Entre Cães e Lobos

Capitulo 1 (parte 1)

 O cheiro de sangue estava no ar, eu tenho patas no lugar de pés e mãos, o ar gélido batia no pelo do meu rosto enquanto eu fugia, não sei do que e nem porque, mas estou desesperado e preciso fugir sinto que irei morrer se continuar aqui, olho para trás e vejo lobos atrás de mim, viro para o lado e quase bato em uma árvore, ouço uivos abafando o som das patas que batem no chão com violência.

- Encare a verdade, covarde.

 Um lobo me diz, acho errado que eu seja capaz de ouvir e entender, mas não questiono.

- Ele é só uma criança - as palavras saem da minha boca como se não fossem minhas - Vocês não entendem.

 Eu paro de correr e me viro para encarar o lobo, ele era enorme, seus pelos eram vermelhos e seu par de olhos negros pareciam buracos no escuro da floresta, ele também parou de correr e agora me encarava, outros dois lobos se aproximaram e me olharam com desdém.

- Você se apaixonou por uma humana - ele disse rosnando de raiva - Sua criança? Ela é uma abominação!

- O que ela vai ser? Se transformar em uma lua cheia e na outra não? Você acha que ele vai conseguir controlar sua transformação para uma luta?

 Um dos lobos que estavam atrás dele disse enquanto se movimentava em minha direção.

- Ele sera o Alpha - eu disse erguendo o pescoço - e sera um grande líder, assim como eu.

- Não me faça rir, sua alcateia já esta perdida - o lobo de vermelho disse virando o rosto de um lado para o outro, no que parecia uma tentativa de zombar de mim - você sem ser abominação não consegui manter ela de pé.

- Não chame ele assim.

 Eu gritei, no mesmo momento todos os três rosnaram e bateram as patas no chão fazendo areia voar para todos os lados,

- Desculpa, mas temos que separar... - ele pausou a fala e sorriu com um pequeno latido - os cães do lobos.

 Os três pularam na minha direção me atacando com os dentes e patas, me jogaram no chão e morderam meu pescoço com força, e de repente deparei com meu quarto e um assustado Warren jogado no chão me olhando com cara de preocupação.

- O que houve? - perguntei com a voz rouca.

- Você estava gritando... - ele se levantou e sentou no pé da cama - acho que estava tendo um pesadelo.

 Eu estava realmente soando, e me sentia aturdido por ter voltado para a vida real, as paredes brancas do meu quarto não combinavam com o azul da noite ou o verde escuro da floresta, onde eu acabara de estar.

- Christopher... - ele passou a mão no meu rosto - você esta queimando, acho melhor você ir tomar um banho para diminuir a temperatura do seu corpo.

 Eu consenti com a cabeça e levantei da cama, e fui até minha escrivaninha e abri a janela, andei como um morto até o guarda roupa e peguei um moletom vermelho e uma bermuda preta, eu costumo usar cores escuras ou pastéis para fazer qualquer coisa.

- Moletom nesse calor?

- Não existe calor para um moletom.

 Eu sorri para Warren e fechei a porta do quarto e me arrestei até o banheiro, liguei o chuveiro e verifiquei a temperatura da água, estava um morno ambiente, então peguei meu celular e pus Running With the Wolves da Aurora para tocar, achei que seria irônico.

 Sai do banho me sentindo reanimado, fui para cozinha e encontrei Warren fritando panquecas, ele estava ainda de pijamas.

- Pensei que você tinha morrido no banho, estava chamando os bombeiros - Ele disse rindo, amo esse sorriso.

- Me desculpa por ter te derrubado da cama.

- Sem problemas... você só me assustou um pouco pela forma que se contorcia e gemia.

 Achei estranho porque o sonho não tinha me dado tanto medo.

- Desculpa - disse curvando a cabeça como sinal de arrependimento.

- Como eu disse antes "sem problemas", mas com o que você estava sonhando?

- O mesmo sonho com lobos - eu já tive essa sonho uma vez a alguns meses atrás.

- Se você for um lobisomem posso montar em você? - ele colocou um prato com muitas panquecas em cima da mesa e começou a encher dois copos com suco de laranja.

- Eu aposto que seria o lobisomem mais bonito da matilha.

- Que namorado convencido esse que eu arrumei.

- Mas um docinho também.

 A mesa já estava montada, nós começamos a comer e quando terminamos eu fui até o quarto e comecei a me arrumar para a faculdade.

- Chris, estou indo pra casa.

- Te vejo no jantar?

- Se eu não vier você morre de fome.

 Ele bateu a porta do quarto e eu observei ele ir embora pela janela, quando ele sumiu de vista eu coloquei uma calça jeans preta e um tênis cinza e continuei com o meu moletom, peguei minha mochila e sai em direção ao ponto de ônibus e quando cheguei lá, só havia uma pessoa no ponto, ela estava sentada no banco de madeira que tinha um pequeno teto, ela cutucava o celular freneticamente e usava um capuz, ela olho para mim e seus olhos me pareceram familiar, ela tinha cabelos cinzas e um piercing que parecia uma pedrinha no nariz.

- Christopher?

- Tia?