Aquele era seu lugar favorito em todo o parque, ficava no ponto mais alto. Lá de cima era possível avistar o caminho de pedregulhos que começava na entrada e levava para todos os locais mais procurados, em frente a onde estava sentada se encontrava uma bifurcação, quem escolhesse o caminho mais a esquerda seguia em direção as quadras, o caminho do meio levava ao playground e o da direita ao espaço reservado para cães.
Era o local perfeito para olhar o movimento, as pessoas seguiam com suas vidas sem perceberem que eram analisadas. O parque era um local curioso, em uma manhã de domingo podia-se ver muitos tipos diferentes de pessoas.
Os primeiros a chegarem eram os "devotos", como ela os apelidara, aquelas pessoas que fazem exercícios físicos sempre, não importa o tempo ou se é alguma data comemorativa, eles sempre estarão lá presentes com seus uniformes - roupas de ginásticas, tênis, bonés, fones de ouvido - e passos rápidos. Algumas horas depois, quando as pessoas normais já tomaram o café, começam a chegar os "pais", trazendo suas crianças barulhentas e felizes, correndo atrás de picolés, bolas de vôlei e triciclos. Junto com eles os cachorros se faziam presentes, vinham de todas as raças, grandes, pequenos, bravos, rabos enrolados, esticados, balançantes e preocupados, quase sempre traziam arrastado um humano esbaforido. Mais para o meio do dia era a hora dos grupinhos de jovens com seus skates, gargalhadas e sons característicos.
Todos eram estudados e analisados, quando algo lhe chamava muita atenção era logo desenhado em seu caderno de estudos, as vezes era um par de olhos, as vezes um cabelo diferente, uma risada mais gostosa que as outras...
Estava com a cabeça baixa, desenhando uma saia particularmente exótica que passara a pouco tempo quando na frente do seu caderno apareceu uma bolinha de tênis seguida de uma fuça canina preta meio aberta deixando uma língua rosa cair pela lateral, levantou os olhos e viu um vira lata de porte médio todo preto e com ar sapeca sentado a sua frente esperando que ela jogasse a bolinha. Olhou ao redor para procurar o dono daquele cachorro serelepe, mas não conseguiu identificar um, sem muita certeza, jogou a bolinha morro abaixo e foi agraciada com a visão do canino correndo atrás dela, balançando o rabo molenga, mostrando toda a sua alegria, deu uma risada e voltou a desenhar.
Tinha terminado de desenhar a saia e estava começando a desenhar uma bola de tênis, quando o cachorro voltou, dessa vez além da bolinha tinha um papel preso em sua coleira. Pegou o papel, abriu e ficou um tempo analisando o seu conteúdo.
Estava segurando uma foto sua sentada naquele mesmo lugar, pelo vestido longo de alças finas de estampa floral reconheceu ser de dois domingos atrás. O sol estava se pondo atrás dela, de forma que seus cabelos ruivos emanavam uma luz acobreada, estava olhando para o caderno e seus óculos arredondados tinham escorregado um pouco em seu nariz arrebitado, o lápis estava pousado em seus lábios finos que formavam um pequeno sorriso. Atrás da foto vinha uma legenda:
"Garota desenhista".
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Garota Desenhista
Historia CortaOlá! Sou nova por aqui e esse é um dos primeiros contos que vou compartilhar com vocês... Não chega bem a ser um conto, está mais para um mini conto ou só uma espiada na vida de alguém. Leia e veja se você também consegue se identificar! Por favor...