NOTA UM
Por favor, não leia este conteúdo até o fim, é tudo o que eu peço – na verdade, imploro – a você. Estou te avisando.
21 de Dezembro de 2012
Mila beijava Tay desesperadamente, sua língua percorrendo todo o pescoço dela. Tay jogou seus longos cabelos castanhos para trás enquanto gemia e ofegava. Várias garrafas de vinho vazias estavam jogadas ao chão, o clima quente de dezembro fazendo-as suar, o ar que expiravam se tornando um só. As duas poderiam ficar ali para sempre, mas já estava tarde o bastante para que as ligações dos pais de Tay as atrapalhassem a cada minuto que se passava.
– Que merda! – Tay resmungou, revirando os olhos pela milésima vez, não de prazer, mas sim de desprezo impaciente. – Eles nunca vão me deixar em paz.
– Infelizmente – Mila concordou, frustrada e então suspirou.
As duas se puseram sentadas no grande sofá em que estavam. Tristes por terem sido interrompidas. Mila passou as costas da mão na testa afim de limpar o suor.
– Já estou indo – disse Tay ríspida, assim que atendeu o celular. Logo em seguida desligou o aparelho e o jogou em cima do sofá.
– Que droga – Mila disse em um tom de desânimo. – Da próxima vez? – perguntou com um sorriso malicioso no rosto.
Tay correspondeu o sorriso e beijou Mila.
– Sim, da próxima – ela disse recuperando o fôlego.
Quando Tay foi embora e deixou Mila só. Ela agradeceu por seus pais estarem viajando até o final da próxima semana. Estaria livre para fazer o que quisesse.
Mila caminhou em direção ao banheiro, se despiu por completo, se olhou no espelho e suspirou forte. Encarava seu reflexo fixamente quando perdeu o foco e olhou para o canto do espelho, onde havia uma inquietação. Ela acreditou ter visto um vulto, mas descartou a possibilidade. Que ridículo! Ela pensava. Um vulto? Não seja infantil e ridícula, Mila. As seções de Atividade Paranormal ficavam apenas no cinema.
Ligou o chuveiro e logo entrou embaixo dele. A água quente de dezembro excitando sua pele. Ela fechou os olhos e sentia toda a calma de uma noite de verão percorrendo seu corpo. Estava em paz. Tudo estava bem. No outro dia ela se encontraria com Tay e elas fariam tudo o que não tiveram chance de fazer – incluindo assistir Harry Potter e a Pedra Filosofal, pela milésima vez, juntas.
Quando abriu os olhos, Mila se assustou, escorregou e caiu. Uma figura estava materializada em sua frente. Fechou fortemente os olhos e os abriu outra vez, para ter certeza do que estava vendo.
Havia uma menina em sua frente. A menina usava um vestido branco bordado com desenhos em ziguezague e sapatilhas pretas reluzentes. Seus longos cabelos louros estavam presos em apenas uma trança. Seu rosto expressava um sorriso brincalhão e olhos frios. Mila não sabia se o que via era efeito do vinho, mas conseguia sentir o pavor se infiltrando em seu corpo.
– Oi – a menina disse com uma voz feliz e brincalhona. – Tudo bem, Mila?
Mila se encolheu ainda mais do que já estava. A água quente molhando suas pernas. O pavor expresso em seu rosto e em seu corpo.
– Você não vai me responder? – disse a menina com uma voz triste e carregada de um pré-choro.
– Oi – disse Mila, sua voz tremendo, quase inaudível.
A menina sorriu e girou. Seu vestido rodado ganhando altura.
– Eba!! – disse animada, dando saltinhos. Suas sapatilhas ecoando em todo o banheiro. – Você se lembra de mim, Mila?
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Tão Amável Lisa
HorrorO que você faria se, faltando apenas quatro dias para o Natal, você recebesse uma visita não tão amigável que te fizesse um desafio: sobreviver a ela até o Natal? Essa é a situação em que Mila se encontra. Ela precisará lutar e tentar encontrar uma...