Red Roses

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Essa é uma shot que eu fiz pra uma amiga e eu espero que esteja boa.
Palavras: 3013

Sana

Separei a rosa que ela levaria hoje e me pus atrás do balcão à sua espera. Como sempre, ela apareceu no mesmo horário; alguns minutos depois de a floricultura abrir.
Mesmo sendo a única cliente na loja e tendo sua entrada anunciada pelo sino, ela parecia quase invisível, como uma pétala no meio de um buquê. Enquanto vinha em minha direção, as  roupas claras que usava e o jeito tímido de andar contribuíam para que ela passasse ainda mais despercebida por qualquer um, mas não por mim, claro.
- Bom dia - cumprimentei sorrindo quando ela chegou ao balcão.
- Bom dia - ela respondeu, baixinho, sorrindo também . 
- o de sempre?- perguntei, mesmo sabendo a resposta.
  - sim.
-Aqui está - eu a estendi a rosa e ela a pegou com delicadeza. Ela tirou um dinheiro do bolso e colocou na minha mão, agradecendo pela flor – eu que agradeço.
Sem mais nenhum tipo de interação, ela saiu da loja. Por quase oito meses, essa rotina se repete. No mesmo horário- aproximadamente 7:00- a garota aparece aqui para levar uma rosa branca tão solitária quanto ela e sai.
Sempre me perguntei o que ela fazia com as rosas que comprava, mas nunca estendi as nossas breves conversas até chegar a esse ponto, e ela, muito menos. A beleza da garota pode até ser o que mais me atraía nela, mas o que realmente me fazia pensar nela (bem) mais do que devia era a curiosidade sobre o que ela fazia com aquelas flores e a vontade que eu tinha de conhecê-la melhor.
Com os pensamentos na garota, eu levei um susto ao ver que uma nova entrega de flores chegara. Peguei o cheque que meus pais deixaram para pagar e fui até os entregadores.
As flores que chegaram eram típicas das entregas da primavera; gardênias, lavandas, narcisos, violetas, girassóis, hortênsias e claro, rosas.
Eu ajudava os entregadores, descarregando vasos e flores menores e uma ideia invadiu minha mente enquanto eu trazia um dos buquês de rosas vermelhas para a loja. Peguei um buquê, o mais bonito, com as rosas mais rubras, e o separei, deixando-o embaixo do balcão para pegá-lo apenas amanhã.
•••
  O dia seguinte teria sido uma réplica do anterior e dos antes dele, se eu não tivesse decidido que não seria.
Eu esperava por ela no mesmo lugar, no mesmo horário, e com o mesmo uniforme ridículo da floricultura que meus pais me faziam usar. Honestamente, chegava a ser vergonhoso ter que usar isso na frente dela.
O sino da porta tocou, indicando a presença dela na loja, e o tempo parecia quase parar devido à ansiedade que eu tinha para que ela chegasse logo ao balcão. Numa fração de segundo, porém, eu peguei um dos papéis em branco dispostos no balcão, nele escrevi meu nome e telefone, e o coloquei escondido no fundo do buquê, debaixo das rosas rubras.
– Bom dia– eu falei, feliz e um tanto nervosa.
– Bom dia – ela respondeu, sorrindo.
– O de sempre?– ela fez que sim, mas ao invés de pegar apenas uma rosa branca, eu a dei também o buquê de rosas vermelhas, fazendo com que uma expressão de confusão e um tom um pouco rosado tomassem conta de seu rosto.
–O que é isso?
– É um buquê. – eu disse, sorrindo
– Mas... Por que você está me dando ele? E-eu não trouxe dinheiro para pagar por ele.
– É um presente.
– mas... - ela ia contrariar, mas sua voz morreu em sua garganta.
– Me responda uma coisa – eu pedi – Você achou as rosas bonitas?– ela fez que sim com a cabeça e eu sorri- Então, por favor, aceite esse buquê como um presente.
– Você tem certeza de que não quer que eu pague? Eu posso... não sei, voltar aqui depois do meu trabalho para pagar pelo buquê.
– não se preocupe com isso, de verdade.
– Você tem certeza...?
– absoluta.
– Sendo assim, muito obrigada pelo presente...– ela leu o nome no crachá ridículo no meu uniforme e sorriu– Sana.
– De nada...– eu comecei, mas como não sabia o nome dela, a olhei, esperando que ela me falasse.
– Dahyun– ela me disse seu nome, completando minha frase.
– Nome legal – eu elogiei
– obrigada– ela agradeceu, sorrindo, e eu vi suas bochechas ficarem um pouco mais avermelhadas – muito obrigada, Sana, pelo presente.
– De nada, Dahyun.
Nos despedimos e eu a observei sair da loja, com o buquê e a rosa nas mãos, com um sorriso em meus lábios.
Certamente, eu sabia que o dia começaria de uma maneira diferente por causa do meu presente, e o resto fora pacato como sempre, com poucos clientes entrando e saindo da loja, mas o que eu não adivinharia era como o dia terminaria.
  Quando eu estava terminando de contar o dinheiro do caixa para fechar a loja, ouvi o sino da porta tocar. Eu franzi as sobrancelhas, pois me lembrava de ter colocado a placa de "fechado" na frente da loja.
– Sinto muito, mas estamos fecha....– eu parei de falar quando vi quem havia entrado na loja – oh. Olá, Daehyun.
– Oi, Sana. Eu...espero não ter chegado muito atrasada. Saí correndo do meu trabalho para vir pra cá te perguntar uma coisa. – ela falava, um pouco tímida.
Fiquei curiosa.
– O que houve?
– É que...– ela começou a falar, mas pareceu pensar melhor no que dizer, ou se dizer. Tentei não ficar pensando no quão adorável ela estava naquele momento.– eu queria saber se...– ela realmente estava muito fofa tímida daquele jeito – Vocêgostariadesaircomigohoje.
Pisquei.
– Dahyun, desculpa, mas eu não pude ouvir o que você disse.
Ela respirou fundo e eu vi que suas mãos tremiam um pouco.
– Você gostaria de sair comigo hoje?– ela perguntou, de uma maneira que eu consegui entender, mas ainda sim rapidamente.– tipo, você não precisa dizer sim, é que eu pensei que como você me deu um presente hoje cedo, eu podia retribuir, tipo, te levando para beber alguma coisa ou...– eu sabia que cortar as pessoas enquanto elas falam é falta de educação, mas ela estava tão nervosa que acho que ela não se importou muito.
– fechado– eu disse e o rosto dela se iluminou com um sorriso lindo– tem um café ótimo a umas ruas daqui.
Em poucos minutos, eu tinha terminado de fazer tudo que tinha que fazer e mandei uma mensagem para minha mãe dizendo que voltaria mais tarde.
Durante o caminho para o café, um silêncio acolhedor tomava conta de nós, quando não trocávamos breves palavras sobre como havia sido o dia.
– É um lugar bem legal – ela disse, sorrindo, quando entramos no café. Eu sorri e concordei com a cabeça.
Nos sentamos em uma mesa um pouco mais afastada e conversamos sobre alguma superficial até uma garçonete vir até nós.
–Você trabalha com o que?– perguntei, logo após a garçonete do café ter anotado nossos pedidos e saído de perto da mesa.
– trabalho na biblioteca que fica a uns quarteirões da floricultura.
– Ah, aquela biblioteca – eu falei, me lembrando do lugar – é um lugar legal. Combina com você.
Ela pareceu um pouco confusa pelo que eu disse, mas sorriu.
– O que você quis dizer com isso ?
– É que você parece o tipo de pessoa que trabalha em uma biblioteca, sabe?
– Como assim?
– Não sei explicar muito bem. Você é fofa, parece ser uma pessoa legal e é um pouco tímida. Tem as características perfeitas para trabalhar numa biblioteca.
– Você acabou de me chamar de fofa?
– Talvez eu tenha, Dahyun.
O tom vermelho no rosto dela era bem bonito e eu fiz uma nota mental para fazê-lo aparecer mais vezes.
– obrigada.– ela sorriu, um pouco envergonhada.
– de nada.
Quando meu café simples e o chocolate quente todo trabalhado dela chegaram, nós conversávamos sobre milhões de coisas, em um ritmo frenético e gostoso ao mesmo tempo, e quando terminamos, e após manter a conversa viva por tempo o suficiente para que ,ela insistiu em pagar. Eu disse que podia pagar a metade, ou pelo menos uma pequena parte da conta, mas ela estava bem decidida a não me deixar contribuir, eu tinha dado um presente à ela antes e agora ela queria me dar um, ela disse.
Perguntei se ela morava muito longe e ela me respondeu que não, e então perguntei se ela gostaria de companhia e ela sorriu. Era a resposta que eu precisava. Fomos caminhando e conversando durante o percurso até o prédio dela,onde ela se despediu de mim e eu dela.
  Mais tarde, ao chegar em casa, meu celular vibrou, indicando uma nova mensagem.
   "Heyy, Hoje foi incrível, eu adorei

                                                             -D"
Sorri e respondi.

"Vejo que achou o meu telefone hahaha. Hoje foi mesmo incrível, nós deveríamos repetir, não acha?
                                                            -S"
  Enviei e esperei a resposta, que felizmente, veio poucos momentos depois.

D:  Com certeza!
D:  Espera... Isso foi um convite?

S: Sim, definitivamente foi um convite. Sábado está bom para você?

D: Perfeito!

S: Ótimo! Então está combinado.

D: Estou ansiosa :)

Eu também estava, muito. A conversa durou um pouco mais, até nós decidirmos ir para a cama.
Faltavam apenas quatro dias para o sábado, mas esses pareciam anos. Dahyun, para minha felicidade, me visitou na floricultura, mantendo seu costume pontual de levar apenas uma rosa, mas agora, a cor das flores era vermelha. De manhã, trocávamos breves palavras-ela não podia chegar atrasada para o trabalho, a biblioteca abria as 7:30 e ela tinha que estar lá- mas durante o dia, nossas mensagens se multiplicavam, nos mantendo sempre em contato.
Quando sábado finalmente chegou, todas as horas que eu passei em frente ao espelho ,decidindo se eu deveria colocar ou tirar algo de meu visual, pareceram voar e eu me vi apressada para o lugar do nosso encontro.
Não que seja uma novidade, mas ela estava linda. Eu provavelmente fiquei estagnada, a admirando por alguns segundos, até finalmente ir até a mesa onde ela se encontrava.
Conversamos um pouco, pedimos alguma coisinha, e conversa ia, conversa vinha.
– O que, exatamente, te fez mudar de ideia sobre a cor das rosas?- perguntei, sorrindo.
– É uma curta, mas desinteressante história.
– Eu adoraria ouvi-la.
– Certo- ela respirou fundo– Na verdade, você é a primeira pessoa pra quem eu vou contar.
Notei que o tom dela mudara, não para triste ou bravo, simplesmente ficara mais sério.
– Olha, se for um assunto delicado, eu entendo, você não precisa-
– Não, não, tá tudo bem, sério.– ela respirou fundo de novo – a primeira coisa que você tem que saber é que a biblioteca em que eu trabalho não abre às 7:30, e sim às 8:00.- eu franzi as sobrancelhas -Eu posso explicar. Há oito meses, minha mãe faleceu – ela respirou fundo e eu percebi que seus olhos marejavam um pouco – foi difícil, sabe? Eu nunca conheci meu pai, éramos só eu e ela. Agora eu moro com minha tia, ela é legal, mas não é a mesma coisa...Eu já trabalhava na biblioteca, na época, mas como o caminho mudou, já que o apartamento da minha tia è mais próximo, eu passei a caminhar até o cemitério onde minha mãe foi enterrada, passar um tempo com ela e deixar uma flor, uma rosa, antes de ir trabalhar. Eu fiz isso quase todo dia. Eu ia até a sua floricultura, pegava uma rosa, ia até o cemitério ver minha mãe, às vezes para conversar um pouco com ela, às vezes só para deixar a rosa, e ia para o trabalho. Era doloroso fazer isso, mas um dia, eu percebi que não precisava. O dia em que você me deu um buquê foi muito mais do que um simples dia, foi quando eu finalmente percebi que eu poderia seguir em frente. Minha mãe sempre esteve e sempre estará comigo, mas eu também preciso de outras pessoas, entende? E aí você apareceu, com o seu buquê e as suas rosas vermelhas.
  Naquela noite, pela primeira vez de muitas, nós andamos de mãos dadas , e nos beijamos, dando início à algo muito mais profundo do que uma simples relação, uma intimidade de almas em tamanha sincronia que fazia tudo ao nosso redor parecer pequeno comparado a nós.
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E mais importante, muito obrigada por terem lido, significa muito pra mim♥️

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