2014

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                              ***

Eu a amava. Amava seu olhar doce, seu sorriso meigo, sua conversa inteligente, seu humor irônico, seu temperamento forte, seu talento, seu lado humano, seu jeito simples de ver a vida... Até as pequenas coisas:  seu jeito sensual de andar,  o modo de empurrar os óculos quando está lendo, quando fecha os olhos saboreando o primeiro gole de café do dia, como fala sem parar quando está nervosa, o mau humor quando precisa acordar muito cedo ou o modo diferente como chama meu nome, com seu lindo sotaque irlandês... eu simplesmente a amava! E já havia algum tempo.

Mas Cait, sempre muito racional, relutava em termos algo mais, apesar de já termos tido inesquecíveis noites de sexo. Só que sempre havia uma desculpa para ter acontecido: ou por um momento de fragilidade e carência de ambos por estarmos longe da família e dos amigos; ou porque tínhamos bebido demais; ou porque havia rolado um clima  fora de hora no set de filmagem e acabávamos nos deixando levar pelos personagens Jamie e Claire... mas nunca era por nós dois! Ela nunca admitia. Por isso, me sentia um completo idiota.

Eu sabia que despertava algum sentimento nela também... só não sabia qual. E isso inibia qualquer intenção minha de me aproximar mais, de querer mais, de alimentar algum sentimento a mais que não fosse a "amizade" entre bons colegas de trabalho... Ela sempre fez questão de deixar claro que não queria se envolver, misturar sua vida pessoal com a profissional. E eu respeitei.  Mas hoje, não! Ela não tinha  desculpas...

   Por que diabos ela discutiria comigo no meio da festa do Matt, chamando-me de mulherengo, mentiroso, safado e  chamando Cody de 'prostituta de luxo' sem mais nem menos, se não fosse por ciúmes?? Até mesmo porque Cait já a conhecia, apesar de nunca ter simpatizado com ela. Não diria que era bem um namoro, mas há uns 4 meses estávamos saindo... e elas já haviam se encontrado em outra festa antes!

Depois de uma breve discussão com Cait (não, ela não estava bêbada!) presenciada por algumas pessoas à distância, tirei Cody da festa, despedi-me rapidamente dela prometendo me explicar depois, coloquei-a em um carro  e voltei para pegar a Cait.  Eu precisava de respostas. Mas não ali. E a trouxe para o meu apartamento.

                            ***

     Éramos apenas eu e ela.
     Não havia álibis ou culpados entre nós agora. Estava em pé a sua frente,  de braços cruzados, sério, deixando ela esbravejar, mesmo sem razão, pois, para mim, estava tudo muito claro. Ela gesticulava, apontando várias vezes o dedo para mim, vermelha de raiva... tão linda... e já fazia um tempo que repetia os mesmos palavrões. Nada do que ela dizia justificava seu comportamento tão agressivo, a não ser a verdade. E ela sabia disso. O que a irritava ainda mais.

Cansada de tentar explicar o óbvio e negar, mais para si mesma do que para mim, enfim, ela silenciou sem ter mais nada a dizer. Continuei parado, observando-a, aguardando pacientemente que ela se acalmasse. Um silêncio prolongado e tenso pairou entre nós. Aos poucos, o seu olhar, antes desafiador, passou a mostrar uma confusão de sentimentos, onde prevaleciam a dúvida e o medo. Ela se debatia internamente, relutando em se entregar. Tentando, inutilmente, mais uma vez ser racional, pensando numa boa explicação para tudo isso, tentando manter o controle da situação. Mas dessa vez ela não tinha argumentos. E eu não precisava de palavras. Suas atitudes me disseram tudo o que eu precisava saber.

  Aproximei-me devagar, quase encostando meu corpo no seu. Notei quando ela quis recuar e protestar, mas desisitiu quando segurei seu rosto entre as minhas mãos.

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