-Droga! Mil vezes droga! - Berrou Josef ao bater o dedinho na quina da cama - Merda de vida, já acordo com essa sorte!
Ainda resmungando foi até a cozinha, abriu a geladeira com violência. Pegou uma cerveja já aberta e virou pela garganta, tomava rápido como água.
-Está horrível! Que lixo. - Jogou a garrafa no chão e foi até o sofá, onde desabou seu corpo.
-Cadê a merda do controle!? - Ainda era Josef reclamando - QUE DROGA!
Ele levantou com raiva, procurou embaixo das almofadas sujas, no chão cheio de roupas e comidas velhas esparramadas. Depois de uns dez minutos encontrou o controle embaixo de uma caixa de pizza.
-Finalmente... - Murmurou.
Ligou a TV:
-"... Esse ano o aumento nas vendas de presentes de natal está ajudando muito aos comerciantes, o aumento foi de 7,2%..."
Pula.
-"... Não percam, nessa véspera de natal, show especial para vocês, começa às 23:00, após a novela das 21:00..."
Pula.
-"...A seguir mostraremos como preparar um delicioso panetone caseiro, para saborear junto com toda a família...".
Desliga.
-Porcaria! Só sabem falar disso.
-Miau... Miau, miau, mi-auuuuu...
-Mas que droga é essa!? - Reclamou mais uma vez Josef.
-Miiiau... Miau, miau, miau... - Miava um gatinho. Parecia faminto.
-Droga de gatos! Essas pestes vivem aparecendo aqui!
-MIAU! MIAU! - Chamava desesperado o gatinho.
-CALE A BOCA! -Gritou Josef em resposta.
-M...i...a...u? - Pobre gatinho - MIAU!
-VÁ EMBORA! NÃO TENHO COMIDA!
Silêncio... Será que o gatinho foi embora!?
-MIAU!
Foi nada. Ele era persistente, mas estava irritando o cabeça dura do Josef. Ele levantou com ódio:
-Desgraçado! Vá infernizar outra pessoa!
Em passos pesados e cansados foi até a porta da frente e abriu. O gatinho estava lá, era todo preto com patinhas brancas e olhos verdes. Sentado com elegância; seu rabinho enrolado no corpo como se fosse um acessório da moda.
De frente a frente com o inimigo, não é Josef!?
-O que quer, caramba! Não vê que quero ficar em paz!?
-Miaaau - Parecia ofendido.
-Melhor você ir. - Disse encostando a porta.
Infelizmente, gatinho, não foi dessa vez. Quem sabe numa próxima oportunidade... EPA. Uma patinha segurou a porta:
-M-I-A-U! - O gatinho estava enfrentando Josef.
Josef, muito zangado, pegou a vassoura atrás do vaso antigo e empoeirado; pronto para atingir o gatinho. Mas ele entrou para dentro da casa; Josef sacudia a vassoura igual um boneco de ar:
-SAIA DAQUI, GATA! NÃO! NÃO ENTRE!
Tarde demais Josef, ele ou ela entrou, e já faz um tempo, meu amigo.
Josef estava fervendo de raiva, empurrou a porta com tanta força que a vidraça trincou. Correu para a sala a procura do bichinho:
-TUMRI... Ri... TUMRI... Ri... - Era o toque ridículo do celular de Josef.
-Droga! Agora preciso encontrar o celular.
Seu idiota, está no seu bolso!
-TUMRI... Ri... TUMRI... Ri...
-JÁ VAI! JÁ VAI! - Dizia ele, como se alguém estivesse realmente o ouvindo.
A luz do celular começou a piscar no bolso da calça, só assim ele se deu conta que estava lá:
-ALÔ? Ah... Oi mãe. - Ele abaixou um pouco a voz - Obrigado por cuidar do Fernandinho, mãe.
Aos poucos ele foi se acalmando, sentou-se no sofá, apoiou a cabeça em sua mão esquerda:
-Eu sei, mãe... Sei que é natal, é importante para ele, mas ainda não consigo. - Ele suspirou - Sinto muito, vou tentar... Não vou... Falo com você depois... - E desligou entristecido.
Ele guardou o celular novamente no bolso, encostou a cabeça no sofá e fechou ambos os olhos.
-Miau.
Opa!
Josef abriu os olhos, o gatinho estava no braço do sofá, olhando fixamente para ele:
-Ai está você! - Josef ergueu lentamente os braços na tentativa de agarrar o gato - VENHA!
A tentativa falhou. O bichano pulou com a destreza de um verdadeiro ninja. Josef saiu do sofá correndo atrapalhado como um palhaço de circo:
-VENHA! AQUI NÃO É SEU LUGAR! SÓ QUERO FICAR SOZINHO!
-MIAU - Retrucou o gatinho.
-ELA NÃO ESTÁ AQUI!
Uma cadeira. Duas cadeiras, espere... Três cadeiras caíram no chão, mais um vaso de flores mortas espalhando a terra por todo o carpete. Mas quem derrubou tudo foi o Josef, pois o gato fugia com graciosidade.
-NÃO ENTRE NO MEU QUARTO! - Ordenou Josef.
O gato rebelde entrou, descumprindo o mandado.
-NÃO!
-Miau... - O gatinho se lamentou, acabou de tropeçar.
-VOCÊ... Quebrou?
Josef estava assustado, lentamente se aproximou do gatinho, próximo de suas patinhas havia um porta retrato totalmente trincado no chão. Ah não... O gatinho quebrou.
Josef tirou a fotografia, e com as mãos trêmulas, ele segurou próximo ao seu rosto.
Na foto estava ele, nosso Josef resmungão, mas desta vez sorridente. Também havia uma linda mulher de cabelos cor de chocolate e um pequeno menininho e... EPA, um gatinho preto com patinhas brancas.
-Sinto muito, Iara... Mas ela se foi. - Falou ele para o gatinho, quer dizer, gatinha.
-Miauuuu... Miau!
-Ela gostava muito de você, sem ela aqui... Você não vai nos querer.
Josef, o grandão reclamão da nossa história caiu no chão, agarrado à foto de sua família ele chorou... um choro forte e longo.
-Não sei o que fazer sem ela, Iara... Não sei.
Iara se aconchegou no rosto do dono, lambendo as lágrimas que caia:
-miau, miau...
Josef sorriu:
-Ei, isso faz cócegas...
Iara não ligou, continuou a limpeza de lágrimas, colocou a patinha branca em cima da foto.
-Tem razão, Iara... Vamos, me ajude a limpar essa casa. Ruth detestaria ver ela assim... E em seguida, vamos até o Fernando.
-Miau!
FIM.
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Miado
RandomUm gatinho na porta insiste em entrar, mas um homem rabugento nega com todas as forças sua presença. *Direitos autorais, previsto na constituição, e está sujeito às denúncia e pena. CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS. Art. 184, do código penal...