Um jardim em seu nome

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Um jardim em seu nome

Quando Kenma tossiu a primeira pétala, uma pequena pétala de Cravo Branco, bem pequeninha e delicada, ele sentiu seu mundo desabar. Os olhos dourados que sempre brilhavam de forma especial quando olhavam Kuroo Tetsurou, choraram as lágrimas de dor pela primeira vez.

Kozume estava doente. Uma doença que começaria a levar sua vida a cada pétala que seu corpo fraco pudesse expelir, sufocando seu peito com um pequeno jardim que iria crescer ao redor de seu coração. Uma doença causada pelo amor não correspondido.

Kenma amava Kuroo com todas as suas forças, amava mais do que tudo naquele mundinho pequeno. Era um amor tão grande, mas tão grande, que parecia não caber no pequeno coração dele, um amor do tamanho do universo.

Mas era um amor que só ele sentia. Kuroo não amava Kenma, não da forma que o loiro amava. No coração dele já existia alguém, uma pessoa que ele amava mais do que tudo naquele mundinho pequeno, e que o amava de volta com a mesma intensidade. Ele se completava quando estava ao lado dessa pessoa, e mesmo que isso doesse muito em Kenma, doesse tanto que chegava a machucar, ele aceitou seu destino. Não haveria cura para si, não quando Kuroo não o olhava com os mesmos olhos com a qual olhava para sua namorada.

Kenma deixaria que o pequeno jardim que começava a crescer em seu peito, continuasse se espalhando, enrolando-se em seu coração e o esmagando a cada dia.

Pois afinal, ela só queria ver Tetsurou feliz. Mesmo que não fosse Kozume ao lado dele. Foi então que ele tossiu a primeira flor, um Cravo Riscado. Tossiu tantas que a as gavetas de seu guarda roupa já não davam mais conta de guardar, haviam várias delas espalhadas pelo chão.

O loiro ainda conseguiu esconder isso de todos. Não contou a ninguém sobre isso e também não deixaria que ninguém soubesse, seria uma morte silenciosa que ele estava disposto a encarar sozinho, sem precisar causar dor a mais ninguém além de si mesmo.

Quando ele achou que nada mais poderia ficar pior, Kuroo foi visita-lo em seu apartamento na cidade, com um sorriso apaixonado no rosto, ele contou que havia pedido sua namorada em casamento e estava ali para lhe entregar um convite e convidá-lo para ser o padrinho. Com as mãos tremulas, Kenma se esforçou muito para conseguir esconder o Jacinto que saiu de sua garganta quando precisou tossir.

Tetsurou até chegou a desconfiar que o melhor amigo não estava bem, chegou a questionar sobre a palidez do loiro, sobre o cansaço em seus olhos e aquele sorriso que nunca parecia ser verdadeiro. Mas acreditou quando Kozume disse que era só um mal-estar temporário. Acreditou quando ele disse que era só uma noite mal dormida. Acreditou em todas as desculpas que ele lhe contou naquela noite.

Contudo, não acreditou quando soube que Kenma havia sido encontrado sem vida na cama de seu quarto, com um jardim de flores espalhadas pelo chão. A cor fugira de seu corpo, os olhos dourados não brilhavam mais, suas mãos esmagavam pequenas Miosótis, e em sua boca, onde em momentos raros era visto um sorriso doce e bonito, havia uma Rosa Branca, com todas suas pétalas manchadas de vermelho com o sangue que não circulava mais em suas veias.

Kenma morrera por amor. Um amor tão grande que não coube em si e precisou ser expelido. E que forma mais bonita do que em forma de flor? Com cada pétala se desprendendo de seu miolo, tingindo-se com um vermelho brilhante, e caindo delicadamente como uma pluma sobre a palma da mão.

Era uma morte pura. Assim como Kenma era. Ele escolhera deixar aquele jardim crescer, e cresceu tanto, mas tanto que rasgou sua garganta e levou consigo o fiozinho de vida que ele ainda conseguiu manter até noite do casamento do amado.

E a última flor que o loiro tossiu, foi aquela Rosa Branca que significava que mesmo após sua morte, ele ainda amaria Kuroo mais do que tudo, e não se arrependia de ter criado um jardim em seu nome.


* Cravo Braco: amor puro.
* Cravo Riscado: Não posso estar contigo.
* Jacinto: Tristeza profunda.
* Miosótis: Não me esqueças.
* Rosa branca: Amor eterno.   

Pequeno JardimWhere stories live. Discover now