Prólogo

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"Hoje é o grande dia!"

Foi oque minha mãe havia dito assim que entrou no meu quarto, sem permissão - como sempre - já foi abrindo a janela fazendo uma luz forte iluminar o lugar.

— Mãe por favor, nem no meu aniversário eu tenho direito a cinco minutinhos a mais de sono?!

— Sei que esses cinco minutos se tornarão cinco horas então não, agora levanta agora dessa cama que logo os convidados chegam!

Tão logo ela entrou

Tão logo ela se foi.

Sabia que dona Raquel estava certa, os cinco minutos claramente se tornariam cinco horas, e por mais que a idéia de passar meu aniversário inteiro embolada pelo meu cobertor na cama fosse tentadora, eu infelizmente não poderia.

Até porque minha querida mãe havia resolvido fazer uma festa para comemorar a data que pra mim não era nada especial, chamando nossos parentes mais próximos.

Como todos os anos.

Estava descendo as escadas, indo em direção a sala, quando ouvi a campainha tocar.

Sabia que não demoraria muito para minha mãe gritar me chamando para atender a porta.

E para adiantar as coisas e evitar ouvir os gritos histéricos de dona Raquel, corri até a porta, a abrindo no mesmo instante.

— Uau...

Franzi o cenho confusa com a cara de surpresa de meu melhor amigo.

— Se eu não conhecesse a ogra que você é até te confundiria com uma princesa!

Revirei os olhos, não podendo evitar um sorriso surgir no canto de meus lábios.

— Will entra antes que eu me arrependa de ter te convidado!

— Isso seria impossível de acontecer, sem mim aqui, quem vai controlar aquela anã desmiolada?

— Do que é que você me chamou?!

Arregalei os olhos ao ouvir a voz de minha prima.

Clarie era o oposto de Will.

A criatura era tão pequena que atrás do grandão era impossível de a enchergar, exatamente como naquele momento.

— Está vendo o mesmo que eu Charlie? Realmente não sabia que formigas falavam

— Eu vou fingir que não escutei isso Will sobrenome prédio de oitenta andar

Ri andando para o meio da sala junto deles escutando como sempre mais uma discussão de variados chingamentos que um dava para o outro.

— Olha que engraçado eu sou a aniversariante e não ganhei nenhum parabéns do Romeu e da Julieta!

Os dois pararam de falar olhando pra mim.

— Fala sério que é seu aniversário hoje?! Eu pensei que a tia Raquel estava fazendo o chá de bebê finalmente, até...

Will me encarou no mesmo momento que o encarei.

Olhamos juntos diretamente para Clarie curiosos.

— Até...?

Disse para que a mesma continuasse.

— Até trouxe fraudas.

Will soltou a maior risada enquanto eu não acreditava no que estava ouvindo.

— Eu não acredito que você vai me dar fraudas de presente! Isso é inaceitável, não é permitido nas regras de presentes que uma prima deve dar a outra!

— Que regras são essas?!

Reviro os olhos com a burrice de minha prima que eu sabia que a retardada tinha acreditado.

— Pense pelo lado positivo Charlie, agora você tem fraudas, pode vender suas calcinhas e comprar um presente digno. Aliás pra que calcinhas não é mesmo?

— Que idéia incrível Will! Assim que vender minhas calcinhas pode apostar que irei comprar uma faca com o dinheiro e sair cortando certas cabeças, e a sua será a segunda! A primeira é especial tem que ser pra prima irresponsável que não sabe nem o dia do meu aniversário.

Ouço sua risada sentindo os braços das duas pessoas mais chatas do universo celestial me envolverem.

— Parabéns Charlie!

Os dois falaram em coral, beijando cada um, um lado de minhas bochechas.

Sorri com os olhos já marejando, ameaçando chorar.

— Ei vocês três, venham comer que está pro...

A voz de minha mãe surge na sala, nos fazendo correr para o jardim.

A festa tinha sido ótima.

Na verdade, qualquer coisa com Will e Clarie eram ótimas.

Eles eram a salvação de todos os meus dias e foram a do meu aniversário.

Estava no meu quarto, deitada de barriga pra cima, olhando para o teto, quando ouvi batidas na porta.

— Esta aberto!

Me sentei surpresa ao ver minha prima entrando no quarto.

— Pensei que tava indo embora

A olho confusa.

— Mamãe deixou eu subir rapidinho pra... te dar isso

Ela estendeu as mãos me entregando um...

— Caderno?

— Não retardada, é um diário

— Diário? Porque está me dando um diário?

— Eu pensei de verdade que era o chá de bebê, desculpa por ter esquecido do seu aniversário... Comprei isso ontem porque o meu já não tinha mais folhas, e acabei esquecendo no carro.

Continuo a encarando confusa.

— Agora é seu, meu presente de aniversário Charlie! Espero que seja válido nas regras de presentes que uma prima pode dar a outra.

— Essas regras não existem Clarie

Ri, olhando para o caderno com a capa de veludo da cor preta em minha mão.

— Oque eu faço com isso?

— Escreva coisas do seu dia a dia, algo do seu pensamento, oque quiser escrever, é seu diário Charlie.

— Meu diário.

Sussurrei, vendo a sair de meu quarto me deixando só, com aquilo em mãos.

O abri lentamente, cheirando as folhas que continham um cheiro estranho de baunilha.

E por onde eu começo?

30 Dias Com CharlieOnde histórias criam vida. Descubra agora