Das cores que te dei

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E os fogos coloridos começaram a explodir no céu quando o relógio deu meia-noite

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E os fogos coloridos começaram a explodir no céu quando o relógio deu meia-noite.

"Feliz ano novo", eles diziam felizes entre sorrisos, risadas altas e abraços, na varanda que dava de frente para a praia.

Feliz ano novo para quem?

Marina avançou de braços estendidos e me puxou num abraço apertado. Logo em seguida, depositou um beijo na minha bochecha. Ela sempre fazia isso.

— Agora nós somos a sua família, huh? - riu.

Dei um meio sorriso. Os lábios trêmulos entregavam o quão nervosa eu estava.

— Ei - ela murmurou. — Tá tudo bem.

Não estava. Ela sabia que não estava.

Eu apenas segurei forte sua mão e aquilo foi suficiente para que ela fizesse o mesmo logo em seguida.

— Faz quanto tempo que você saiu de casa, Amy? - Tia Fran interrompeu inocentemente o nosso momento.

Ela quase sempre estava com um copo na mão. Pelo menos sempre que nos víamos. O álcool era a única coisa que ainda a mantinha mais viva do que tudo. Era o que distorcia parte da sua realidade de merda. Quase igual a minha.

— Tia - Marina bufou. — ela não saiu de casa. Foi expulsa.

Revirou os olhos.

— É só uma pergunta, você não pre...

— Cinco meses. - respondi — Aposto que o ano novo deles esse ano está muito melhor agora que não tô mais lá.

— E o nosso também está muito melhor, principalmente agora que conhecemos a pessoa que faz a nossa garotinha muito feliz - Sr. Mattos sorriu. — É bom ter você aqui conosco, Amy.

Eu forcei um sorriso. Honestamente, tudo era estranho ali. Estar sendo tratada de um jeito natural por pessoas que realmente pareciam felizes com a minha presença era a última coisa que eu poderia imaginar. Tudo era estranho, mas ao mesmo tempo, bom. Era parte de uma liberdade que ainda não haviam me deixado experimentar.

Quando a garota de cabelos de algodão doce desapareceu no meio de toda aquela gente, eu estremeci, mas logo fiquei bem quando ela reapareceu com duas taças de vinho em mãos, e uma empolgação que já deixava transparecer.
Ser amiga(e namorada) de Marina era ser alguém privilegiado. Não que não fosse um privilégio ter outras pessoas como amigas, mas com ela era diferente. Diferente porque tudo nela era especial e porque tê-la era como ter o mar dentro de um abraço. Ela era fúria e calmaria ao mesmo tempo, e isso a tornava única no meu ponto de vista.

Era engraçado lembrar que havido sido Marina quem havia decidido que eu deveria me libertar das amarras que apertavam os meus pulsos e a mordaça que machucava os lábios. Mas, junto dessa decisão, ela fez uma promessa digna para mim. Eu lembro quando ela fitou os meus olhos brilhando por conta das lágrimas e disse: nunca, em hipótese alguma, abandonar. E se nada for suficiente, passar por cima de tudo e todos.
Foi ela, também, que me ajudou a lidar com as coisas ao meu redor. Definitivamente eu comecei a odiar toda a pressão que passaram a fazer sobre mim quando virei amiga da "garota estranha", mas passei a odiar ainda mais a pressão que eu mesma comecei a fazer quando descobri que gostar de garotas havia se tornado uma cruz mais pesada do que eu conseguia carregar.

Durante o terceiro ano do ensino médio que percebi que estar com Marina era a única coisa que parecia me manter viva naquele inferno de colégio além das últimas duas aulas de filosofia das terças e quintas feiras. E aí entendi o que estava acontecendo: eu gostava dela. Ela era a fúria e a calmaria que eu gostava de ter na vida, nos abraços, nas conversas, nos dias bons e nos dias ruins.

Quando beberiquei um pouco do vinho que ainda restava na taça, a garota a tirou apressadamente da minha mão e me puxou para a varanda que já estava vazia.

— Vê aqueles fogos sem graça no cantinho? - apontou

— Não gosto muito do barulho. - dei de ombros

— Certo, certo. Nem eu. - riu — Mas tudo bem.

— Continue - falei

— Eles parecem você. - ela começou e eu franzi o cenho, sem entender onde ela queria chegar — Prometo que vai ser bom, calma.

— Certo

— Quando te conheci, você era cinza. Igual a eles. - eu os fitei mais uma vez.

Fazia sentido.

— Das cores que te dei, Amy... todas elas juntas formam o nosso nós.

Sorri. Eu amava aquela garota.

A puxei para mais perto e depositei um beijo em seus lábios.

— Feliz ano novo? - perguntou ela sem jeito.

— Feliz ano novo.

Das cores que te deiOnde histórias criam vida. Descubra agora