Capítulo 1 - Cautelosos

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"Querido diário,

Falta bem pouco até o começo das aulas. Será a primeira vez que vou frequentar a escola, sinto uma dor no meu estômago só de pensar, tenho muito medo do desconhecido. Mas acima de tudo, eu prometo, a mim mesma, que não vou ter medo, vou encarar sem temer"

Ao virar a pagina sou interrompida por uma batida inesperada em minha porta. Escuto meu pai:
- Janet, o jantar está na mesa! - ele anuncia em alto e bom som - Por favor não se atrase, precisamos conversar antes do jantar.
- Já vou descer, pai. - respondo rapidamente, mas o que me intriga é o que será tão importante para conversarmos antes do jantar? Não questiono, desço as escadas e vejo meu pai sentado no sofá da sala, o maior, ao lado direito dele está minha mãe. A única coisa que passou em minha cabeça era se eu tinha feito algo de errado, mas não me lembrava de nada.
- Sente-se querida. - ele aponta calmamente o sofá ao lado do deles.
- Querida, amanhã você irá pela primeira vez para a escola e... - antes que minha mãe possa terminar eu a interrompo:
- Eu sei, muito legal né? Mal posso esperar.
- Deixe sua mãe terminar. - meu pai me pede friamente.
- Você já tem 16 anos, e o que eu posso dizer é que os adolescentes da sua idade são, como posso dizer... complicados.
- O que sua mãe quer dizer é que quanto menos você se enturmar, menos chamará atenção, e isso fará você não sofrer qualquer preconceito. Me entende? - estranhamente eu não sei como responder, nunca conheci qualquer outro adolescente, exceto meus primos e primas. Mas uma pergunta me vem em mente, mas antes que eu pudesse analisa-lá, ela saí de minha boca:
- Vocês estão pedindo para não ter amigos? - ambos nos olhamos, principalmente meu pai e minha mãe.
- Sim. - meu pai me responde secamente.
- Andrew! - minha mãe rebate.
- É a verdade Marta - meu pai olha para minha mãe com um olhar de reprovação - , quanto menos ela se enturmar melhor.
- Você só está sendo indelicado. - minha mãe rebate o olhar de reprovação de meu pai, com um olhar mais frio do que o dele.
- Gente, é só a escola. - mas eles balançam a cabeça como se não fosse qualquer coisa.
- Essa etapa vai te marcar, de uma forma ou outra, querida - meu pai afirma - , talvez eles te julguem por ter sido ensinada em casa.
- Eu sei que você acha que está pronta, mas entenda querida, por mais confiante e preparada que você esteja, jamais será o suficiente. - minha mãe completa.
- Entendi. Então beleza, não me enturmar, não fazer amigos, nem chamar atenção. Ok, tudo memorizado, agora podemos comer? - afirmo tudo que entendi nos últimos minutos, com tristeza na voz, mas minha mãe tenta me fazer pensar diferente no instante seguinte:
- Querida não é assim, só estamos querendo te proteger, nada mais.
- Quer saber mãe, perdi a fome. Com licença. - me levanto e ando em direção as escadas - Boa noite - mas antes que eles possam me responder eu subo as escadas, entro no meu quarto e fecho minha porta.
Olho pra minha prateleira de livros e pego um livro aleatório, por sorte veio um livro que não era ruim. Os Cavaleiros Das 10 Casas. Abro em uma página qualquer e me deparo com um trecho,"...Eu sofri calado, e sem saber o porque, servi a esse rei e a essa rainha por anos, décadas, mas agora, estou livre. Liberdade. Posso escrever meu destino pela primeira vez em anos. Minha espada sempre estará ao meu lado, e eu sempre vou estar ao lado dela...",acho curioso, talvez nem mesmo o mais sofrido dos poemas poderia ter descrevido aquele momento de forma tão perfeita.
Aqueles livros foram minha distração durante anos, me deram um conforto para que eu não me sentisse tão sozinha. Mas dessa vez, não será um livro, ou vários, que me fará melhorar... As vezes eu só prefiro sentar na cama e refletir... E talvez, receber a solidão como uma velha amiga.

Onde Está Essa Tal Felicidade?Onde histórias criam vida. Descubra agora