O balanço vermelho e enferrujado já foi o meu brinquedo favorito. A caixa-registradora da mercearia de meu pai já me pareceu ser um objeto mágico. O balanço guinchava, a caixa-registradora tinha um botão que fazia abrir e fechar uma gaveta com cédulas e moedas. Meu pai trabalhava muito e era mandão e rabugento, queria que eu o ajudasse nas vendas da mercearia. O balanço vermelho, mesmo enferrujado me divertia, sempre guinchava de alegria, quando eu me aventurava com ele nas alturas. Eu desobedecia meu pai, não o ajudava com as vendas, preferia ficar brincando com o balanço. Um dia, quando voltava eu para casa, a polícia tomava conta da rua. Meu pai havia sido assassinado, ouvia todos os curiosos falarem em latrocínio. Os policiais não queriam me deixar entrar na mercearia, mas consegui. A cena que eu vi me assombra até hoje. Meu pai caído ao chão; ao redor, uma poça de sangue, a caixa-registradora aberta, vazia, sem cédulas e sem moedas. O sangue era vermelho, como o balanço, e minha vida, naquele momento, havia se tornado vazia, como a caixa-registradora.
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Balanço Vermelho
Short StoryUm breve relato de memória do cotidiano que marcaram para sempre uma vida.