Capítulo único

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A chuva caía naquela tarde fresca de verão e eu resolvi me prender dentro de uma livraria para esperar a chuva passar para eu retomar meu rumo até em casa. A escola ia bem, mesmo que eu não gostasse tanto assim dela, principalmente dos outros alunos de lá. Parecia que eles não me entendiam, de certa forma, parecia que ninguém do mundo me entendia. Dizem que esse sentimento era comum com adolescentes da minha idade, esse sentimento de que ninguém iria entender a gente.

Enquanto a chuva caía eu resolvi me adentrar nos livros, olhar o que tinha de lançamento. Eu admirava os escritores, porque eles conseguiam imprimir perfeitamente tudo o que a gente sentia em páginas e mais páginas de livros.

Os poetas também me inspiravam, principalmente na forma como eles transformavam em versos amor, ódio e outros sentimentos com uma facilidade exuberante.

Enquanto a chuva desmanchava pelo céu eu escutava a música de elevador da livraria e pensava: "o que raios eu estou fazendo da minha vida?", respirei fundo e via que nem eu sabia. Com o natal se aproximando, as férias chegando e tudo isso na velocidade da luz eu começava a me pressionar para saber o que eu deveria fazer da minha vida depois que as férias acabassem.

Eu já tinha me ocupado e tirado dois domingos dos meus fins de semana para fazer o ENEM e tentar dar um rumo para minha vida, mesmo assim eu não conseguia chegar a nenhuma conclusão de fato.

Apenas vivia minha vida no monótono ciclo da minha rotina na esperança que algo ou alguém viesse me salvar, mas era mais difícil do que se imaginava quando eu comecei.

E apesar de todos os testes que fiz para saber qual era minha vocação em nenhum deles eu consegui um resultado que me agradou completamente.

Eu no final das contas não sabia o que fazer comigo mesma.

Que vergonha, Mia!

Um garoto encostou em mim na livraria e quase me matou de susto. Eu estava tão no meu mundo que me isolei completamente da vida real. O rapaz recebeu minha surpresa exagerada com um sorriso de lado, e ele tinha um belo sorriso cá entre nós.

— Será que eu posso te ajudar? — Por um momento fiquei completamente fora de órbita, eu ainda estava entre o meu mundo e entre o mundo de verdade.

É... Não. Obrigada. — Ele pendeu a cabeça levemente para o lado e sorriu ainda mais aberto e eu fiquei levemente bamba. Deveria ser proibido ter pessoas tão bonitas trabalhando em lojas, principalmente quando elas atrapalham nossos momentos de contemplação.

Tem certeza? Você parece bem perdida. - Mordi o lábio inferior quase que implorando para que o vendedor ficasse mais um pouco, porque eu estava gostando da presença dele ali. De certa forma era acalentadora e me trazia muita calma.

Era como se por um momento eu não estivesse perdida, como ele mesmo disse.

— Tenho, sério. — Ele sorriu, passou a mão nos cabelos castanhos e começou a se afastar andando de costas.

— Bom, se precisar de qualquer coisa, meu nome é César. — César se afastou e não disse mais nada. Tentei voltar para meu momento de contemplação novamente, mas já era tarde demais, fui completamente tirada do meu eixo pela presença daquele rapaz.

Pensei em ficar com raiva dele, mas levei numa boa, até porque como eu mesma havia chegado a conclusão ele me trouxe uma centelha de paz.

Minha mente estava absurdamente confusa nos últimos dias. Com tudo o que estava acontecendo eu não poderia esperar nada diferente de mim.

A chuva se tornava bonita, porque parecia que o céu estava entendendo perfeitamente a forma como eu me sentia e essa empatia que o cosmo parecia ter por mim era algo que quem estava do meu lado não tinha.

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⏰ Last updated: Dec 24, 2017 ⏰

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