Crônica 1: Betty

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Era uma terça feira, a neve cobria as ruas, e um grosso casaco cobria minha pele. Creio q era dezembro, talvez janeiro... Não posso afirmar, isso foi há muito tempo e minha memória não é das melhores.
Bem, nesta fria terça-feira, eu vagava por algum lugar da europa, à espera. No rádio um americano cantava sobre as respostas que o vento soprava. Mas quando o vento começou a soprar a neve, e as estradas foram fechadas, eu parei e pedi abrigo. Tinha esperanças de que a hospitalidade britânica ainda fosse uma realidade, aliás, esperava que estivesse na Inglaterra.
Bati em uma porta, e rapidamente, não mais que um minuto, uma garota abriu a porta. Betty era seu nome, mas ela logo se apresentará. Betty tinha vinte e poucos, cabelos vermelhos e olhos negros. Se eu fosse capaz de amar teria caído em seus encantos ali mesmo, declarando amor eterno, mas, ao invés disto, eu disse:
"Olá, querida. Meu nome é Arthur... Como vê, a neve  bloqueou as ruas. Eu gostaria de abrigo, se possível, ou de uma indicação de alguma estalagem."
"Oi, arthur. Eu sou Betty, e você 'ta com sorte, nós temos quartos disponíveis. Por favor, siga-me." Eu a segui, mais por uma hipnose do que por vontade consciente.
A estalagem era bonita, e, certamente, inglesa. Tinha quatro andares, com dois quartos por andar, além de uma bela cozinha e uma enorme sala. Após me mostrar a estalagem, ela me conduziu à sala, onde me introduziu aos hóspedes.
Havia Peter, um jovem alto, magro e... Bem, por falta de melhor termo, maconheiro. Vito era um indiano, trinta e muitos, gente boa. Os dois donos, bem, três se contar o bebê, Marcus, Lucy e o pequeno Joffrey.
Todos conversavam felizes, eu me engajei em uma partida de poker com Peter, Vito e Lucy. Após levarmos uma surra da risonha moça, fomos jantar.
Essa é a hora que eu devo alerta-lo, caro leitor, de que esta é uma história de horror. E que eu, por escolha própria, participei. Assim como, da mesma forma, participei de várias outras. Algumas com finais felizes, outras não. Esta, com certeza, não.
Voltando ao jantar, um delicioso por sinal, mais uma qualidade para somar as, já muitas, qualidades de Betty. Ficamos conversando à mesa por horas, pois a energia  havia acabado, devido a nevasca. Falávamos de aventuras antigas e novas. Falávamos de casos de amor e ódio. Falávamos de alegria e tristeza. E falávamos de joffrey.
Joffrey, por um infortúnio, nascera com uma doença fatal, e só viveria mais quatro anos. A, outrora, risonha Lucy vestia a cara mais triste que já vi em rosto mortal, e o pobre Marcus encarava  seu prato vazio com uma expressão tao vazia quanto.
A conversa ficou neste assunto tempo necessario para que todos falassem sobre a melhora da medicina e de como ela evoluiria ainda mais.
Mas eu não voltei à conversa, apenas concordei vez ou outra. Eu tinha algo mais importante em mente.
Meu alarme mental apitava loucamente, e eu já sabia o que esperar.
Passei o resto da noite de olho em Marcus, tomando notas de seu comportamento. Mãos suadas, olhos inquietos e poucas palavras. Mau sinal.
Esperei todos irem para seus aposentos e fui até meu carro. No porta luvas peguei um colar antigo, e meus medos se confirmaram. Minha sina mais uma vez me seguia, minha missão infindável chamava. Peguei algumas ferramentas simples e entrei novamente.
Sentei-me na poltrona e fiquei de sentinela.
Duas e trinta e três da manhhã, o primeiro grito da noite foi ouvido. Fui em direção ao som. Ao chegar no local de origem, vi que meus colegas hóspedes tentavam arrombar a porta do quarto, que, imaginei, pertencia a Marcus.
Usei uma de minhas ferramentas, uma antiga moeda romana, para abrir a porta.
A visão que tive me deixou enojado. Respirei fundo e contive a ânsia, olhei ao redor.
Onde não havia o vermelho do sangue de marcus, havia o marrom de sua pele ou o branco de seus ossos.
No chão, uma debilitada Lucy se agarrava em um Joffrey choroso.
Me ajoelhei em sua frente e indaguei o que acontecera. Os olhos que me fitaram eram irracionais e as palavras proferidas, ininteligiveis. Virei-me para a porta, carregando Lucy, cuidadosamente.
"Segure este vômito, Peter, já não basta o cheiro deste quarto. Me ajude a leva-la para baixo; E você, Vito, tranque a porta."
Os perplexos cavalheiros hesitaram por um momento, mas, logo,  cumpriram suas ordens.
Me sentei à mesa junto com todos que restaram. Caras palidas, olhos arregalados.
"Ok, eu sei que será dificil entender. Vocês viram o mesmo que eu, e, a menos que acreditem que marcus explodiu de dentro pra fora espontaneaente, me ouvirão.
Aquilo no quarto andar foi obra de alguma criatura antiga, não sei qual, talvez um demônio, talvez algo ainda mais antigo. O que importa é: vocês correm perigo. Eu quero ajuda-los, e, para isso, preciso saber se alguém aqui foi o responsável por trazer esta criatura para nosso plano de existência."
Olhei ao redor, rosto por rosto, ninguém ousou, sequer, piscar.
"Ótimo, se foi Marcus, o demônio, provavelmente, se deu por satisfeito e foi embora. Mas, para garantir, ficaremos todos na sala. Assim poderei protege-los."
Dito isto, sem aviso, Peter levanta, e, gritando, corre para a porta da sala. Ele consegue avançar alguns metros na nevasca, antes de cair, azul e congelado.
Nós o trouxemos para dentro. Eu lembro a todos que o lugar mais seguro é na sala, comigo.
Coloco Peter ao lado da lareira, tento contato com Lucy, que parece não ouvir, em seu estado catatonico, preferindo acariciar o bebê.
Me sento na poltrona, com todos em vista. Após algumas horas Lucy e betty dormem, Vito confere as janelas e porta, antes de deitar-se.
Levanto, para dar uma segunda olhada na porta, e ao me virar escuto um familiar som de metal. Dou meia volta e vejo Vito com uma pistola apontada para minha cabeça.
"O que é isso, Vito? Abaixe esta coisa antes que se machuque."
Ele se levanta, tremendo, mas sem vacilar na pontaria.
"I-isso aconteceu no dia em que você chegou, v-você vem com esses papos estranhos de demônios antigos. Isso é merda, eu não sei como você fez, mas já vi seu tipo no jornal. Serial Killers, psicopatas. Mas não aqui... Não aqui..."
"Vito, abaixe a arma, você não pode me machucar. Eles não permitiriam."
"Foda-se seu louco filho da puta"
Eu gostava de Vito. Ele era o tipico tiozão, me lembrava boas pessoas que conheci. Eu queria ter salvo ele. O coitado errou três tiros, mas quando Eles perceberam que ele não iria desistir, tomaram uma providência.
Vito andou com a arma firme, disparando diversas vezes. Um dos disparos acertou uma corrente que segurava o lustre, que, por sua vez, segurava as lamparinas.
Betty acordou com o barulho e me ajudou a apagar o fogo. Porém era tarde, Vito morrera no impacto. Ela desatou a chorar, fazendo coro ao bebê, que acordara.
"Logo vai acabar" Prometi.
"Realmente.' A voz se Peter respondeu "Logo acabará"
Encarei-o, mas aquele já não era Peter. Ou melhor, ja não era coisa alguma.
Sua cara contorcia-se e seus dedos se mexiam como os de um pianista.
"Eu lhe ordeno que deixe este corpo, sobre o qual não tem direito, criatura."
"Guarde suas palavras, mago. O garoto já estava morto, vê?" A coisa apontou para o estomago, onde uma grande mancha vermelha era salpicada por estilhaços de vidro."Mas fique tranquilo, o usarei por pouco tempo. Só vim buscar o que me é de direito"
"Ao que se refere?"
"Veja, guardião. Eu fui invocado por aquele que tinha por nome Marcus e esta que atende por Betty. Eles clamaram por mim, e imploraram para que eu curasse o filho deles. Eu, como o ser caridoso que sou, atendi. Mas eu jamais disse que seria um serviço gratuito. Eu quero meu pagamento."
"Betty... Isto é verdade? Joffrey é seu filho?"
"Sim... Eu engravidei... O pai sumiu. Marcus e Lucy adotaram a criança, eu não conseguiria cria-la, mas poderia vê-la crescer enquanto trabalhasse aqui. Isso até o diagnóstico. Eu não poderia perde-lo. Meu bebê não morreria assim, não. Eu tinha que fazer algo"
"Betty, a morte é natural. Tão natural quanto o nascimento. Pena que vocês não entendam isto."
Privado de qualquer tipo de autoridade, poder ou truques, eu assisti Betty morrer. O Guardião da Humanidade reduzido a um mero espectador.
Quando tudo terminou, peguei a criança e Lucy e os deixei em um hospital proximo.
Com sorte a criança cresceu, viveu sua vida e morreu em paz.  Infelizmente Lucy não teve o mesmo destino.  A risonha Lucy gargalhou do momento que tirei-a da casa até o instante que a deixei no hospital. Ela riu até o final, e continuou rindo depois.

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⏰ Última atualização: Nov 22, 2017 ⏰

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