Alice Mare

Murmúrios

O entardecer ocupava o céu lá fora. Raios de sol adentravam pelas janelas do hall, banhando-o com a iluminação do final de mais outro dia. Allen tocou a superfície quente da porta, sentindo seus dedos familiarizarem com o calor transposto para dentro. A rua, agora, trazia com ela algumas pessoas que passam despercebidas umas com as outras, nem mesmo pareciam estar... Vivas. Talvez Estella tivesse razão, mas as pessoas lá fora, aquelas sim eram mais mortas do que todas as outras.

O loiro balançou a cabeça e subiu as escadas para o segundo andar. "Biblioteca", a placa indicava ao lado de duas grandes portas escuras, existia outra porta sem placa alguma, provavelmente ainda não havia nada ali. Allen aproximou-se das portas centrais e segurou as maçanetas, girando-as e empurrando as portas para frente. Seus olhos brilhavam de esperança.

A blibioteca era imensa. Livros de variadas cores distribuiam-se pelas prateleiras, enchendo-as completamente, não deixando nem espaço para outros livros, se é que existiam outros. Num canto, perto de dois balcões de estudos, a impressão da "área de lazer" havia sido dada: um tapete felpudo e grande cobria boa parte do chão, juntamente de uma mesa e sua vela pela metade, e um banco marrom de dois assentos almofadados estava ali também. Allen se aproximou das estantes e puxou livros de cada uma, folheando os livros e enchendo suas narinas com pó e cheiro de mofo. Grande combinação.

A primeira estante trazia livros espessos e precisamente difíceis nas palavras, contando sobre doenças e suas causas.

A segunda estante trazia livros de histórias, desde reis e rainhas a fadas e animais falantes.

A terceira e a quarta estante tomavam a maior parte do pó com livros de enciclopédia, com mapas e pinturas de pessoas, anos atrás, eram famosas por mudarem o mundo de maneiras diferentes.

A quinta era a mistura das outras com obras que não se encaixaram nas classificações anteriores. Naquele leve momento, Allen sentiu a sua mente igual aquela prateleira: confusa, bagunçada e desorganizada, com memórias sem nexo e outras apagadas misteriosamente. O loiro abriu seu caderno dado pelo Professor e franziu o cenho, pensando se aquela poderia ser a boa hora para despejar seus sentimentos ali para fechar e nunca mais abrir...

Allen esgueirou-se para fora da Biblioteca e desceu as escadas, voltando para o hall novamente. Ele foi para o corredor, bateu na porta como havia feito com as outras crianças e entrou.

"Você se apresentou?" Os olhos escuros do Professor demonstravam estar orgulhosos pelo feito, embora seus lábios nem mesmo pareciam tentar esboçar algum sorriso. "Como foi?". Allen murmurou sobre as crianças serem silenciosas e misteriosas, tendo conversas lentas e longas. "Entendo." Professor o examinou com cuidado e levantou-se, pousando suas mãos sobre os ombros do loiro. "Fico feliz que tenha conseguido criar conversas com eles. Isso rendeu tempo o bastante para que o jantar ficasse pronto!"

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Chelsy fora a primeira a chegar. Ela sentou-se na terceira cadeira da mesa e encarou o prato vazio na maior parte das vezes, almejando ficar silenciosa desde o começo, como se falar a faria despedaçar-se por completo.

Joshua entrou na sala de jantar deslizando pelo chão, perdendo o equilíbrio por pouco. Ofegante, ele esboçou um sorriso torto para o Professor, que parecia estar distante no momento. O albino sentou-se na segunda cadeira, bem ao lado de Chelsy.

Stella parou na porta e moveu seus olhos profundos de escuridão pelo cômodo, dando a impressão de ser a primeira vez dela naquele lugar. Ela suspirou e voltou para a realidade, dirigindo-se para a segunda cadeira do outro lado da mesa. Seu rosto cheio de inspiração voltou, desta vez, sombrio e misterioso.