem, meus irmãos... Agora vamos louvar a Deus com o coral Vozes Adoradoras, que está com a palavra...
Ao término da apresentação do coral mencionado, Eurípedes passou a palavra ao homem que daria o seu incrível testemunho. Um jovem o acompanhou até o microfone, onde estava o diácono. O ex-prisioneiro era alto, muito forte e possuía tez escura levemente acinzentada.
Eurípedes, por sua vez, fez as devidas apresentações e, finalmente, lhe passou a palavra. O ex-prisioneiro ficou sozinho em cima do púlpito. Um certo nervosismo perparsava-lhe a mente, o que refletido no pequeno tremor de suas mãos que seguravam o microfone. Era um misto de alegria, temor, timidez e honra.
EX-PRESIDIÁRIO: Boa noite, irmãos... gostaria de saudá-los com a paz de nosso senhor Jesus Cristo... amém?
TODOS: Amém!
EX-PRESIDIÁRIO: Para quem não me conhece, eu sou Alexandro da Rocha Silva Filho. Sou um ex-prisioneiro do presídio Bangu 3. Antes de iniciar, gostaria de apresentar minha mulher e filho... fiquem de pé...
Ao dizê-lo, Alexandro, aquele ex-prisioneiro, apontou para seus familiares, os quais ficaram de pé e menearam a cabeça em cumprimento aos demais irmãos. O filho de Alexandro usava um óculos bem fundo de garrafa, embora fosse de tenra idade. Assentaram-se. Alexandro continuou sua fala.
ALEXANDRO: Muito bem... Hoje vou dar um testemunho sobre o que esse Deus fez por mim... mas vou começar do início... - estava um pouco tenso. Continuou...
Eu nasci aqui mesmo em Nova Iguaçu. Minha família... a gente morávamos na favela do Alto Monte. Cresci em meio a criminalidade. Vi, uma vez, meu pai ser morto na minha frente com uma bala perdida... foi muito triste...foi um choque para minha mãe... pra mim.... eu era muito novo... tinha três anos.... minha mãe então, nos criou com muito sacrifício e me ensinou, do jeito dela, valores guardo até hoje comigo... ao falar sobre sua mãe, escorreu-lhe uma lágrima a qual, solidificou-se e transformou-se em metal, caindo sobre o púlpito de madeira, fazendo um ruído característico - ...bom... os irmãos me desculpem... então.... apesar de toda aquela criminalidade a nossa volta, não me desviei do que minha mãe me ensinava. Às vezes ela e eu fazíamos doces e salgadinhos pra vender nas ruas do Centro do Rio. Tinha vez que os guarda aparecia e era um terror: eles espancavam todo mundo.... nois arrumava as coisas rápido e saía correndo. Vi muita gente ser espancada por eles... Minha mãe se dizia católica, mas não praticava nada, na verdade... fumava e bebia a rodo... mas conseguiu me criar... Aos dezoito anos me alistei no Exército...Alguns anos anos atrás, na favela do Alto Monte, em Nova Iguaçu...
ALEXANDRO: Mãe! Mãe! gritava cheio de felicidade, quase que arrombando a porta de sua casa.
LICÉIA: Que foi meu filho? Que que te mordeu, moleque?
ALEXANDRO: Consegui... me alistei no Exército!
LICÉIA: Ah! Meus parabéns, meu filho! Que bença! atirou seu corpo pesado sobre seu filho e o abraçou tão forte que quase lhe quebrou os ossos. Nessa época, Alexandro era magérrimo Vem cá, e quando tu começa lá na Vila Militar?
ALEXANDRO: Ano que vém! Caramba! Aí, vo tirar maior onda, tah sabendo?
LICÉIA: Já contou pra teu pessoal?
ALEXANDRO: Ainda não contei nada para Rose não.... Rose era sua namorada - ...ela vai bolar quando contar pra ela!Qual não foi a felicidade, meus irmãos, que minha mãe ficou quando falei pra ela sobre minha conquista. Minha namorada Rose também gostou muito...
Alexandro correu pelas ruelas do Alto Monte até a casa de Rose, sua namorada. Ao chegar lá, bateu desesperadamente contra a porta da casa dela. Ela o atendeu assustada, mas feliz por rever seu amor:
ROSE: Alex! Que bom te ver, meu amor! O que houve?!
ALEXANDRO: Mozin, vem cá! agarrou-lhe e deu-lhe um beijo Tu não sabe o que me aconteceu hoje!
ROSE: Não... nem imagino... vem entra aqui...
ALEXANDRO: Bora lá!
Alexandro e Rose entraram e sentaram-se no sofá da sala dela, onde ele lhe contou tudo.
ROSE: Caramba! Meu amor! Meu futuro soldadinho!!!
ALEXANDRO: Caramba, Mozin, tô muito feliz!
ROSE: Ah... eh... então vem cá... estou sozinha em casa...
ALEXANDRO: Ih! Vou ficar mais feliz ainda...