Doce Café ☕ Micro Conto

Doce Café ☕

Sentado no banco carona do veículo do meu pai, eu tentava em vão esconder o objeto retangular, grande de mais para o meu bolso.

— O que você tem aí? — Seu Alberto me questionou intrigado.

— Nada não, pai. — Dou-lhe um sorriso amarelo.

— Vê se você se comporta dessa vez. Nada de fazer cara feia ao tomar o café da dona Amélia — recomendou-me ele.

Dona Amélia, uma senhora gentil e banguela, era uma das frequentadoras assíduas da pequena igreja localizada na zona rural de nossa cidade, onde meu pai supervisionava.

Como de costume, uma vez na semana deslocávamos até lá a fim de visitar os irmãos idosos.

— Queridos, sejam bem vindos mais uma vez ao meu humilde lar. — Bastião nos cumprimentou alegremente, enquanto subíamos os lances de escada que dava acesso à enorme varanda de madeira em frente sua casa.

Ele nos deu um abraço apertado e suado, com uma alegria incomum para gente da cidade.

— Muié, o pastor chegou. Faz um café caprichado — Bastião gritou lá de fora mesmo.

Nos sentamos nas cadeiras de fios, já gastas, e não demorou muito para o cheiro do café sendo torrado na hora dominar o ambiente.

Aquilo me fez lembrar a última vez que estive ali. O cheiro era maravilhoso, mas o sabor... Bem, acho que deixei claro que ele não havia me agradado, quando cuspi todo o líquido de gosto forte e amargo assim que ele tocou minhas papilas gustativas.

Minutos se passaram até dona Amélia exibir seu belo sorriso, estendendo uma xícara caprichada ao meu pai e outra para o marido. A contra gosto ela olhou para mim.

— Você aceita, Bruno?

— Claro. — Tentei dar o meu melhor sorriso.

Desconfiada, ela me serviu. Se a xícara fosse transparente seria possível ver a camada de pó preto depositada no fundo da mesma.

Peguei a xícara e fitei o líquido fumegante a minha frente. Antes do primeiro gole, coloquei a mão no bolso. Bastião e Amélia franziram o cenho e meu pai arregalou os olhos quando me viu sacar  um vidro enorme de adoçante.

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