Eu tenho um armário cheio de álbuns de fotos com todos os meus aniversários e com todos os aniversários que eu mesma organizei ao longo dos meus dezesseis anos. E agora eu tenho a maior festa de aniversário do mundo nas minhas mãos: a comemoração de um ano de vida de Juno Violet Scott, minha irmã.
Eu acho que comemorar o dia do seu nascimento é importante. A maioria das pessoas odeia. Mas todas as pessoas do mundo não sabem o dia de sua morte. Há aquela premissa de que passamos pela data marcada para morrer por todos os anos sem nem mesmo se dar conta. Então, tudo o que temos é a data em que nascemos. E, na minha filosofia, precisamos comemorar a cada ano, caso o contrário será como se você tivesse desistido e estivesse apenas esperando a data secreta de sua morte chegar.
Por isso, desde que consegui planejar meus próprios aniversários, aos cinco anos, comecei a planejar as festas de todas as pessoas que eu gostava. No começo, meu pai me ajudava com todas, porque ele esteve muito presente na minha vida até eu entrar para a escola e ele ser chamado de novo para atuar pelas forças armadas. Então, depois, eu passei a fazer tudo completamente da minha cabeça.
Por isso eu tenho bastante experiência em transformar um dia quase comum no melhor dia da vida das pessoas que eu amo.
Com Juno não seria diferente. É o primeiro aniversário dela. Eu sei que ela não se lembrará de nada quando for mais velha, mas nós - papai, mamãe e eu, nos lembraremos. E teremos fotos para comprovar para minha irmã duas coisas. (1) Ela foi a melhor coisa que aconteceu no último ano conturbado de nossas vidas e (2) aquela festa também marcava nossa partida de Londres e nossa volta para casa.
Um ano longe de Saint City e eu não consigo imaginar como será voltar. É como se todo o mundo que eu deixei para trás só existisse dentro de um globo de neve que fica ao lado da minha cama naquele apartamento no Reino Unido, onde eu às vezes balanço e vejo os flocos como as lembranças flutuando na minha cabeça.
Mas eu não quero pensar em como Saint City está agora. Há uma Saint City antes que eu não consigo arrancar de mim. Enquanto estou decorando a sala do nosso apartamento com o tema zoológico tudo que eu consigo pensar é em como os Scott chegou até ali. Quando Juno entra nos braços da minha mãe vestida como uma oncinha e o papai está atrás dele rugindo com uma peruca de leão e há pessoas da vizinhança londrina que eu mal sei quem são, tudo que consigo pensar é na sequência de eventos que nos levaram até aquele momento.
― Feliz aniversário de um ano, Juno! ― Grito no meio de todas as palmas.
Juno corre para os meus braços e gargalha. Mas tudo que eu consigo ver é o olhar agradecido da minha mãe e o sorriso incentivador do meu pai. Porque durante aquele ano foi o mais especial que eles conseguiram me dar para que eu seguisse em frente.
E eu estou seguindo.
Nós estamos seguindo de volta à Saint City.
Mas essa história não começa aqui.
Ela começa há mais de um anos atrás, quando nós ainda acreditávamos que podíamos proteger o mundo através do amor. Mas não conseguimos.
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