Luka Letigo.
A chuva cai, está tão forte que as próprias gotas machucam quando caem sobre meu corpo. Alguém se esbarra em mim, não por maldade, mas pelo fato de todos estarem desesperados e também por eu ter apenas 10 anos, logo, minha altura não é lá essas coisas. Minha roupa, que antes era vermelha e preta, agora está encharcada de barro, volto a me levantar, apenas para poder continuar encarando a cena mais enigmática que eu já vi.
Encaro um homem, vestido de calça preta e jaqueta da mesma cor, dança sem pudor sua música que eu não posso ouvir, seus fones de ouvido dão a ele esta exclusividade. Se fosse em outra situação, uma normal, eu apenas acharia engraçado, "um louco", eu pensaria, mas essa situação só me deixa pensar que eu que sou o louco, que o homem está só na minha cabeça.
- Que bosta, não acredito que estão nos forçando a sair daqui, logo agora que estamos conseguindo uma boa filmagem, arruma as coisas, temos que ir. - Alguém diz do meu lado, uma voz feminina, mas não está falando comigo. - Não, meu deus, não seja burro, deixa a câmera aqui, só pega a fita.
- Sim senhora. - Uma voz masculina responde.
- Garoto...ei. - a voz feminina agora está mais próxima, sinto suas mãos em meus ombros. - Porque você ainda esta aqui?, se perdeu de sua mãe?
Olhei rapidamente para ela, seu cabelo escuro, logo e molhado, cobre um pouco de seu rosto, o homem a puxa pelo braço, deixando-me sozinho. Volto a encarar o homem dançante.
Na frente do homem dançante, se aproximam monstros de vários tamanhos, e tipos imagináveis, vejo pessoas andando entre estes monstros, falam algo bem alto, talvez para o homem dançante, mas a chuva e a distância de mim fazem de suas palavras algo incompreensível. Conforme a legião de seres bizarros se aproxima, começo a escutar uma musica, quase impossível de ouvir, mas gradualmente seu som aumenta.
Quando a legião de monstros se aproxima o suficiente pra atacar o homem dançante, a musica fica alta o suficiente para qualquer um conseguir ouvir com perfeição, neste mesmo segundo o som da chuva simplesmente sumiu, apesar de continuar chovendo, tudo que se podia ouvir era a musica, a batida eletrônica é envolvente, e o homem dançarino, que ate agora dançava seguindo com perfeição cada batida da musica, para de dançar, seu tronco se abaixa e assume a posição de largada, como uma corrida de 100 metros.
Eu pisco os olhos, e quando noto, o homem não está mais lá, no mesmo momento, sinto um vento incrivelmente forte contra mim, sou lançado para trás, e acabo no chão novamente, e enquanto me levanto, ouço gritos humanos e monstruosos, as explosões e vibrações que chegam ate mim pelo chão, me levanto rapidamente.
Eu vejo um mundo em chamas, tudo está queimando, parte da legião de monstros grita e corre enquanto pega fogo, outra parte está morta. foi em apenas um segundo, que uma cidade inteira ficou em chamas, prédios com monstros gigantes caídos sobre eles, alguns começam a desabar.
- mortuus es. - A voz era profunda e travada, olho pra trás, um humanoide do meu tamanho, seu corpo e rosto, de tom preto, está todo deformado visualmente.
Suas mãos vem em direção a minha garganta, seu sorriso, cheio de dentes pontiagudos e amarelos, deforma mais ainda seu rosto incompreensível. Por algum motivo não tenho medo dele, só consigo pensar no homem dançante e na musica.
Quando suas mãos estão a ponto de encontrar minha frágil garganta, elas param e recuam. O homem dançante está atrás do monstro, o segura pela garganta e aperta sem esforço, as mãos que antes estavam tentando me enforcar agora estão tentando se libertar do enforcamento frio, mas sem sucesso.
Depois de largar o corpo do monstro, o homem dançante fica parado, parece estar me encarando, mas não consigo ver seu rosto por causa de uma máscara branca sem detalhe nenhum, além de duas linhas vermelhas verticais que passam pelos únicos dois buracos da mascara, aonde imagino que estão seus olhos, ela não parece ter apetrechos para se manter unida ao rosto do usuário, apesar de não ser a hora, fico me perguntando com a mascara se mantem em seu rosto.
Ele se aproxima de mim, e com uma das mãos ele segura sua máscara e lentamente começa a tira-la de seu rosto, e quando parece que verei seu rosto, vejo outra máscara, essa é idêntica a anterior, mas ele não parecia estar usando duas máscaras, era mais como se ele tivesse feito uma cópia de sua máscara naquele mesmo segundo.
Ele se aproxima mais e me entrega ela, e nesse momento sinto algo entrando em minha mente.
- Não deixe cair a máscara roxa cair em seu própio vazio.
Acordo em minha cama, eu tenho esse mesmo sonho a 6 anos, uma repetição diária daquela noite, talvez seja culpa minha, afinal, dormir todo dia com uma máscara bizarra não te deixa ter sonhos normais. Seguro com firmeza a máscara, a encaro pensando nas palavras do homem dançante.
- Quem era o homem dançante? - Falo em voz alta, talvez esperando que por algum milagre a própria máscara fale comigo. - talvez a máscara roxa está com outra pessoa como eu, mas como eu deveria descobrir quem é?, e como impeço algo de cair no vazio?
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Re Creators - O amanhecer.
AdventureQuando algo fora do comum acontece em historias, nós pensamos em magia, mas essa historia não. É sobre algo muito mais antigo e poderoso que magia, algo que nasceu junto com o próprio universo e que ainda existe nos tempos de hoje, nas sombras.