Depois de descer do ônibus no ponto final, caminhei até um dos bancos vagos e me sentei bem na ponta.
Assim que senti o banco gelado sob a fina calça jeans que vestia, "The Sense of Me" começou a tocar em meus fones de ouvido.
Fitei então as as grossas gotas de chuva que caiam onde a cobertura do terminal de ônibus não alcançava. Eu podia sentir tudo em dobro em meu corpo - do arrepio que o vento gélido me causava ao passar até o conforto das minhas meias dentro do meu All Star já envelhecido pelo tempo.
Cada sensação parecia ser interpretada pelo meu cérebro em dobro e sentida pelo meu corpo em triplo.A chuva começou a ser substituída por uma fina garoa. Ônibus chegavam e partiam e nada mais me chamava a atenção além da água que insistia em cair e escorrer pelo chão até as "bocas de lobo" que a colhia.
Apesar da chuva, o centro ainda permanecia bonito e iluminado como sempre fora, mas havia algo diferente, e eu tinha certeza que era algo em mim, tão internalizado que eu mal conseguia identificar.Continuei fitando a garoa enquanto o meu segundo ônibus não parava em meu ponto, mas assim que o fez, me levantei calmamente e caminhei até a porta. Assim que o motorista a abrir, ela desceu.
Foi outro momento em que, não só a música, mas tudo fazia com que meu corpo arrepiasse, incluindo o olhar da garota sobre o meu.