Coincidências, Idiotices e Tragédias

1.6K 148 36
                                    

Andar com uma bicicleta nova numa rua sem movimento, parecia um sonho, mas era real. Rômulo tinha sido promovido e Diana conseguira um emprego melhor. Com o novo orçamento familiar puderam mudar-se para um condomínio fechado.

O pai de Lídia havia crescido em uma cidade pequena onde as crianças brincavam de futebol na rua. Sentia falta da tranquilidade do interior. Na busca por uma nova morada o condomínio Utopos chamou a atenção da família, exatamente por reproduzir a paz interiorana, casas com gramadas e com portões apenas para poderem ter bichinhos de estimação. Uma mini cidade de casas belas  e moradores cansados.

Por uma incrível coincidência, morava nesse mesmo condomínio o senhor Aloísio Silver com sua família. A menina que antes passava as tardes sozinha em casa agora tinha seu melhor amigo como “vizinho”. Andavam de bicicleta quase toda a tarde, apostavam corrida, iam na casa um do outro, era um sonho maravilhoso de se viver. Na escola, continuava ora jogando bola, ora escrevendo suas poesias.

No seu décimo terceiro aniversário sua casa encheu de convidados. Não conhecia a maioria, pois eram filhos dos colegas de trabalho de Rômulo e Diana. Mas que importa? Sorriu para todos, agradeceu os presentes e até tentou estabelecer novos laços de amizade. A felicidade veio quando percebeu que Long John estava lá: cabelos espetados, sorriso largo e uma caixa embrulhada.

-O que é?

-Vai ter que esperar até a hora de abrir os presentes para descobrir!

-Capaz que vou! Me segue!

Os dois subiram para o quarto de Lídia, onde ela rasgou o embrulho e tirou de dentro da caixa uma bola de vôlei.

-Que linda! Obrigada... –Seu agradecimento pareceu um pouco forçado para o rapaz.

-Que foi, não gostou?

-Não sei jogar vôlei. –Explicou a menina que esperava uma bola de futebol.

-Nem eu! Vamos aprender juntos.

A ideia pareceu perfeita.

-Vamos!

A bola ficou no quarta da garota, e os amigos voltaram para a festa. Diana chamou a filha aborrecida.

-Onde estava? –A mãe tinha procurado-a por quase toda casa.

-No quarto... quis abrir um presente antes da...

-Não importa. Vem comigo, tem uma amiginha para te apresentar.

Que saco, estava cansada de ter que ficar se apresentando pros amigos de seus pais e para seus filhos metidos. A festa era dela, porque não podia aproveitar? Errado, a festa era dos pais, o aniversário era um pretexto. Adultos usam as crianças para se socializarem as vezes, certo?

Diana a levou até uma menina alta, de cabelos loiros ondulados, linda como uma daquelas garotinhas de comerciais de televisão. Tinha catorze anos e era filha de Antônio, o vizinho da direita. Divorciado da esposa, a menina não morava com ele mas recentemente havia feito as pazes com a ex mulher e resolveram que a filha poderia ver mais vezes o pai. Era uma boa oportunidade para fazer uma nova amizade, ou tentar pelo menos. Lídia por um instante se limitou a dar um “oi” tímido.

Patrícia estava um pouco assustada com todas aquelas crianças e pré-adolescente, não conhecia ninguém ali além de seu pai. Normalmente detestaria o tipo de Lídia, pois ela era o que costumava chamar de “tapada”. Mas depois do “oi” acanhado a filha de Diana deu um sorriso e chamou sua mais nova conhecida para conhecer sua casa. Foi um alívio para Patrícia ter algo que fazer num lugar cheio de pessoas que pareciam estar perfeitamente “encaixados”. Sim, aquela que parecia ter saído de uma tela de “TV” também tinha complexos. Embora fosse metida e exalasse superioridade às outras, tudo o que desejava era uma amiga para chamar de sua.

Ecos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora