FUGINDO DE CASA
Na hora em que a fila saiu para o recreio, antes que a professora mandasse debandar, Celso se esgueirou por trás do Magrão e correu para se esconder perto do coqueiro do jardim.
A professora nem percebeu.
Celso ficou quietinho, enquanto a turma toda corria, brincava ou se reunia em grupos para conversar.
O assunto das conversas, com certeza, era ele, Celso, que passara cola para o Paulo.
Esperou que desse o sinal para o reinício das aulas e, só então, pulou o muro.
Em alguns minutos já estava longe da escola.
Ele sentia nervoso porque era a primeira vez que cabulava aula.
Nem sabia o que fazer.
De repente se decidiu: iria para a casa da avó, que era o único lugar do qual conseguia se lembrar quando estava em dificuldades.
Celso estava com medo do pai. Ele achava que o velho era muito bacana, mas exigente demais com a escola. Uma nota boa nunca bastava. Era preciso ser ótima, para ele coçar o bigode, naquele seu jeitão, e satisfeito convidar o menino para uma partida de xadrez.
Celso deu um tapinha na testa com raiva, e pensou: "Xadrez! Bolas! Quem é que pode gostar mais de jogar xadrez do que de bater bola no quintal? Ninguém, é lógico! Mas papai nem percebe essas coisas. Até parece que nunca foi criança. Vai ver ele já nasceu com bigode, preocupado com negócios e odiando televisão. Já pensou? Um cara de bigode, fumando charuto e todo cor-de-rosa, enrolado naqueles panos de bebê?"
Na verdade, o pai de Celso não era mau. Apenas tinha se esquecido de seu tempo de criança. Por exemplo: não entendia como podia ser tão importante para Celso ter uma coleção de lagartixas. É verdade que, por descuido do menino, a coleção tinha ido parar no armário da cozinha, pregando um bruto susto na mãe. Ela, boba, tinha até chorado com o susto.
Mas o pai, depois de passar um sermão, tinha trazido da cidade um livro sobre sáurios e o incendiava a continuar sua coleção.
Sua mãe gostou do nome científico das lagartixas. Daí em diante, quando via a coleção de Celso, dizia:
- Afaste os sáurios daí. Preciso tirar o pó de sua escrivaninha.
Mas não adiantava nada pensar em sáurios ou lagartixas. O caso é que, se a avó não resolvesse o problema, as coisas poderiam se tornar muito más.
A avó era tão velha que para ela todos eram meninos, inclusive o pai de Celso, a quem ela costumava repreender, dizendo:
- Ora, menino, deixe a criança sossegada.
Criança, no caso, era Celso, e menino, o pai dele.
Em passos rápidos, Celso dirigiu-se para a casa da avó e logo chegou até o gradil do casarão, em Vila Mariana.
Escondeu-se atrásde uma quaresma, bem a tempo de não ser visto por tia Maria e pela empregada de casa, que saíram. Com elas vinha um homem de avental branco e maleta na mão, em quem Celso reconheceu o médico da avó.
Quando tia Maria e o médico foram embora, o menino esperou que a empregada Antônia voltasse para dentro e entrou na casa também. Foi direto para a cozinha, pois sabia que, antes de mais nada, precisava amansar Antônia que não parecia estar de muito bom humor.
- Oi, Antônia!
- Oi, Celso! O que você está fazendo aqui a esta hora? Não foi a escola?
Celso não gostava de mentir, mas não teve outro jeito:
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Fugindo de casa
AdventureQuem nunca pensou em fugir de casa? Quando se trata de falta de paciência e implicância, o velho e a criança sofrem o mesmo problema. Por isso o menino Celso e sua avó Carolina resolvem fugir de casa juntos, cansados de ser marginalizados pela famíl...