Eu tenho certeza que é a chuva. Ao som da primeira gota na janela, eu a amaldiçoo pela semelhança com lágrimas que logo se juntarão à tempestade, escorrendo pela minha face como no vidro frio.
O som inebriante me deixa inerte, estática, como se a melancolia quase mágica que paira no ar não pudesse ser quebrada. E eu repito a mim mesma para não dar ouvidos à ela. Seguir com a minha vida e parar de escrever textos usando cada metáfora do tempo possível.
Eu tinha abrigo agora, certo? O pior já havia passado. Mas súbita como uma tempestade de verão as memórias me atacavam e eu causaria inveja a Quione [deusa grega da neve] pela maneira rápida como havia me tornado fria.
O iceberg antes sólido ao qual eu me mantinha firme havia derretido sob os meus pés, entretanto eu aprendi a nadar. E ainda dou cada braçada como se minha vida dependesse disso. Porque, na verdade, depende.
Mas eu vejo daqui uma ilha, onde o tempo é sempre bom e eu estou certa de que vou alcançá-la, desde que continue a nadar.
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Lua Poeta
PoetryTextos pra expressar o que não coube no coração e transbordou em versos.