Noite de Lua Cheia

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Noite de lua cheia. No céu apenas o brilho amarelado da lua podia ser visto. Uma neblina densa vindo da floresta de pinus invadia a varanda do casebre de madeira.

Através da pequena vidraça podia ser visto as toras de madeiras a queimar e também uma garota adormecida no sofá, coberta por uma manta azul.

Uma brisa gelada passou pelas frestas de madeira, a manta não foi suficiente para conter o calor e o corpo da garota arrepiou. Remexeu-se e puxou o tecido protetor por cima das orelhas e então...

Um uivo alto ecoou naquela madrugada densa. O barulho acordaria a garota. Os olhos arregalados buscando um sinal de onde veio aquele barulho. Olhou ao seu redor, apenas o balançar das chamas da lareira e nada mais.

Mudou de posição tentando voltar para o reino dos sonhos. Estava tendo um sonho bom. Finalmente ganharia o beijo do seu crush. Fechou os olhos. O sonho não voltou. Abriu-os novamente e bufou frustrada. Teria que esperar por outra noite e quem sabe nessa nada estragaria o sonho tão esperado e desejado.

Afastou a manta com os pés e sentou na beirada do sofá. De onde estava conseguia ver um pedaço da lua. Imponente. Grande. Redonda.

Mostrou a língua para mesma e caminhou até a cozinha. Pegou o bule e encheu de água colocando sobre as chamas azuis do fogão. Aproveitou esse tempo de espera da água e resolveu checar seu whatsap.

Sem sinal. Bufou mais alto. Resolveu tirar um selfie. Ajeitou os cabelos. Fez algumas poses. O flash foi acionado e disparado. E nesse mesmo instante... plof!

Celular foi ao chão pelo susto que levaria da água da chaleira apitando, porém a garota poderia jurar que havia também outra coisa.

— Casa sinistra — praguejou ao mesmo tempo em que retirava a chaleira e desligava o fogão.

Colocou a água fervendo dentro da xícara com o saquinho de chá e novamente um barulho esquisito a faria ficar alerta.

Algo entre um ranger e arranhar da madeira não conseguiu identificar. Seu corpo todo ficou alerta. Definitivamente não estava mais sozinha.

— Ratos? Ótimo era o que faltava, ter ratos aqui!

O que seguiria a partir dali foi tudo muito rápido.

Voltou para sala com a xícara quente em uma mão e o celular recém-resgatado do chão na outra. E assim que olhou o visor a xícara e todo o seu conteúdo foram ao chão.

Desesperada saiu correndo tropeçando nos móveis. Se atrapalhou com as chaves que caíram ao chão. Suas mãos tremiam como se fossem congelar. A chave mal entrava na fechadura. Um giro. Dois giros. Apenas no terceiro que a porta a libertou e som que antes vinha apenas como um incômodo agora parecia que estavam dentro do seu ouvido.

Sair da casa será que foi a melhor opção para a moça?

Correu sem olhar para trás até o carro. Combinação chave e mãos trêmulas não dão certo.

As chaves tornam a encontrar o chão. Um chão de terra batida com alguns pedregulhos combinado com uma iluminação praticamente inexistente e ali no breu iniciou uma busca frenética atrás daquele objeto de metal.

Concentrada no que possibilitaria sua salvação, não percebeu um vulto negro que passou diante do carro. Apenas sentiu aquela sensação que ia dar merda se ficasse ali.

Chaves encontradas. Carro aberto. Porta fechada. Suor escorrendo pela têmpora. Tremor no corpo inteiro. Escuridão lhe abraçando e lhe sufocando.

— Pega infeliz! — a garota gritou.

Não adiantaria o carro não sairia do lugar. Sem alternativa, deixou o veículo e colocou-se a correr por aquela névoa. Não via um palmo diante do nariz. Mas sabia que não estava sozinha.

—Por favor! Me deixe em paz!

Olhava para todos os lados, gritava para o nada. Nada? Tem certeza disso?

Suava frio. O medo a consumia. O Chão molhado a fez escorregar nas folhas que se desprenderam das árvores durante o dia. Levantou e antes não tivesse feito.

Seu corpo mal tinha ficado na posição ereta e as garras da criatura peluda de olhos vermelhos atravessaram seu dorso. Antes de cair ainda pôde ver as suas vísceras sendo arrancadas e novamente aquele uivo ensurdecedor...

— E corta! Entenderam todos como que quero que seja essa cena? É pedir demais? Creio que não! 

Noite de Lua CheiaOnde histórias criam vida. Descubra agora