Fic 6 de 17 do desafio do Facebook
Eu não havia feito essa escolha racionalmente, nunca a faria se tivesse realmente pensado sobre o que ela implicaria, mas a voz do meu pai gritando comigo, minha mãe chorando enquanto silenciosamente me culpava ainda que eu não possuísse culpa alguma e a carta com o anúncio da morte da minha irmã aberta em minhas mãos tomaram a decisão por mim.
Hinata, minha irmã mais velha, sempre foi tímida, introvertida e alegre, era um espírito delicado e meigo, gentil, dos poucos que encontramos hoje em dia. Diferente de mim, ela nunca teve voz para expressar suas vontades, nunca tomou partido em assuntos que não lhe cabiam por acreditar que sua opinião não podia fazer a diferença, mas ela sempre foi única, especial e amada, muito amada por mim. Era estabanada nos esportes, notas sempre altas, com boas maneiras e educada.
Desde sempre, éramos unidas, os dois anos de diferença entre nós não conseguiram nos afastar, e crescemos como iguais. Pelo menos, assim nós duas pensávamos. Meus pais não... eles nos viam e tratavam com nítida diferença, preferindo obviamente aquela que se destacava, a que traria orgulho à família. E essa, por algum motivo absurdo, não era ela.
Odiava isso, discutia toda vez com eles por ela até que percebi que isso só tornava tudo pior. Quando decidi pela faculdade de psicologia e ela por engenharia aeronáutica, as diferenças ficaram mais gritantes e a convivência em casa, impossível. Eu sabia que ela não havia escolhido aquele curso por vontade própria, era apenas mais uma maneira de tentar agradar nossos pais, mas nem isso funcionou.
Nós duas nos juntamos para alugar um apartamento minúsculo no centro da cidade, próximo à minha faculdade. Meu pai gritou tanto... Foi engraçado, devo admitir, achamos que a veia da testa dele iria explodir! Mas não me abale, segurei a mão dela quando pensou em abaixar a cabeça e desistir, mantive-me firme por nós duas e respondi a cada insulto que meu pai disparava. No fim, ficamos com o apartamento, nos revezando em trabalhos pequenos e com péssimos salários, mas que, juntos, pagavam nossas contas.
Certo dia, a guerra começou. Assim, sem aviso para aqueles que nunca acompanham as notícias sobre economia e relações diplomáticas. Contudo, não para ela. Hinata estava na aeronáutica, no último ano, e as notícias sobre a provável guerra já eram debatidas em sua classe desde o começo. No dia em que foi anunciado no jornal que haveria sim uma convocação compulsória da população alistada em dois dias, Hinata chegou mais tarde em casa. Eu estava sentada no chão da sala, com meus livros espalhados no chão enquanto nosso pequeno gato dormia sobre meus papéis. A janta de minha irmã estava fria àquele horário, então, levantei-me para colocá-la no micro-ondas enquanto ela tomava banho, como sempre acontecia quando chegava tarde.
Entretanto, não naquele dia. Ela não foi ao quarto, em vez disso, sentou-se na mesa gasta e bamba da cozinha e ficou me observando enquanto o prato girava dentro do micro-ondas.
— Está com fome? — perguntei, preocupada.
— Hanabi, seu aniversário é depois de amanhã, né? — ela perguntou e sorriu de leve, apoiando a mão no queixo de forma displicente.
— Sim, por quê?
— Nós vamos sair! — ela falou animada. — Vamos comemorar!
— Não acho que tenhamos dinheiro para isso. — Ri ao colocar o prato na frente dela e acariciei os cabelos bagunçados que ela tanto insistia em prender em um rabo de cavalo horrível. Beijei-lhe o topo da cabeça e coloquei os talheres sobre a mesa. — Não precisamos comemorar, podemos ficar em casa e assistir um filme.
— Nem pensar — ela respondeu, indignada. — Nós duas vamos sair, comprar algo bonito para você e comemorar! Sem discussão, Nabi.
Revirei os olhos e me sentei à mesa com ela, assistindo-a comer enquanto conversávamos sobre banalidades. Ela foi dormir assim que terminou a refeição e, antes de entrar no quarto, voltou até a sala, cabisbaixa, e sentou-se ao meu lado.
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Somente por ela...
FanfictionEla nunca saberia o quanto aquilo me feriu, o quanto chorei em vão ainda esperando que aquele celular tocasse uma vez mais, mas eu esperava que, onde quer que estivesse, ela soubesse que eu estava ali, zelando por aquele que ela tanto amava, garanti...