1. A praia

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"Ela me tirou de casa, ela me levou na praia. Tinha um tempo que eu não ria cedo. Era uma tarde mansa, dia de euforia rasa. Tinha um tempo que eu não ia à praia."

— Cícero

Outubro de 2007

André fitava o mar a sua frente, o pôr do sol iluminava a água, tornando-a laranja e fazendo com que tudo se tornasse ainda mais bonito. Faria tempo que ele não ia à praia, amava o lugar e o barulho das ondas quebrando, mas raramente visitava o local. Nunca entenderia aquilo. Perto de si uma canção ressoava cantada pelos seus amigos, era apenas voz e violão, mesmo assim era agradável.

Havia sido uma ideia louca comemorar o aniversário de Mateus na praia, mesmo assim, fora uma ideia louca que funcionara. Tomou um gole da bebida contida num copo em sua mão, não costumava ingerir bebidas alcoólicas, mas vez ou outra abria exceções e aquela noite era uma ocasião para exceções.

— André, você pode admirar o mar outro dia, sei que ama a natureza e essas coisas, mas esse não é o momento. — A voz feminina de Ana o tirou de seus pensamentos.

O homem sorriu.

—Você está certa.

Em pouco tempo a voz de André havia se juntado a voz dos outros numa canção animada. Aquele era um daqueles dias em que ninguém se importava muito em ser afinado, o que realmente fazia a diferença era estar ali, se divertindo um pouco.

O sol já havia sumido no horizonte e os tons de azul escuro lentamente começavam a dominar o céu. Era o início de uma noite. O vento frio típico de uma praia batia sobre o corpo de cada um, mas não era um detalhe relevante, o vento ainda não estava frio o suficiente para fazê-los entrar na casa de beira-mar onde estavam hospedados. Pelo contrário, o vento frio fazia com que eles se sentissem ainda mais inclinados a apenas continuar ali, sentindo a sensação boa de curtir a praia.

Não necessariamente estando na areia, já que estavam todos na varanda da casa, mas era perto o suficiente para aproveitar o momento, haviam aproveitado a água salgada mais cedo, agora era apenas o momento de aproveitar a tranquilidade da noite.

Clara batia palmas no ritmo da música enquanto cantava de maneira desafinada. Um sorriso estava preso em seu rosto, sem a menor intenção de sair. Ficara feliz com o convite de Mateus para estar ali aquele dia, afinal, eles não eram amigos há tanto tempo assim. Em pouco tempo descobriu que os amigos do aniversariante eram bem animados, talvez com exceção de um que parecia distraído o tempo todo.

O homem de cabelos escuros e óculos quadrados só passou a cantar junto aos outros quando uma mulher o chamou. Clara levantou-se no intuito de pegar mais uma bebida para si, notou que o homem fez o mesmo. Em pouco tempo ambos estavam se dirigindo para o mesmo local. André chegou primeiro e serviu-se um copo de algo que se parecia com uísque.

— Você vai querer também?

— Quem sabe algo mais fraco.

— Cerveja, então?

— Cerveja então.

Ele procurou por uma latinha da bebida na geladeira e entregou para Clara.

— Nunca tinha te visto, de onde surgiu?

— Eu sou amiga do Mateus, ele me chamou.

— Ele falou algumas vezes de você. Clara, certo?

Clara abriu a lata e deu um gole na bebida.

— Clara. E você é?

— André.

— André. — Clara sorriu. — Mateus falou algo sobre você. Coisas sobre como você saberia descrever a fauna e a flora do lugar onde estávamos quando nos conhecemos. Eu juro que comecei a pensar que você era o tipo de pessoa que abraça arvores e aplaude o sol.

— E quem disse que eu não faço esse tipo de coisa?

Clara sorriu e fez uma careta.

—Você não faz.

André deu de ombros e tomou um gole de sua bebida.

— Se você diz. Ele também falou de você, disse que era uma apaixonada por velharias históricas.

— Bem, eu não posso negar.

— História é bem legal, na verdade.

— Não era velharia?

— Bem, é velharia, mas não deixa de ser legal.

— Falou o cara que aplaude o sol.

O homem riu.

Mateus entrou na casa procurando algo para beber e de longe viu André e Clara conversando. Sorriu. Sempre soube que aqueles dois se dariam bem, entrou no cômodo e tentou pegar a maior quantidade de bebida de podia, mas foi impedido por seu amigo.

— Quer entrar em coma alcoólico?

— Não, eu só quero evitar voltar aqui e atrapalhar vocês.

Clara soltou um assovio.

— Ciúmes? — André disse, com um sorriso sacana.

Mateus riu.

— Não, eu realmente quero dar espaço para vocês. Eu sempre apostei nessa amizade, e eu não vou perder minhas fichas.

Dito isso, ele se retirou, fazendo com que o silêncio reinasse no lugar.

Clara e André riram, era uma situação tão estranha que fora engraçada, era impossível não rir. No fim, os dois sentaram-se cada um numa cadeira e iniciaram uma conversa que durou quase a noite toda. Foi basicamente jogar conversa fora, mas aquilo fez os dois mais felizes, ambos descobriram que eram mais parecidos do que realmente pareciam.

Nada dura para sempre.

E aquele pequeno momento não seria diferente. Essa é uma regra que serve para todas as coisas. Na noite seguinte, todos foram embora, cada um seguindo seu rumo, incluindo André e Clara que nem mesmo havia trocado números, por que esqueceram na correria do dia.

Era um momento passageiro, afinal.

Como uma onda no mar que vai tão rápido quando vem.

Mas a pergunta era: será que um dia ela iria voltar?

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⏰ Last updated: Nov 28, 2017 ⏰

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Lembranças ao VentoWhere stories live. Discover now