Ryan me olhava atentamente, seus grandes olhos negros diziam tudo que seus lábios não tinham coragem de dizer. Era algo impressionante como seus olhos brilhavam.
Mamãe sempre me dizia que podemos perder tudo, mas nunca estaremos sem nada. Ryan deu sentido àquelas palavras ditas um dia.
"Se você tem um sonho, você deve segui-lo. Se é teu e não corre atrás, não espere que mais alguém correrá." Na época em que escutei essas palavras, mamãe estava muito furiosa. Eu chorava por não ter sido o suficiente para um dos maiores Studio de Nova Zelândia. Ela não estava furiosa comigo, era mesmo com a moça mal-encarada que nos recebeu.
Eu pensei em desistir, mas mamãe me obrigou a continuar em frente, expecificamente, a continuar tentando. Infelizmente, minha história não é sobre ela, é sobre mim. Só de fato, não pode ser contada se não falar de ambas partes.
Um dia qualquer, assim eu julgava na época, mamãe me dissera que eu poderia perder tudo, mas eu sempre teria ela. No dia seguinte, sua doença se manifestou. Uma doença grave nos olhos. Ela lutou firme, mas eu quem não lutei. Aos pouquinhos eu via ela se distanciar, aos pouquinhos tive mais medo ainda de perde-la. Eu tentei esconder a dor e confusão dentro de mim, foi então que mais uma vez ela me ajudou.
Quanto mais eu me distanciava do mundo e tudo ao meu redor, quanto mais eu acreditava que era isso que mamãe estava fazendo, eu me enganava. Parecia estar mais longe, mas ela estava cada vez mais perto.
Ela estava morrendo, sofrendo, aos meus olhos clamava por ajuda, mas aos olhos dela, estava bem.
Com dois anos após sua morte, eu ainda me torturava psicologicamente. Tinha uma merda de uma rotina que me prendia todos os dias. Era uma rotina comum, totalmente sem sentido e cor. Com mais dois meses, o mercado em que eu trabalhava fora fechado. O dono devia mais do que arrecadava em dois meses. Sem nenhum motivo ou vontade, me tranquei em casa. A casa havia se tornado tão sombria quanto eu estava. Mamãe fazia uma falta imensa. Não pelo fato de ser apenas minha mãe, ela era minha única luz.
Passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida. Não era com qualquer coisa física ou mundana, era comigo mesma. Não importava o quanto o sol brilhasse lá fora, era aqui dentro que estava tudo escuro e eu não via motivo algum para sair e enfrentar o mundo. Até que em um outro dia qualquer, ouço batidas em minha porta. "Olá, tem alguém aí?!" Eu ignorava cada palavra que àquele indivíduo dizia, mas ele era insistente. "Sou seu novo vizinho!" Não me esforcei em mandá-lo ir embora, porém, ele também não se apressava em ir. Depois de exatos cinco minutos de silêncio, seja lá quem fosse, seguiu rumo à sua residência. Nos primeiros 29 dias suas visitas eram frequentes independente da hora, de alguma forma ele sabia que eu sempre estava lá. Falava e falava diversas coisas, algumas até foram capazes de me arrancar um quase sorriso. Até que no 30° dia, ele não veio... Foi muito mais solitário do que eu me lembrava ser.
Sem perceber, eu me acostumei novamente a ter um outro alguém. Eu começava a ver tudo colorido e tão de repente, tudo se tornou preto novamente. Sem querer acreditei sorrir de novo, acreditei e naquele momento me doeu, hoje agradeço.
Passaram-se mais três dias e nada mudou. Ele não apareceu. Eu o esperei e tive esperança. Estava prestes a desistir novamente, foi então que vi ela. Foi mais que senti-la. "Não importa o quanto perca, mesmo que perca tudo, não ficará sem nada." Já não chorava a tempos, quando mamãe se foi, eu perdi tudo, até as forças para chorar. Me tranquei e me calei, mas nem se quisesse seria forte o tempo todo. Chorei o dia todo, não consegui parar.
Minha pior rotina era àquela, eu me escondia de toda luz, alegria, felicidade, dor e tristeza. Eu não me trancava pela dor que sentia, me escondia com medo de sentir aquilo que chamam de felicidade. Eu sei o quão estúpido parece, mas todos sabemos que depois da felicidade vem a dor. A dor que faz a falta que aquilo que nos fez bem não esteja mais presente. Os dias passavam mais devagar, menos do que os que não tinha sentidos. Passaram-se mais dois meses, foi então que perdi totalmente as esperanças, ou imaginei perde-la. Dia 15 de maio foi diferente, eu estava diferente, o dia, o sol, até a tristeza estava. Segui rumo a sala, mas ao invés de sentar no chão e escorar na porta, tive um vontade imensa de espiar lá fora. Mas me contive. O motivo é que não sei. Uma hora depois, já sentia uma brisa suave beijar minha pele.
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Acreditar
Short Story||CONCLUÍDO|| Esse conto relata a vida de Madu Rodrigues, foi inspirada em sua música "Acredite em Você". Os fatos relatados foram todos criados por mim. *** Madu perdeu tudo, o que mais lhe causou dor foi a morte de sua mãe. Diante tanto "sem senti...