Capítulo Único

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Zayn, é você! – John ergueu o braço e me chamou, era minha vez de tocar. De uma vez só, empinei o último gole e larguei meu copo de whisky vazio no bar. Peguei meu violão e caminhei até o palco, então me posicionei no mesmo banco de todas as quintas e sextas à noite. Royal Oak é o lugar do meu ganha pão e também o lugar onde espero a volta dela, fico na esperança em vê-la escorada naquele bar, pelo menos mais uma vez. Ajustei o microfone e pousei o violão em meu colo, dando início à uma música nova, a qual compus na noite retrasada.
Enquanto dedilhava as cordas de meu violão e cantava outras canções de artistas famosos, comecei a observar detalhadamente cada um presente naquele pub, procurando aquele rosto conhecido, mas nenhum sinal dela. Em meio a minha busca um olhar pousado sobre mim chama minha atenção. Uma ruiva de olhos azuis, sentada em uma mesa próxima ao bar. Com mais atenção comecei a observá-la, ela parecia ter uns dezenove ou vinte anos. Está usando um vestido de alça, azul marinho, curto, revelando suas belas e longas pernas. E ela está acompanhada de um grupo de amigos. Nessa troca de olhares ela sorri um pouco acanhada para mim. "Acho que devo esquecer a Grace, ou pelo menos tentar e resgatar o antigo Zayn", pensei enquanto as palavras decoradas de uma canção saiam pela minha boca.
Pelos seus olhares e jogadas de cabelo, percebi que poderia me dar bem essa noite.
Ao finalizar meu repertório, ainda com meu violão em mãos, desci do pequeno tablado, melhor dizendo, do palco, e me aproximei do bar para pegar o case do meu violão que estava guardado ali atrás. Enquanto fechava o zíper do case, a ruiva se aproximou.
- Olá. – ela iniciou uma conversa. – Além de tocar muito bem, você tem uma voz maravilhosa. – elogiou e abriu um amplo sorriso. – Já virei uma fã.
- Muito obrigado. – sorri, guardei meu violão no canto do bar e então voltei minha atenção à ela. – E será que eu poderia saber o nome dessa minha fã? – sorri de canto, imaginando aquele vestido jogado pelo chão do meu quarto.
- Meu nome é Jennie.
- Lindo nome... Muito prazer. – estendi a mão, a cumprimentando, e então sentei-me no banco do bar e olhei para o barman. Ele já sabia o meu pedido de todo fim de noite e logo trouxe meu Manhattan. – Então, Jennie eu te pago um drink. Afinal é muito bom interagir com uma nova "fã". – ri e empinei um gole de minha bebida. – O que você vai querer?
- Eu quero Pina Colada. – sentou-se no banco ao meu lado e cruzou aquele par de pernas tentador.
- E seus amigos? – olhei brevemente para o lado. – Já foram embora? Deixaram você aqui? – mexi o copo, balançando o gelo.
- É... – ela deu com os ombros. – Eu vou voltar de táxi. É que eu falei que ficaria mais um pouco, achei que era cedo para ir embora e... – jogou o cabelo para o lado. - Eles resolveram ir. – tomou um grande gole de sua bebida.
- E aceita minha companhia? – eu e minhas perguntas óbvias.
- Claro... – ela gargalhou sem motivo.
Conversamos pouco e tudo era motivo para ela dar risada. Não sei porque a minha cabeça insistia em compará-la a Grace. Jennie cruzou os braços, acentuando seu decote, algo em que reparei apenas porque o assunto não estava me prendendo a atenção. Então me obriguei a perguntar, já que outros assuntos não estavam fluindo.
- O bar está quase fechando. Você vai precisar de uma carona?
- É... É... Acho que vou. - ela riu de um jeito bobo, demonstrando certo nervosismo.
Nossa, como ela me lembrava as garotas que eu costumava sair antes de conhecer a Grace, parecia estar tendo um déjá vu. Balancei a cabeça na tentativa de parar de pensar nela, não tinha nem porquê, tomei mais dois goles e então finalizei meu drink. Percebi que o melhor era ir direto ao ponto.
- Se você quiser posso te levar pra casa. – sugeri e levantei-me, parando diante dela. – Aceita?
- Eu? Aceito sim. – ela riu alto e bebeu mais um gole.
- Pode terminar seu drink, eu só preciso pegar meu cheque com o John e em seguida vamos.
- Está bem. – ela sorriu, mas não era o sorriso o qual eu sentia falta. Não sei se tinha sido uma boa ideia a minha.

(...)

- Ai... – Jen estava ofegante. – Isso, foi... – sua respiração estava totalmente descompassada. – Incrível. – puxou o lençol, tapando seus seios descobertos.
- Não... Você é que foi. – Aquelas palavras saíram quase que no automático, sem veracidade nenhuma. O sexo foi equivalente ao assunto no bar, sem sintonia nenhuma. Virei-me para ela, sorri e depositei um beijo leve em seus lábios. Levantei-me da cama e vesti a minha boxer que estava jogada no chão, em seguida peguei minha calça e tateei o bolso traseiro. De lá tirei o maço de cigarros que sempre carregava comigo.
- Você se importa? – perguntei à ela.
- Não... – ela era só sorrisos, mas eu nada sentia. O que havia de errado comigo? Eu me sentia um escroto por pensar assim, mas tudo que eu queria era ela fosse embora.
Acendi meu cigarro e me direcionei até a grande janela do meu quarto. Abri uma fresta e aquele vento londrino da madrugada, indicando os últimos dias de verão e logo me fez lembrar que eu deveria ter vestido uma camisa. Enquanto a fumaça escapava por entre meus lábios, observava a lua e o silêncio que prevalecia na rua. E minha mente vagou, me fazendo relembrar os últimos meses.
Suspirei mentalmente e a cada tragada, flashes de tudo que vivemos nesse quarto insistia em invadir meus pensamentos, essas lembranças que faziam meu coração disparar, uma sensação de felicidade que não cabia dentro do peito, mas que para ela... Não havia sido nada. Patético, não?
Acabei deixando-a entrar em minha vida, entrou de um modo totalmente inusitado e sem eu ao menos perceber já era tarde demais. Eu que sempre tentei esconder meus sentimentos e jamais me apegar a ninguém, infelizmente esse caminho não tinha mais volta, ela chegou assim como se foi, feito um acidente, causando os devidos estragos.
Eu não quero mais pensar nela, era como se ela tivesse arrancado algo dentro de mim. Tento imaginá-la longe da minha vida, desistir de tudo, estou cansado. Mas não consigo, porquê? Queria que tudo não passasse de uma ressaca, daquelas bem filha da mãe, mas que se eu tomasse uma aspirina tudo voltaria ao normal.

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