A tribo da Ravina do Lobo, uma das várias que compunham a nação Sioux, vivia em paz, caçando e cultivando. Seu chefe o cacique Flecha Ligeira sentia-se feliz com o bem-estar de seu povo e com a generosidade que a mãe terra lhes abençoava diariamente. Porém, seu maior orgulho era sua filha, Raio de Sol, uma jovem cuja beleza não podia ser descrita com palavras, já que todas elas seriam insuficientes para enaltecer todos os detalhes que a mãe terra havia lhe concedido com extrema benevolência.
Flecha Ligeira regozijava-se, todos os dias, pelo lindo presente que lhe fora ofertado por sua esposa ao conceber aquela linda criatura, cheia de vida, de amor e capaz de encontrar felicidade nas pequenas coisas do cotidiano, bem como colaborar, sempre que possível, para que seus amigos e irmãos pudessem sentir a maravilha que a vida representava.
Certa noite, Flecha Ligeira sentiu-se perturbado com alguma coisa que atormentava seu coração; incapaz de pegar no sono, ele deixou a companhia de sua esposa, Noite Enluarada, que dormia profundamente, e saiu da sua tenda, caminhando a esmo no entorno da aldeia. Sem perceber, o chefe enveredou-se por uma pequena floresta de árvores altas mais ao norte da aldeia, caminhando como que seguindo um chamado.
Em uma pequena clareira no centro da floresta ele viu algo brilhar intensamente; era um brilho prateado que começara minúsculo e que, pouco a pouco, crescia em tamanho e luminescência; impelido por uma força que ele não conseguia compreender, Flecha Ligeira seguiu em direção à origem do brilho, e quando lá chegou, ficou em transe ao ver que o brilho emanava de uma fonte etérea.
E ante os olhos incrédulos do chefe indígena, a fonte desconhecida começou a tomar forma, contorcendo-se e brilhando, aumentando de tamanho e ganhando um contorno cada vez mais nítido; logo, os olhos do chefe ficaram esbugalhados com o resultado final da transformação, pois, perante ele, estava uma enorme loba de pelagem cintilante, cujo olhar era de um azul cristalino.
Incapaz de esboçar qualquer reação, Flecha Ligeira quedou-se inerte, enquanto os olhos da loba encaravam os seus. Não havia palavra, não havia som, apenas o olhar que parecia falar por si.
"Um grande mal se aproxima de sua aldeia, Flecha Ligeira ..., e você deve estar preparado para enfrentá-lo com coragem, dignidade e fé"; a voz da loba, suave e pausada, ecoava dentro da mente do chefe indígena. Flecha Ligeira não conseguia formular perguntas, até mesmo porque ele não sabia como fazê-lo. Por alguns instantes, o guerreiro ficou preso em sua perplexidade. E sem esperar por resposta, a loba prosseguiu: "Esse mal enfraquecerá sua fé e testará sua coragem, e mesmo diante de uma dor inevitável, você deverá agir como líder de seu povo, pois, se assim não o fizer, tudo perecerá e seu povo desaparecerá por completo".
"E o que posso fazer?", ousou perguntar o chefe, embora antes que proferisse tais palavras, elas foram ouvidas pela entidade presente sob a forma de uma loba. "Apenas mantenha-se firme e com fé, pois, o resto caberá a mãe terra e sua imensa benevolência". Novamente, o silêncio tomou seu lugar, enquanto o indígena e a entidade mantinham seus olhos fixos um no outro. E sem esperar por mais perguntas, a entidade tornou a brilhar intensamente num crescendo quase cegante, até que, assim como surgiu, também desapareceu.
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A LENDA: O GUARDIÃO DAS BOAS ALMAS
Short StoryUm conto acerca da profundidade das palavras simples e sinceras de um homem rude.