Darkness Inside - O Nascimento

Encontro

I

Vou enviar um anjo adiante de ti para te proteger no caminho e para te conduzir ao lugar que te preparei". Êxodo 23, 20

Amanhecia no Vale da Agonia Eterna, como sempre o cheiro de podridão dos corpos estripados dos condenados invadia as narinas com um poder estonteante. Quase não ventava e o céu estava fechado, como se estivesse para chover. O céu era um gradiente de cinza para o horizonte vermelho sangue.

Duas pessoas estranhamente limpas, com ar celestial e vestidas de branco se encontravam neste lugar sujo e esquecido por todos.

- Me explique. O que faço aqui? - Disse o primeiro. Tinha aparência jovem e a voz grave e poderosa, o que não combinou muito bem.

- Primeiramente, esse corpo não combinou nada com você... mas, vamos ao que interessa! Eu tenho um plano. - Este também tinha uma aparência jovem, sua voz, ao contrário do anterior, também era jovial, quase angelical. Seus olhos verdes eram como duas janelas para o universo em utopia.

- Que tipo de plano? Eras atrás você me prendeu naquele mundo "cor de rosa".O que vai fazer para terminar de me afundar desta vez?

- Ah, por favor, não seja melodramático... Disse em tom de desdém. - Somos amigos apesar de tudo. Não é mesmo, Samael?

- Claro.

II

Era uma noite tranquila e silenciosa, a brisa balançava cada folha das árvores fazendo um som tão tranquilizante no quintal desta linda casa, que nem um café expresso extra forte poderia deixar alguém acordado, mas o que melhor pode mudar uma noite tranquila como essa para uma noite de alvoroço, medo, ansiedade e insegurança, do que uma mulher dando à luz?

A mulher em questão, de 37 anos que mora nessa casa é Amanda, tem cabelos pretos e olhos pretos também, pele branca e corpo esbelto, quando não está grávida de nove meses, adora esportes, e é uma pessoa muito alegre e bem resolvida e bem sucedida profissionalmente.

Assim que as contrações começaram, Amanda acordou com o susto e segurou o braço de seu marido, Victor, que só foi se dar conta do que estava acontecendo depois de lutar contra os dois espadachins imaginários de seus sonhos. A mala da bebê e da mãe já estavam prontas e ambos dormiam com uma roupa apropriada para a ocasião a uma semana. Só foi o tempo de Amanda calçar suas pantufas e correr para o hospital.

- Vai Victor. Liga pra minha mãe.

- Germana! - Gritou ao telefone descendo as escadas.

- Victor? Aconteceu alguma coisa? - Perguntou a senhora do outro lado da linha.

- Aconteceu, mas não se preocupe, está tudo bem. Amanda teve contrações e estamos indo para o hospital. - Disse essas palavras tão emocionado que as palavras saíram quase incompreensíveis.

- Ai meu Jesus, que maravilha! Já estamos indo praí.

Germana é mãe de Amanda, uma senhora muito espirituosa. Sempre tem a cura para alguma doença e sentimento ruim, canja de galinha.

Em duas horas e meia de espera, Victor já teria terminado com o estoque de café do hospital, se alguém tivesse trocado a garrafa depois de ele ter secado a primeira. Suas mãos suavam de ansiedade. Eles tinham planejado aquele dia muito bem. Até esqueceu de que era ateu e pediu a Deus que desse tudo certo, isso realmente não se vê todo dia.

E então veio o médico dar a notícia: "Parabéns, uma linda menina.". As lágrimas não se seguravam dentro de seus olhos e então foi ao encontro de sua mulher e filha, Júlia.