Estou sentada na cama,ofegante. Não consigo respirar. Espero desalmadamente que algo me tire desta ansiedade constante que enche os meus dias.
Só me consigo recordar de tudo e ,por fim, chorar mais uma vez. Faço isto tantas vezes enquanto aperto com toda a raiva contida em mim os lençóis da minha cama agora feita apenas de um colchão velho.
A minha vida não tem rumo e eu sinto que morro a cada dia que passa. A droga estraga-me e eu não dou um caralho para sair desta vida. Perdi tudo. Perdi as minhas amigas, já elas no segundo ano do ensino superior e eu aqui, uma drogada sem objectivos. Uma miúda de dezoito anos com sonhos destruídos.
Já deveria saber que nem a minha família continuaria do meu lado quando fui presa três meses por vender droga no portinho da Arrábida. A última vez que os vi foi á dois meses quando fiquei internada por levar uma facada de uma reclusa. Agora, procurada pela policia por trafico de droga e homicidio desespero por um pingo de coragem que me tire a vida. Mas, não consigo. Matar-me significaria a vitória do inimigo e, eu sou demasiado orgulhosa e cobarde para o fazer.
Lembro-me quando o desconhecido me agarrou. Eu fiquei tão confusa que nem luta lhe dei. Mais valia ter tirado a navalha que continha o meu bolso direito e matá-lo ali. Mas, nunca fez parte dos meus planos ser uma assassina como agora sou. Como também não estava nos meus planos ser violada aos quinze anos de idade. Eu corri, cheia de lágrimas por aquela praia algarvia e senti-me estupidamente livre por não ter dois rapazes mais velhos a agarrar-me e a tirar-me a roupa contra a minha própria vontade.
Enquanto pequena, a minha mãe dizia que quando chegasse a hora certa e eu encontrasse um rapaz que gostasse realmente poderia aí entregar-me a cem porcento. Ouvia as minhas amigas a falar da primeira vez delas como se tivesse sido a melhor experiência das suas vidas. Também ouvi uns boatos sobre mim não muito bons e irrealistas e saí da escola a meio do décimo primeiro ano.
Como é que se explica a tanta gente que por mais que eu estivesse com a minha primeira bebedeira em cima e de vestido por cima do joelho que não era motivo para me fazerem aquela crueldade?
Eu tento. Entre um charro e outro eu
tento esquecer-me de tudo.
