Capítulo Único

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A morte. Sempre tão viva e sempre tão veloz parece brincar lado a lado com a velocidade da luz, levando quem amamos e nos deixando para trás. Eu tinha um amor, um amor que me foi tirado. E quando eu descobri isso, foi o momento em que fui desafiada.

Quando recebi a notícia do falecimento do meu grande amor, juro que fiquei arrasada, mas também jurei descobrir como ele morreu... Acabei descobrindo que sua vida foi tirada, não pela morte, mas por alguém e consequentemente, jurei descobrir isso também.

Há alguns dias encontraram o seu corpo no beco de uma lanchonete ao fim da cidade. Nós sempre nos encontrávamos lá. Sempre. Era como um refúgio em meio ao caos diário da vida urbana e consumista. Um local onde calorias não importavam e músicas bregas não furavam ouvidos... um local pacífico, sem barulho, sem câmeras, sem violência, sem morte. O que me levou a questionar sobre quem teria cometido tamanha atrocidade contra meu pobre Luís. E digo que não demorou tanto para que eu descobrisse...

Luís foi o meu grande amor, talvez isso tenha me motivado ou talvez outra coisa tenha feito isso. Comecei pelo local onde ele trabalhava, no editorial de Júlio Steingard, um homem rico, poderoso, vulgar... e muito bonito. Sua função era cuidar da parte administrativa, tratar de assuntos internos, bem como gerenciar alguns dos modelos.

A morte de Luís, no entanto, não afetou em nada na empresa em si, apesar dele ser um grande trunfo para ela, pois foi com as suas ideias que a marca de Júlio se alavancou. Porém, ele sequer fez uma homenagem decente ao seu funcionário ou talvez colega de trabalho, já que muitos dos outros funcionários, quando fingi ser uma nova funcionária, me disseram que Júlio o considerava seu braço direito... seu "amigão".

Não pude evitar sentir um ódio imediato por ele – apesar dos seus empregados também relatarem que Júlio estava abatido pela notícia da morte de Luís – e transformá-lo no principal suspeito do seu assassinato. Tive algum tempo para me preparar, estudar a rotina de alguns dos funcionários e a de Júlio, analisar os horários de funcionamento do edifício que sedia o editorial e pontuar em benefício próprio cada falha de segurança ou interna que me oferecesse a chance de fazer meu trabalho sem correr riscos superficiais ou amadores. Assim, quando tudo estava posto às claras para mim, eu pus em ação o que planejava.

Já dentro do editorial, com minhas credenciais e identificações falsas, eu quase fui pega desprevenida enquanto brincava com a caneta de Luís, que ainda estava sobre a mesa em que ele trabalhava... Uma mesa que agora estava vazia. Foi então que subitamente Júlio sussurrou ao meu ouvido:

— Essa mesa não é sua, mocinha...

Meu coração parou naquele instante, numa fração de segundo fiquei congelada ali, sem reação, tomada pelo susto e pela surpresa dele estar ali... O possível e potencial assassino de Luís. Mas no mesmo instante, virei-me com um sorriso cínico e disse:

— Aposto que também não é a sua!

— Então você não me conhece. – Ele concluiu com um sorriso de canto de boca.

— Eu deveria?

— Bom, eu sou Júlio Steingard, dono da empresa e da cadeira onde está sentada.

— Oh, desculpe... Eu... eu não sabia... – Simulei estar desconcertada com o que ele disse, mas minha intenção era fazer com que ele dissesse o que disse logo em seguida.

— Tudo bem, não precisa ficar envergonhada. Você aparenta ser uma boa pessoa... Pode ficar nesta mesa, mas antes a limpe e traga para minha sala todos os itens pessoais que tiver aí.

Angústia SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora