Ratos de colarinho branco

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Queria saber o que as pessoas pensam quando me vêem, queria por um minuto ler seus pensamentos, vejo que me observam saindo de casa com minha Mercedes Preta, um jovem de classe média alta bem sucedido herdeiro de uma fortuna com um semblante frio e sem expressão, devem pensar o quanto sou mesquinho e cheio de frescuras, que ignoro o sofrimento alheio..Talvez seja verdade, estou muito ocupado sendo eu mesmo tentando manter de pé esse mundinho estúpido e sem graça em que vivo, sem meu Pai a vida não tem sentido e sem a minha mãe a vida não tem cor, o que eles pensam não me importa, não sou um homem completo e feliz,  sinceramente para mim isso não passa de uma palavra.

Sou tirado de meus pensamentos pela empregada batendo na porta me fazendo lembrar que tenho compromisso hoje, como se tivesse um dia se quer que eu me dedicasse a mim mesmo. Levantei um pouco sonolento e fui tomar uma ducha quente o que não durou mais de nove minutos, peguei minha camisa cinza, vesti minha calça jeans preta e um sapato social que havia ganhado de meu pai, meus cabelos negros já estavam precisando de um corte mas fazia questão de deixa-los grandes, passei os dedos sobre eles sem muita cerimônia e desci as escadas para tomar café.

Rita estava servindo a mesa, ela era uma mulher na faixa dos quarenta anos, sua face era de gentil aspecto e tinha cabelos grisalhos e uma pele suave, apesar de ser uma empregada eu a considerava parte da minha família.
-Bom dia Rita.
-Bom dia senhor Péricles, como acordou?
Peguei uma xícara com café.
-Como sempre.
-Não fale assim filho, cada dia é uma nova chance que Deus nos dá para viver.
Esqueci de mencionar que Rita era uma religiosa nata.
-Não sei. Suspirei -Meus pais mereciam essa chance você não acha?
Ela me olhou com piedade, eu não gostava daquilo, não gostava de estar vulnerável.
-Oh você está um rapaz tão bonito, uma mistura de Dr.Guilherme e Dona Sara, me lembro quando você usava fraldas e..
-Certo Rita eu já entendi.
Ela deu um sorriso bobo.
-Eu não consigo ver você como um homem, para mim ainda é um bebê.
Olhei para meu relógio de pulso teria que chegar na reunião uma hora com antecedência, levantei-me da mesa e agradeci a Rita, desci até a garagem, lá estava minha Mercedes me aguardando, nenhum homem resiste a uma máquina desse porte.

Dirigi durante 30 minutos até chegar no centro de Barueri, o trânsito não estava lento por isso cheguei mais rápido, estacionei em frente ao prédio de gestões financeiras, era o dia da reunião com os empresários aliados com a empresa de meu pai que agora era minha, havia recebido uma proposta de compra de algumas ações, mas sinceramente para que eu queria mais dinheiro nessa merda?
Adentrei o enorme prédio com a minha cara de sempre, todos me cumprimentava enquanto eu queria sair o mais rápido possível daquela prisão. A secretaria me levou até uma sala reservada e avisou a minha chegada ao Dr.Carlos Wickenberg, um dono de uma empresa de móveis de luxo, ele permitiu a minha entrada e logo me vi rodeado de homens engravatados e escravos do real.
-Olha só o nosso jovem prodígio.
Dr.Carlos falou com cortesia, sua careca brilhava da mesma maneira que seu olhar de ambição.
-Bom dia senhores.
Todos asentiram com a cabeça e logo nos sentamos, haviam três homens além de mim e Wickenberg.
-Meu jovem, quero que saiba que lamento muito a morte de seus país, Dr.Henrique era um homem muito inteligente e de um bom caráter.
-Sou muito grato pelas condolências Dr.Carlos mas não acredito que seja para isso que me chamou.
-Sim pois não , vamos falar de negócios.
Ele juntou alguns documentos em sua frente.-Você é um rapaz muito jovem mas acredito que possui inteligência o suficiente para entender a situação um pouco desagradável em que se encontra, andei analisando e percebi que a sua empresa de peças de automóveis não está prosperando como antes na presidência de Dr.Guilherme.
Respirei fundo sem demonstrar fragilidade.
-Creio que isso é só questão de tempo.
Afirmei.
-Não me parece que seja, com todo o respeito é claro.
-O que quer dizer, você propõe alguma solução?
Wickenberg gargalhou.
-Dr. Péricles você é do tipo que eu admiro, direto e vai logo ao assunto como seu pai..Pois bem esses cavalheiros a sua frente trabalham para o governo e queria propor um acordo com você.
-Desculpe mas é ciente de que meu pai nunca quis se aliar com políticos, de maneira nenhuma posso aceitar ir contra o proposito do Dr.Guilherme Materazzi.
Carlos levantou-se apoiando as mãos na mesa olhando fixamente para mim.
-Seu pai não deveria ter colocado a empresa na sua direção, você é um desastre nos negócios.
Meu sangue ferveu, aquele cretino estava testando a minha paciência, levantei-me não ia perder meu tempo com aquilo.
-Desculpe-me doutores mas terei que me retirar.
-Vai gastar seu dinheiro com prostitutas e irá a falência, não tem compromisso e nem a disposição de um bom empresário!
-Vá se ferrar Wickenberg eu conheço o seu tipo e meu pai me alertou sobre homens como você,  essa empresa agora é minha e nada vai mudar, o direcionamento dela será como fui  ensinado a fazer, passar bem meu caro!
Sai da sala batendo a porta, estava furioso e frustrado eu sabia o que eles queriam, tirar todas as ações de mim me deixando apenas com um lucro mediano logo que tá estampado na minha cara que não sou ambicioso, aqueles ratos não iriam  me enganar , terei que ficar atento de agora em diante, a empresa era a única coisa que havia como lembrança de meu pai e ninguém irá tirar isso de mim.

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