Capítulo 2

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Depois de subir para meu quarto, me deito, olho para o teto e tento acalmar a minha respiração ofegante.

-Anelise? Abre a porta, quero falar com você -me irrito ao ouvir a voz da minha mãe e me finjo de morta.

-Não dá, estou morta.-Resmungo desejando desesperadamente que ela acredite.

-Para de falar besteira e abre logo essa porta -ela berra do outro lado.

-Você veio aqui pra me dar bronca. -Afirmo. Como sempre, pensei -Então pode falar daí mesmo.

-Se não abrir agora, só vai piorar -ela parece totalmente brava.

-Sempre piora.-Resmunguei abrindo a porta e voltando pra me jogar na cama.

-Você sai de casa, me deixa falando sozinha, depois volta e quer que eu não reclame? Anelise, por favor, colabora. -Ela fala rápido demais e finjo que estou ouvindo tudo.

-Entendi, é tudo o que tem a me dizer? Porque se for só isso, já pode ir embora. -faço pouco caso e cara de tédio, vendo ela ficar vermelha.

-Anelise... -ela respira fundo. Odeio essa mania ué ela tem de repetir meu nome varias vezes. -Olha seu braço, acha que estaria assim se tivesse me obedecido? -ela fala tentando manter a calma.

-Você nem liga pra isso, nem liga pra mim. Passa o dia fora de casa, não sabe o que acontece comigo então parece até que é a primeira vez que me machuco. -Disse não dando a mínima pra o que ela acabou de falar.

-Não acha que esse assunto está muito repetitivo?

-Termina logo de falar. -Reclamo e fecho a cara.

-Acho que não tem mais o que falar, arrume suas coisas rápido.

-O que? -Ergo a sobrancelha e cruzo os braços.

-Você entendeu, não vai viajar sem suas coisas, vai? -ela vai até o guarda-roupa e pega as malas, pondo no chão.

Afastei ela de perto do guarda-roupa, pegando e jogando as roupas dentro das malas de uma forma desajeitada e ignorante.

-Feliz? -me viro para ela.

Ela não responde, apenas suspira alto, balança a cabeça e fala.

-Você sabe que eu não queria fazer isso, não quero me afastar de você, mas veja como está me tratando, você não me dá outra escolha.

-Não precisa fingir que não quer isso, pode não ter sido sua ideia, mas eu sei que você está gostando -falo baixo.

-Anelise... -Ela suspira, melancólica.

-Não vem com "Anelise", eu também não quero mais ficar aqui.

-Por que você tem que complicar tanto as coisas? -Ela suspira, detesto quando ela faz muito isso.

-Você simplificou o que? Eu vou para a Europa, queria que eu estivesse cantando e dançando Beyoncé ou pulando de alegria?

-Nem vai ser tão ruim assim, vai ser como um novo começo. Não exagere.-ela fala baixo.

-Claro, um começo que eu não queria -resmungo.

-Acho que só vai ser ruim se você fizer com que seja. Não é? -Ela tenta me animar.

-Não, eu sei que vai, não tente mudar uma cabeça intransigente -olho pra ela.

-E o que você quer que eu faça?

-Nada. Tudo bem, vou acabar de fazer minhas malas, pode me deixar sozinha?

-Okay, só... Arrume direito...

-Tá. -Falo qualquer coisa e continuo a "arrumar" a mala.

Escuto dois toques na porta e vou até ela, me preparo para gritar por já estar cheia, mas percebo que é a Melanie, e a deixo entrar.

-Tá tudo bem, Anne?-ela me olha fazendo as malas e faz cara de interrogação. -Pra onde vai? Quer ajuda?

-Estou... Eu vou para Londres -reviro os olhos e empurro a mala.

-Como assim? Você não vai fugir de casa, vai?-ela pergunta desorientada sem saber o que estava acontecendo.

-Não, pelo contrário, vou ser despachada mesmo -sorrio ironicamente -Meu querido paizinho acha que estou me comportando mal, e que vou melhorar indo para lá... O engraçado é que ele teve minha vida toda pra me notar, mas só veio fazer isso quando eu não quis mais, e que ele nem deu o trabalho de falar comigo, de perguntar como eu estava, o que eu queria, o que eu estava sentindo.

-E a mamãe concordou com isso tudo? Quer dizer, eles nem perguntaram se você queria ir pra lá? -Ela pergunta, percebo que ainda está meio confusa.

-Não, ninguém me perguntou nada, eles simplesmente decidiram -falo devagar para ela entender.

-Ah, mas pensa, talvez não seja tão ruim, você vai conhecer novas pessoas, vai ter uma rotina totalmente diferente e provavelmente melhor, talvez seu pai não pegue tanto no seu pé também. Eu soube que lá têm festas incríveis, tem pessoas incríveis... -Ela tenta me animar -Mas... Eu vou sentir sua falta. Você volta logo não é? -Ela pergunta um pouco triste.

-Pensando por esse lado, não é tão ruim... E eu não sei quando vou voltar-falo baixo e a abraço -Vou sentir muita saudade. Promete manter contato?

-Prometo. Você vai ser sempre a minha irmãzinha, lembra? -Ela acaricia meu cabelo, a aperto e beijo a bochecha dela.

-Sim, eu lembro, mas tenho que terminar isso -suspiro e me abaixo para continuar arrumando minha mala.

Ela se abaixa do meu lado e sem que eu perceba, me ajuda a arrumar o resto das coisas.

-Você vai ficar bem, Anelise. -Ela me dá um sorriso. -Aposto que esse tempo lá vai passar voando!

-Espero que passe tão rápido quanto um raio, e que não me obriguem a ser legal com ninguém.

-Sei. Mas eu te conheço, é só ter um pouco de bebida no meio que você se vai enturmar logo...-ela bagunça meu cabelo.

-Talvez, não garanto muito -rio fraco.

Terminei de arrumar as malas e passei meia hora pensando em como aproveitar o resto do meu dia aqui. Considerando que provavelmente eu não vou poder saír de casa.

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⏰ Última atualização: May 16, 2019 ⏰

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