De olhos fechados, sinto o sol tocar levememte minha pele a aquecendo suave, como se temesse queimar-me. O vento sopra calmo, uma brisa, e traz consigo o frescor e o gosto salgado do oceano, com ele vem também o som das pequenas ondas que se chocam com as pedras mais abaixo no fiorde. A grama faz coçar meus pés descalços e sinto paz momentânea, mas então abro os olhos.
Olho em volta e tenho ânsia, pessoas andam de um lado para o outro num tumulto incessante. O que antes era paz se transforma em horror. Todos passam com pressa, mas tenho certeza de que não estão indo a lugar algum, seus rostos demonstram completa insanidade, seus corpos trajam os mais finos tecidos mas suas peles estão imundas, dá pra sentir o odor ocre no ar, em suas mãos carregam grandes aparelhos, tão pesados que suas costas se curvam mas eles insistem em levar, nas telas, imagens, vídeos e textos descrevem um padrão de vida considerada perfeita, todos o seguem mas parece não funcionar. O relógio em meu pulso diz que ainda é dia porém tudo é escuro, levanto o olhar vendo o céu coberto por nuvens negras, o ar é pesado e causa ardência nos pulmões, os meus mesmo acostumados resistem a essa impura invasão.
O chão de concreto, o céu coberto com fumaça e o horizonte tampado por anúncios e arranha-ceus me fazem ter certeza de que quero voltar a fechar os olhos, talvez, para sempre.
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Entre O Sonho E A Realidade
Short StoryApenas um devaneio sobre um mundo espelhado ao nosso...