Capítulo Dois

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Em Setembro de 2006, fomos convidadas para o baile de primavera da turma de formandos. Ficamos eufóricas, já que os garotos que mais desejávamos pertenciam àquela turma.

Eu não aguentava mais as cobranças em relação ao meu "bv", como chamávamos o fato de nunca ter sido beijado por alguém, boca virgem.

Kênia era a que mais insistia que, se ‒ segundo ela ‒ uma das poucas coisas as quais minha religião não proibia era que eu beijasse na boca, não deveria me privar desse direito.

Mas eu não me via dessa forma. Quero dizer, não como uma pessoa privada de liberdade, mas era difícil fazer as minhas amigas enxergarem isso.

O fato principal é que eu queria que meu primeiro beijo fosse especial. Um beijo de princesa. Daqueles que fazem a gente levantar o pé e tudo mais. Admito, eu sou sonhadora em um nível muito maior do que o normal.

Infelizmente.

Havia esse garoto que me tirava dos eixos. Ele se chamava Tomas Cavalcante (é engraçado pensar que este será meu sobrenome em alguns meses, não porque me casarei com Tomas e sim porque, por uma coincidência do destino, meu noivo possui o mesmo).

Tomas tinha o porte atlético. Não era forte demais, tampouco magro demais e era, simplesmente, a pessoa mais doce que eu conhecia.

Não convivíamos muito, a não ser pelas aulas de educação física que praticávamos juntos.

Ah, essas aulas! Era nelas que ele usava aquela camisa regata que mostravam seus braços definidinhos. Aquela passou a ser minha parte do corpo preferida em garotos.

Braços bem lindinhos.

Mas o que aconteceu na tal festa?

Um beijo memorável, é claro. Tomas andou até mim com seu smoking maravilhoso e cochichou em meu ouvido que era "bv" também.

Lembro de ter soltado uma gargalhada sonora que fez alguns rostos se virarem para nós. Lembro, vagamente, de um Tomas corado, me puxando para o canto do salão. Ele permaneceu sério e repetiu a frase, sem conseguir me convencer. Não havia a menor chance de aquilo ser verdade. Não tinha como o cara mais bonito da escola ser "bv". Mesmo que eu não conseguisse me lembrar de ninguém com quem ele tivesse namorado.

Mas, pudera! Ele tinha dezenove anos e era lindo! As garotas se jogavam aos pés dele. Na verdade, todos faziam isso.

Sem chances de nunca ter sido beijado.

Então eu comecei a me sentir especial por ter feito a descoberta do ano. Tomas Cavalcante era um péssimo mentiroso.

Não que eu me importasse.

O cara era sempre gentil, até mesmo com as pessoas que meus amigos torturavam. Não andava em grupos e ninguém se importava com isso, porque ele era física, comportamental e intelectualmente perfeito.

Até os outros caras o respeitavam.

No fim das contas, decidi (sem muito esforço, admito) ignorar a pequena mentira. Não se passou muito tempo até que começasse a desejar que me beijasse de uma vez.

Posso me lembrar de cada um dos detalhes. De como aquela flor, cujo o nome eu não sabia na época, ficava charmosa em sua lapela. Comentei alguma coisa a esse respeito e ele corou de um jeito sexy e acabou confessando que tinha sido ideia da mãe dele.

Isso arrancou de mim uma gargalhada. Eu não esperava por uma confissão sincera do mais novo mentiroso.

A gente riu junto, na verdade. E a graça durou por uns dez segundos, até que nenhum de nós dois encontrou um assunto para dar continuidade.

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