Conto I - "Nunca dê Carona a Estranhos"

232 22 28
                                    


         Quando Derek decidiu sair dirigindo de Nova York até Los Angeles, sabia que seria uma viagem longa e cansativa, só não pensava que seria tão longa e cansativa.

          Derek Corben tinha vinte e sete anos de idade e já era divorciado. Bem, ele nunca fora muito bom em relacionamentos duradouros, nem mesmo com seus pais, com os quais ele nunca teve um bom relacionamento. Saíra de casa assim que se tornou legalmente adulto e desde então nunca mais falara com eles. Deviam achar que ele estava morto. Melhor assim, pelo menos não enchiam o saco.

          Depois do exaustivo processo de separação no qual Rebecca, sua ex-esposa, ficara com praticamente tudo o que ele tinha, não lhe restou mais nada a fazer senão fazer suas malas e sair de cena.

          Pelo menos ele havia conseguido ficar com seu carro. Um Plymouth Fury vermelho, 1959, clássico, maravilhoso. Ele havia encontrado o carro todo detonado e enferrujado em um ferro velho na periferia da cidade e ele simplesmente teve que compra-lo. Derek havia restaurado o automóvel, devolvendo-lhe sua antiga glória e era hoje um dos seus bens mais preciosos.

          Derek vinha construindo essa ideia de sair dirigindo sem rumo pelo país quando ainda era casado. Claro que nessa época, esse plano incluía Rebecca, mas o relacionamento deles foi indo de mal á pior dia após dia, numa montanha russa que só fazia ir para baixo. Rebecca não parava de reclamar do apartamento mixuruca, do seu trabalho deprimente, da vida miserável, dos amigos incompetentes... enfim.

          Mas ele realmente tomara a decisão de dizer 'foda-se o mundo' e largar tudo para trás no dia que chegara em casa vindo do tribunal, da audiência de divórcio, onde teve que ouvir da boca do Juiz que Rebecca tinha direito de ficar com o apartamento, metade do dinheiro da poupança e mais uma série de coisas as quais aquela vaca tinha direito por terem ficado apenas três anos casados. Os piores três anos de sua vida, diga-se de passagem

          Lá sentado em seu sofá carcomido e com uma garrafa de whisky na mão, Derek imaginou vários cenários de como sua vida ia ser daqui para frente e a maioria deles terminavam com algum apresentador de telejornal de quinta categoria dizendo: "...E então ele virou a arma para si mesmo e atirou.". Mas então ele pensou: "Por que eu daria esse gostinho á ela?". Derek decidiu apenas pegar suas coisas, seu carro e sair de cena. Seria melhor para todo mundo.

          Sair por aí sem rumo, sozinho, era isso o que Derek precisava. No entanto, o problema de se viajar sozinho é exatamente esse: estar sozinho, sem ninguém para conversar, com apenas seus pensamentos por companhia durante as longas horas na estrada.

          Derek sabia que essa parte do país era meio deserta, em algum lugar entre Utah e o fim do mundo. Já fazia dois dias que ele não via nada além de pastos e plantações dos dois lados da estrada. Eram quatro horas da tarde, e Derek já estava dirigindo desde cedo, sem parar. Estava com fome, com vontade de fazer xixi e via no marcador de combustível que logo ele teria que parar para reabastecer seu Plymouth. Uma vez ou outra passava por uma dessas paradas de caminhões de beira de estrada, nas quais caminhoneiros e motoqueiros paravam para descansar até que recomeçassem sua viagem, e ele só esperava não estar muito longe de um desses estabelecimentos.

          Para se distrair um pouco, Derek ligou o rádio e foi mudando as estações até que encontrasse alguma que prestasse, e encontrou uma rádio de noticias.

          - E ai gente, é hora das "Noticias da Estrada"! uma voz com certo sotaque caipira disse animadamente. – Amigo motorista, se você está na estrada em direção á Dallas, a 10° Festa do Peão de San Afonso é amanhã á noite, não perca! Vai ter cerveja e churrasco do bom!

"Estrada para a Escuridão" - Contos AssustadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora