Uma casa simples, com paredes de reboco em uma favela de Sorocaba, mal iluminada porém muito limpa, um cachorro late ao longe, começa um movimento de motos pelas ruas e da pra ouvir a condução passando em um rua logo abaixo da viela, as pessoas se levantam para trabalhar as 5:30 dá manhã de uma segunda feira.
João: 35 anos, negro, 1,78 de altura, magro e careca, tem olhos pretos como um grão de café, usa óculos e bebe pouco, tem o nariz largo e uma boca pequena, assim como suas orelhas, tem as mãos calejadas por anos de trabalho na profissão de pedreiro, otimista sobre a vida é a pessoas, acredita em um amanhã melhor.Mariana: 36 anos, esposa de João, branca com os olhos verdes iguais a uma esmeralda, se casou com João por amor, 1,67 de altura, um pouco acima do peso, cabelo liso e curto, utiliza óculos e acredita que nada irá mudar em suas vidas, doméstica desde os 14 anos, tem dois filhos com João, sendo que um deles está cursando faculdade de direito, motivo de orgulho em toda a família, enquanto o outro se encontra envolvido com pessoas de má influência, o que desagrada em muito os seus pais.
Josué: 19 anos, estudante de direito, ama os seus pais acima de tudo, 1,85 de altura, cabelo crespo cortado em estilo militar, usa óculos e tem os olhos iguais aos da mãe.
Samuel: 21 anos, irmão de Josué, gosta de ver como é fácil a vida do crime é acha que Josué e um idiota, se imagina como dono do morro e com tudo o que a vida do crime pode lhe proporcionar, 1,80, magro, com os olhos do pai, branco igual a sua mãe, cabelo em Dreadlocks, tem as mesmas características de corpo que seu pai.
O dia amanheceu, e como sempre João escutava o cachorro da vizinha latindo, ele já pensou diversas vezes em dar um jeito no cachorro, mas acabou gostando do jeito engraçado que ele abana o rabo quando vê ele chegando do trabalho cansado, além de sempre latir as 5:00 em ponto, como se soubesse que o seu vizinho não tinha dinheiro para comprar um despertador e que tinha que acordar às 5 para pegar a condução 5:30, seu trabalho ficava do lado sul da cidade, aonde a empresa para a qual trabalhava estava construindo um prédio, João se levantou, beijou a testa de sua esposa e procurou seu chinelo, e de novo praguejou ao ver que o prego que tinha batido nele tinha saído novamente, mas tudo bem, era bom sentir o frio do chão de cimento contra os pés, quase faziam esquecer do calor insuportável das vítimas que tinha que usar das 7 as 4, e da condução cheia, lotada de pessoas mal humoradas logo de manhã, xingando e se empurrando até o caminho do terminal, João foi direto para a cozinha, colocou a água no fogo para passar o café, e pegou umas bolachas Maizena, olhou na geladeira e não encontrou leite, ia falar com Mariana para comprar na próxima vez que fosse ao mercado.
- bom dia pai, disse Josué, que já tinha se levantado para entrar na faculdade as 7 dá manhã
- bom dia meu filho, que Deus te abençoe, por que levantou tão cedo hoje? Tu bem que pudia dormir até às 6, tu vai de carona com o rapaz lá, teu amigo, qual é o nome dele? Pergunta João enquanto coloca o água dentro do coador com o café, que por acaso também está acabando.
-ah pai, o nome dele é Manuel, e não, ele não vai ir hoje, está doente e precisa de descanso, emendou o rapaz pegando as xícaras dentro do armário, o que Josué não disse ao seu pai e que Manuel era um pouco mais do que seu amigo, tinham um relacionamento um pouco fora dos padrões que seu pai considerariam "coisa de macho" e preferiu não comentar, nem mesmo com a sua mãe, sem juntar o fato de que a "doença" de Manuel era na realidade uma surra que ele tinha levado de um grupo de pessoas que não aceitavam o fato dele ser homossexual, que o cercaram logo após ele sair de uma balada, realmente o mundo está cheio de pessoas sem sentido.
- seu irmão está aonde?, Perguntou o pai, que já tinha terminado seu café e estava se arrumando para ir trabalhar
- não sei, ele saiu ontem, vai ver dormiu casa de alguém, ele nunca diz pra onde vai, na verdade ele mal conversa comigo, a não ser pra me chamar de bicha, otario e viado, diz Josué olhando para o seu café, sem coragem de olhar nos olhos do pai, o que ele nunca contou é que o seu irmão já tinha visto uma vez ele beijando um rapaz, ele não contou para os seus pais, mas disse que nunca na vida imaginou que o irmão poderia ser um "boiola, você é a vergonha da nossa família, e não o orgulho, eu sabia que por trás desse teu jeitinho aí, tu era bicha, não encosta em mim, é nem em nada que é o meu, vai que tu passa essa viadagem pra mim, baitola dos infernos, só não te quebro na porrada porque eu não encosto em bicha", essas palavras machucaram, e muito, mas ele não deixou aquilo afetar a sua vida, levantou a cabeça, desde criança soube que era diferente do padrão, diferente daquilo que as pessoas diziam que ele era, mas ele nunca se sentiu estranho, sabia que mesmo com a diferença que as pessoas viam em sua orientação sexual, ele era tão normal quanto qualquer pessoa é, e que poderia ser feliz do jeito que quisesse.
- olha filho, eu tô indo fica com Deus, juízo, diga a mãe que ela tem que comprar café, deixei 10 conto pra ela ali, quando eu tive voltando eu compro mistura, disse João saindo para a madrugada fria e mal iluminada da rua de terra, ele avistou o cachorro da vizinha e passou a mão na cabeça dele, mas o cachorro tinha uma tristeza nos olhos, como se imaginasse que aquela era a última vez que teria aquele afago, mas João não prestou atenção naquilo e continuou andando em direção ao ponto de ônibus, esperou o ônibus por uns 10 minutos, até entrar e pagar a sua passagem, estranhou o fato de que o ônibus estava meio vazio ( isso é, se puder se chamar de vazio um ônibus com todos os bancos ocupados e o corredor com duas pessoas por metro quadrado), foi para o fundo do ônibus, e esperou, afinal só desembarcaria no terminal, pegaria outra condução até o seu trabalho, que demora em média 15 minutos para chegar e mais 15 para sair do ponto, ele nunca entendeu o porque do motorista demorar tanto, e por causa disso ele saia tão cedo de casa, o ônibus ia lento e cheio, balançando e com pessoas se xingando, de espremendo e se esfregando, João sentia o cheiro de bebida de longe do homem ao seu lado, cheirava forte, a cigarro e a cachaça, ele se virou para João e disse:
- a vida é realmente um monte de mentiras, as pessoas mentem sobre o que querem, mentem sobre quem são, você mente sobre quem é, é sobre a realidade das coisas, é no final a vida mente para você, você acredita ser feliz é descobre que nada tens para chamar de seu, que nada tens a não ser mentiras, ele disse isso é dá sinal para descer, o motorista abre a porta e ele desce, João pensa em Mariana enquanto entra na segunda condução, pensa em Mariana e nos meninos, Josué, rapaz tão responsável, nunca trouxe namorada pra casa, nunca foi visto com mulheres ou bebendo e fumando, sempre foi dedicado aos estudos e obediente aos pais, seria esse o motivo do seu irmão, seu total oposto chamar o irmão de bicha? Deveria ser, só podia ser, afinal o seu Josué jamais lhe daria desgosto, era cabra macho sim, nunca que ia cometer um pecado desses contra Deus e dar desgosto para a família, e com esses pensamentos ele trabalhou até 12:00 dia, comeu a sua marmitinha fria que se resumia a feijão, arroz e ovo com farinha, simples, pra não gastar muito já que as contas estavam chegando e recebia míseros 800 reais por mês, sua esposa ganhava 600 reais, o que parecia muito, mas não muito quando se pagava 600 reais de aluguel, água e luz, comida, transporte, além de uma conta ou outra que a gente sempre acaba fazendo mesmo sabendo que não pode, voltou ao serviço e trabalhou até às 4 horas, o dia hoje tinha sido puxado, o encarregado estava na obra e todo mundo quis mostrar serviço, já que o patrão estava mandando embora todo mundo que fazia corpo mole afim de cortar gastos, João carregou massa e concreto até não aguentar mais, mexeu bem umas 20 Massadas no dia, estava exausto, completamente moído tanto no físico quanto no mental, pegou o ônibus até o terminal, estava sentado quando entrou dois homens no ônibus, e gritaram logo após passar a catraca, tirando armas de sua cintura:
- isso aqui é um assalto, todo mundo vai passando celular, carteira e o que mais tiver valor pro meu parça aqui, quem tentar ser super herói vai ganhar uma bala na cabeça, vamo porra, vamo, passa os bagulho pra cá, depressa, todo mundo vamo!, O segundo homem passou em João e apontou sua arma para a testa dele, João suou frio, e tentou dizer sem gaguejar:
- rapaz, disse João, eu só tenho uma passagem, só o cartão de passe na verdade, não tenho mais nada, sou pai de família, tenho filhos e esposa pra dar de comer, pelo amor de Deus, não faz nada comigo não, pediu, segurando o choro e pensando na esposa e nos filhos.
O homem olhou nos olhos de João, por um segundo João jurava que conhecia aqueles olhos verdes, que já tinha visto eles, eram iguais aos de sua esposa, tinham a mesma inocência, o mesmo tom de esmeraldas, o homem saiu sem dizer nada, e voltou pegando os pertences de todo mundo.
- muito bem, aí, agora a gente vai sair de fininho, ninguém reage, senão vira pó, me entenderam?, E dizendo isso mandaram o motorista abrir a porta, o que o mesmo fez correndo, assim que saltaram do ônibus foram surpreendidos por duas viaturas que já aguardavam os indivíduos, é que acabaram por trocar tiros com a polícia, João ficou encolhido, embaixo do banco, enquanto o tiroteio rolava solto, os dois minutos que pareciam horas para João tinham acabado, é quando ele se levantou viu manchas de sangue pelo chão, olhou pela janela e viu os dois assaltantes com tiros pelo corpo, e um policial baleado pedindo ajuda médica, João estranhou a angustia que cresceu em seu coração, é decidiu sair do ônibus para olhar a situação, quando de repente escutou um sussurro:
- o pai, me perdoa, me perdoa, eu não queria, ao ouvir essa voz seu coração gelou e ele entendeu que os olhos tristes do assaltante eram na verdade o seu filho mais velho, o seu Samuel, estirado e com pelo menos 8 tiros espalhados pelo peito, perna e braços
- meu filho! Meu filho! João parecia um louco, um animal, agarrando seu filho quase sem vida e ficando gelado, se manchando com o seu sangue, aquele sangue que também era seu, sangue e lágrimas pelo seu rosto
- eu te falei, te falei pra ser igual o seu irmão, pra não andar com vagabundo, te falei meu filho!, E não conseguia mais falar, o choro e a dor acabaram com a sua capacidade de pensar e falar, ele só balançava o corpo do filho e chorava, chorava como uma criança, se sentia o mais inútil e triste dos homens naquele momento
- ser igual meu irmão? Deu um sorriso ensanguentado, ser bicha pai? Sabe o cara que leva ele pra faculdade? O cara, diz cuspindo sangue, come ou dá pra ele pai, são dois boiolas, bicha bicha bicha! Eu tenho nojo dele, diz gritando entre soluços e sangue, pai, diz pra mãe que eu amo ela, diz pra ela que eu queria dar uma vida melhor pra e não pude, pede pra ele me desculpar, por favor, e seu filho deixa de falar, fica mole, frio, e João percebe que seu filho morreu, mas ele sente uma dor no coração, meu filho é gay? Meu filho? Meu orgulho? Não pode ser, é mentira, é mentira ! Meu filho acabou de morrer, e outro morreu pra mim, porque Deus? Porque?, O coração de João para no momento em que ele pergunta o porquê, João cai, com a vista embaçada ao lado de seu filho, pai e filho morrem juntos, enquanto, do outro lado da cidade alguém recebe uma ligação: então senhora, seu marido Pedro Simião da costa, e seu filho Samuel Simião da costa e Silva, estão mortos, meus pêsames, senhora? A senhora está na linha? Senhora??, Apenas se escuta o barulho do cachorro da vizinha chorando, é o vai e vem das motos em uma bela tarde de segunda feira.Então galera? O que acharam da primeira história? Comentem, curtam, briguem comigo também, me contem suas emoções, eu escrevi essa história, sem parar pra respirar praticamente, além disso, eu pensei em outros três fins para ela: João contando a história, bêbado em um bar, acabado e sozinho, outra era de sua esposa ficar doente, por causa dos acontecimentos e ele relatar para ela, é por último, seu filho Josué ser expulso de casa, isso galera, pode parecer ficção, mas acontece é muito em nosso país, filhos que morrem todos os dias para o crime, pais que não aceitam a sexualidade de seus filhos, preconceito que vem da própria família a ponto de denominarem como desgosto, o vocabulário, galera, na parte em que o pai e o irmão do Josué falam dele, vocês sabem que é o que a maioria das pessoas chamam e usam para agredir pessoas com opções sexuais diferentes, eu tentei ser o mais realista possível nessa questão, desde já vocês sabem que eu sou totalmente a favor da livre expressão sexual e racial, desde que isso não cause mortes para ambos os lados, o que é triste já que geralmente causam por existirem pessoas que não compreendem o bom e velho livre arbítrio e atacam por motivos fúteis jovens, velhos, enfim, toda a faixa etária do grupo LGBTs, isso é triste, porque um ser humano matar outros seres humanos por causa de que as suas ideologias não batem é algo idiota, ( coisas tristes acontecem quando alguém quer exterminar uma população apenas por questões étnicas e ideológicas, por exemplo o nazismo com os judeus, homossexuais e outras pessoas que não se encaixavam no padrão de Hitler), então galera, é isso, nem todas as histórias vão ser grandes, algumas vão ter uma página e outras 10, 20 enfim, vou escrevendo conforme vai nascendo as ideias, além disso, me desculpe se tiver uma história triste e depois outra alegre, eu vou fazer isso por dois motivos: o primeiro é que depende do meu estado de espírito no dia, e o segundo é porque eu gostaria de tirar o clima pesado, afinal, vocês estão aqui para se emocionar, de felicidade e tristeza, não só ficar triste não é mesmo?, logo logo eu vou atualizando vocês sobre qualquer outro assunto que diga respeito a criação das histórias, okay? Até mais crônicos!, E não se esqueçam de comentar, assim vocês me ajudam a melhorar as histórias cada vez mais. Forte abraço!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A doença crônica de um cronista
Randomesse livro nasceu da intensa vontade do autor de contar histórias, e por isso nada melhor do que contar histórias sobre pessoas, do cotidiano do nosso Brasil, pode ser que sejam histórias sobre o autor ou apenas ficção, cabe ao leitor definir o que...