Solve et Coagula

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Conto 1

...Passado Próximo...

Covinha, Levitae

Quando nos encontramos em uma rua escura da cidade notei que como de costume nós sairíamos por aí sem destino, rumo a liberdade. Vestia ele uma camisa de tom escuro, que no momento não consegui identificar a cor. Como a noite já estava encobrindo todo o céu, pensei eu por não ver as estrelas, que além da escuridão profunda que ali se assentava, haveriam no céu nuvens espessas e que portanto não se podia observá-las, mas mal sabia eu que eram as poucas luzes daquela terrível cidade que não permitia observar tão lindas estrelas.

Então sem pronúncias e exaltação fiz como de praxe: se aproximei, segurei firme em suas mãos, fechei meus olhos, e senti um tremendo frio na barriga, como se borboletas voassem dentro dela, e ao baterem suas asas faziam cosquinhas. Aquela sensação ao mesmo tempo me causava calafrios e também me instigava ainda mais a continuar. Não era a primeira vez de tal sensação, mas sempre era como se fosse. Ao ato que se seguia, sentia cada vez mais tal sensação consumir todo meu corpo, ao ponto que segurei ainda mais forte suas mãos.

Quando abri meus olhos verifiquei que já estávamos a uma altitude considerável. Via-se as, agora, intensas luzes da cidade e como por obra do destino me contradizendo, e com toda sua imponência me afirmando que aquela paisagem era verdadeiramente bela e fascinante.

Algumas luzes davam certas piscadelas, como os vaga-lumes que por nós se rodeavam. Ainda perplexo com os calafrios que senti ao subirmos mais, olhei em seu rosto e vi que estava sorrindo, sorriso este que nenhuma criatura na nossa existência talvez possuísse. Dava para ver o reflexo das luzes da cidade em seus dentes brancos, mesmo com a altura em que estávamos nos fazendo distanciar das estonteantes luzes hipnóticas da cidade abaixo de nós. Seu sorriso era acompanhado por covinhas que destacavam-se bem em seu rosto. Meu ponto de atenção preferido, e que fazia como numa obra de Da Vinci, o detalhe que faltava para proferir tamanha beleza em sua face. Como que ignorando a altitude pensei em pronunciar um "bobo!", mas deixei por ora, de lado a ideia e me contentei em ver as luzes da cidade se afastando lentamente, para com o passo que voávamos em direção ao breu daquela noite, e que com nós dois ali juntos, nada poderia ser mais belo, pensei.

Afastados da cidade agora víamos as grandes estrelas brilhantes no céu como se nos observassem e cochichavam entre si sobre aquela cena de nós dois ali, cena essa tão peculiar numa noite. Vimos também a majestosa e imponente lua crescente que apesar de ainda não estar em sua fase de extrema majestade (lua cheia), ainda assim enchia o céu e a paisagem abaixo de nós com seu brilho fino e elegante, como se uma cachoeira derramasse uma fina cortina de água sobre tudo e nós.

No longínquo horizonte um estranho elemento não combinava com aquela calma noite em que nos encontrávamos: uma tempestade raivosa se erguia soberanamente e via-se pequenos flashes pulsantes quase apagados pronunciando tamanha soberania. Naquele momento sentimos ali uma doce e aromática brisa de ar que envaidecia a paisagem, está em um tom de verde mesclado com a escuridão sobre nós. Em relação à noite não sentíamos medo algum, pois o que de mal aconteceria a duas criaturas tão unidas e em perfeita harmonia em que nos encontrávamos?

Como se na mesma sinapse nós dois pensamos a mesma coisa e aceleramos a velocidade rumo ao infinito da noite. A brisa se tornou tremendamente forte, a ponto que senti frio. Nos abraçamos e aumentamos ainda mais a velocidade, logo do frio congelante passei a sentir um pouco de medo, mas me reconfortei ao sentir em minhas mãos o seu pulsante coração. Para aumentar ainda mais a adrenalina, nos aproximamos da relva e árvores. Fomos tão intensamente em direção ao horizonte não tão aparente, que quando notamos num piscar de olhos nos deparamos com um imenso abismo. Agonizantemente pensei em gritar, mas contrariando meus pensamentos o abracei ainda mais forte a ponto de notar seu busto firme e meio gelado devido à brisa que se seguia. Logo nos deparamos com três optativas de ida: à esquerda o breu de um vale, por onde talvez passasse um rio, a direita uma enorme montanha esverdeada, e à frente no longínquo a bravejante tempestade. Mais uma vez sintonizados um com o outro seguimos em alta velocidade em direção à tempestade, pois além de mim despertava-se nele o estranho interesse por aquela anormalidade diante a paisagem calma sob a luz da lua e das estrelas, onde podia-se observar claramente, com meu mero conhecimento sobre constelações, a constelação de Orion.

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⏰ Última atualização: Nov 19, 2018 ⏰

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