Prólogo

14 2 0
                                    

De início foi estranho pra mim. Eu sempre chegava da biblioteca no mesmo horário as quartas e como sempre, meu pai estava na cozinha, vendo novela na pequena televisão no balcão, preparando nosso café da tarde, sempre com aquele ar cansado porém feliz, nada mudava, e éramos felizes por isso. Porem, esta tarde, eu cheguei da biblioteca ás duas e dezenove, coloquei minha mochila escolar no sofá de couro escuro e caminhei até a cozinha com um ar suspeito, pois era estranho chegar na porta da sala e não sentir o cheiro de waffles com mirtilos feito na hora, cheguei na cozinha e o que eu encontrei me fez deixar que o celular que estava em minhas mãos caísse diante dos meus tênis pretos que acompanhavam o uniforme escolar. A televisão chiava num canal inexistente, no chão havia sangue e massa de waffles, havia sinal de luta e o que mais me preocupou foi o fato de ter sangue por algumas partes do cômodo, sangue que poderia ser do meu pai.

Meus olhos foram se enchendo de lágrimas e o meu peito foi se carregando com soluços, eu não sabia o que fazer, então, por impulso, sai gritando meu pai pela casa toda, subi as escadas quase sem enxergar nada por conta das lágrimas que embaçavam meu olhar. Eu não o encontrava em lugar algum, e isso era o que mais me desesperava, a minha garganta já estava seca de tanto gritar, meus olhos já estavam ardidos e provavelmente muito vermelhos, eu me encostei na parede que dividia meu quarto do banheiro, eu escorreguei meu corpo e me sentando no chão, estava sem rumo, e no entanto amedrontada, eu temia que os sequestradores e possíveis agressores do meu pai pudessem voltar, talvez atrás de mim ou atrás de algum segredo da usina nuclear onde meu pai trabalhava.

Após passar longos minutos sentada no chão, chorando e lamentando tudo isso, me levantei e sequei os rastros de lágrimas do meu rosto e retirei os fios de cabelos louros que ficaram grudados nas lágrimas, prendendo meu cabelo num coque alto e todo mal feito, eu tremia, meu corpo todo tremia na verdade, segui para dentro do meu quarto e estava tudo intacto, tirei aquele uniforme que me sufocavam e vesti uma calça jeans clara de cós alto, apenas de sutiã, eu me sentei na cama e encarei o vazio e intacto quarto beje, eu estava perdida em pensamentos e todos eles faziam com que a vontade de chorar e gritar loucamente me atingisse em cheio. Me levantei por fim e vesti uma blusa preta de manga comprida, já que minha cidade, a essa hora, costumava esfriar bastante.

Desci para cozinha e fiquei encarando aquilo tudo, tentando imaginar o que realmente acontecera ali, como as pessoas que levaram meu pai entraram, por que vieram atrás dele e se eles viriam novamente. Aquilo me amedrontava de um jeito inexplicável. Eu vi a minha vida e a coisa que eu mais amava pairar no ar; fiquei tempos parada em frente aquela cozinha completamente bagunçada e ensanguentada, sem dizer nenhuma palavra ou ao menos pensar em fazer algo.

Isso tudo que está acontecendo só pode ser um sonho muito ruim e louco, nada disso pode ser verdade, ou pode? Não sei, mas apenas quero acordar na minha cama e perceber que foi um mero pesadelo!
Assim minha mente dizia.

Subi até o quarto onde meu pai costumava dormir, pois geralmente ele dormia na sala com a televisão ligada depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Procurei no guarda roupa uma pequena caixa dourada com detalhes pretos, era lá que meu pai guardava lembranças e fotos de família que significavam muito pra ele e no entanto, para mim também; levei a caixa com o maior cuidado para a sala de estar, me sentando no mesmo sofá onde coloquei minha mochila minutos atrás e colocando a caixa encima da mesinha central de vidro, eu abri a caixa e comecei a tirar algumas fotos e objetos que pertenceram a minha infância e o inicio da minha pré adolescência, em diversas fotos eu podia ver minha família completa; eu, meu pai e minha falecida mãe. Eu nunca soube como minha mãe morreu, nem onde, meu pai nunca me contou, ele apenas disse que ela fez de tudo para me proteger do mal. Seriam ladrões? Eu nunca soube. 

Os objetos da caixa, para mim significavam muito, pois a maioria deles foi presente da minha mãe para mim ou mesmo que pertenceram a ela, meu primeiro par de sapatinhos de tricô que minha mãe mesmo confeccionou assim que descobriu sua gravidez, eram brancos, hoje estão amarelados, era triste ver aquilo tudo e ver que  que restou foi apenas saudades e boas memórias que temo esquecer. Sem mesmo guardar nada na caixa, eu resolvo ligar para para a polícia, já tinha se passado tempo demais e eu não tinha feito nada, me levantei do sofá e peguei meu celular do chão, discando o número e colocando para chamar.
   De repente alguém bate à minha porta e por mais incrível que pareça, ninguém atendeu a minha chamada, guardei o telefone no bolso traseiro da calça e fui em direção a porta a abrindo em seguida, era inacreditável a cena e eu me recusava a acreditar que aquilo era real; havia no mínimo seis carros parados na porta da minha casa, todos eram pretos e de marcas de nunca ouvi falar,desses mesmos carros desceram no minimo quatorze pessoas,  metade era mulheres, todas de cabelos presos em coques perfeitos no alto da cabeça e vestindo um tipo de uniforme padrão; saia justa preta acompanhado de um terno e um par de sapatos de salto da mesma cor; os homens vestiam terno e em momento algum ninguém me direcionou a palavra. Todos ali presentes tinham traços asiáticos, coreanos talvez e eu definitivamente estava sem entender nada que estava acontecendo ali.

Irmãos DeAngelWhere stories live. Discover now