BRANCO [ONE-SHOT]

Capítulo Único

Branco sempre foi minha cor preferida. Dentre tantas nuances, tons, aspectos... tudo relacionando a cor branca sempre me remeteu a paz, tranquilidade, felicidade e pureza.

Omma sempre dizia que eu parecia ter apenas uma camisa, porque a maioria delas eram sempre da mesma cor.

Eu encarava o teto pálido completamente submerso nos meus pensamentos quando ouço o som da porta e viro-me imediatamente em atenção.

— Jung Hoseok? - a enfermeira se dirigiu a mim com um doce sorriso estampado em seu rosto, vestia roupas daquela cor que eu sempre amei.

— Sou eu, como ela está?! - perguntei aflito levantando-me subitamente da poltrona que acomodou meu corpo nos últimos dias.

— Ela está bem, vai ficar bem... em algumas horas poderá vê-la. - ela se curvou levemente e eu suspirei aliviado com a notícia de sua melhora.

Lembrei-me da primeira vez que sai com a mulher que me transformou no homem mais feliz do mundo.

Ela sorria o tempo todo, era engraçada e fez eu me apaixonar por ela instantaneamente. Fomos ao cinema... uma semana depois a um show... quatro dias depois jantamos juntos, e dali pra frente estivemos perto um do outro sempre que podíamos.

A loucura da minha vida nunca foi um problema pra ela. Perdi as contas das madrugadas que perdeu só pra conversar comigo por causa do fuso horário; das vezes em que ela discutiu com a família por dizer que não me deixaria apesar dos pesares.

E então minha memória me leva imediatamente para o dia em que a pedi em casamento. No meio de milhares de pessoas que gritavam meu nome e dos meus irmãos, os olhos dela brilhavam em admiração a cada conquista, por mínima que fosse. Aproveitei o momento e disse, finalmente:

Vocês têm perguntado se minha namorada me trata bem, cuida bem de mim... eu fico muito grato por saber que vocês se preocupam tanto comigo e torcem tanto pela minha felicidade.

Ela é sem dúvidas, muito mais do que eu mereço. Mas ainda assim, não sou capaz de deixá-la, mesmo sabendo que jamais serei nada perto do que ela deveria ter.

Por isso, antes que ela se de conta da loucura que está fazendo, quero me esforçar para ser alguém melhor por nós dois. Então aqui, entre essas milhares de pessoas, quero dizer que desde o dia em que a vi, brilho nenhum se compara ao dos seus olhos; som nenhum é mais agradável que o da sua voz dizendo que me ama; e lugar algum é melhor que o teu abraço. Quero ser a morada do seu coração. Você aceita se casar comigo?!

O público gritava eufórico, as fãs choravam emocionadas mas elas não sabem que isso é muito pouco perto do que me foi proporcionado.

Meses depois chegou o dia do casamento. Meu celular não aguentava o número de notificações que recebia. Meus irmãos a todo momento perto mim; minha irmã dizendo como minha noiva estava incrivelmente bonita; appa ajeitando minha gravata e a visão das portas do Kaikan* abrindo e revelando a imagem da mulher mais doce que já conheci.

Agora é impossível impedir que as lágrimas percorram meu rosto, afoitas, completamente encharcadas de memórias maravilhosas que ficariam no passado e de alguma forma, no presente e futuro.

Mais uma vez a porta se abre e a mesma enfermeira me encara, eu a olho apenas aguardando o que tem a me dizer.

— Senhor, ela está pronta. - levantei de pronto e segui a enfermeira até um quarto completamente vazio se não fosse o berço que encontrava-se no meio do cômodo.

A enfermeira disse que me deixaria alguns minutos sozinho com ela, e saiu. Olhei para dentro do berço e vi aquele corpinho rechonchudo; mãozinhas gordinhas, cabelos escuros e espessos, olhos pequeninos e os lábios idênticos ao de minha jagi.

Apanhei aquele bebê em meu colo e a encarei abismado com o poder de me fazer amá-la tanto.

— Sua omma adoraria me ver segurando você enquanto da esse sorrisinho. - falei com a voz embargada e a garganta estrangulada pelo nó que se formara.

Tempo depois do nosso casamento, estávamos viajando pela Tailândia e ela se sentiu enjoada depois de sentir o cheiro das especiarias no mercado central. Disse estar preocupada e quando fomos ao hospital, o sorriso do médico revelou que os enjoos se deram pela gravidez. A mulher da minha vida estava grávida. Naquele momento eu fui o homem mais sortudo do mundo.

Planejamos cautelosamente cada detalhe do quarto do nosso bebê e por ainda não sabermos o sexo, decidimos fazer tudo em branco. Aquele mesmo tom das camisas que gosto de usar; também do vestido que ela usou no nosso casamento; a cor do uniforme dos médicos e enfermeiras do hospital que estava; e até do lençol que envolvia o corpo da minha filha.

Semana passada, enquanto ela voltava sozinha de uma consulta, um motorista passou no farol vermelho e acertou seu carro em cheio. Eu estava em turnê.

Horas depois do acontecido, quando finalmente cheguei no hotel do show, peguei o celular para fazer uma vídeo chamada, mas tinha uma quantidade absurda de mensagens e ligações da minha omma.

Assim que retornei as ligações, entendi que algo ruim tinha acontecido quando ouvi o choro contido de omma seguido de um "precisamos que volte para Seoul".

Eu não estava perto dela; não tive a chance de segurar suas mãos quando ainda tinham o calor de seu corpo; não pude sussurrar em seu ouvido o quanto a amava e o quanto precisava que fosse forte. Quando cheguei, seu rosto estava tão pálido quanto minha cor preferida; as mãos frias provavam que já tinha partido.

Não esqueço da voz do médico dizendo: "conseguimos fazer o parto e sua filha está na UTI, não sabemos ao certo qual a possibilidade que terá de sobreviver". Eu juro que desejei minha morte naquele momento, porque não seria capaz de continuar vivendo sem elas.

E hoje estou segurando o único motivo que tenho para viver. E eu serei o melhor appa, e nunca deixarei que as memórias da mulher que tanto amei sejam brancas; ela será lembrada pela infinitude de cores que habitavam dentro de si.

*Kaikan: sede, clube, tempo budista onde realizam-se reuniões e cerimônias como de casamento e falecimento.