Dia 5 de Fevereiro de 1890

30 6 0
                                    

           

Acordei, rotina de sempre. (Não sei o que está havendo comigo. Antes era um prazer escrever sobre meu dia no Farol, mas agora é quase um tormento... Enquanto escrever sobre Claire parece cada vez mais interessante).

            À hora do almoço, Bram e Lucy chegaram. Trouxeram uns pratos mais sofisticados, um ganso assado bem grande com um molho pesado e queijo, um filé preparado com uma massa envolta e asinhas de frango fritas. Comemos e conversamos. Ofereci um pouco do uísque para Bram, que aceitou.

            O jovem ficou curioso sobre como consegui o uísque, então falei que encontrei uma caixa que tinha a garrafa, uns charutos estragados e um negativo.

            Conversamos até a hora de minhas obrigações vespertinas. Eles foram embora. Disse que se quisessem podiam ficar para o jantar, mas não seria tão esplendoroso. Bram falou que receberia visita e tinha de se apressar.

            Há algo de estranho nesses dois. Muito estranho. Pouco importa.

            As atividades vespertinas me tomaram mais tempo do que eu queria, então logo me aprontei e levei o jantar para comer no subterrâneo, para não perder um segundo de conversa com Claire.

            "Achei que não ia vir depois de ontem...", ela disse, "Ah! Que cheiro bom!"

            "É só um pouco de peixe assado e feijão que me trouxeram da cidade... Nada demais..."

            "Quando passamos tanto tempo trancados esses cheiros nunca são nada demais..."

            "Desculpe por trazer isso..."

            "Não, não! É bom! Pode fazer sempre?"

            "Claro! E eu vou arrumar um jeito de tirar a senhorita daí, para comermos juntos algum dia desses."

            "Obrigada, mas eu sei que vou morrer aqui. Já aceitei isso. E por culpa dele..."

            "Hoje pode continuar a história?"

            "Não está curioso sobre o por que não falei ontem?"

            "Não... Tenho certeza que teve um bom motivo, apesar de eu querer muito ter falado com a senhorita..."

            "Chega desse 'senhorita'! Me trate por você. Mas sério, Nate, você é uma peça rara. Por favor, não mude."

            "Obrigado... Eu acho."

            "Bem, eu ainda acho que tenho obrigação de me justificar. Estava com dores de estômago muito fortes... Mal conseguia falar."

            "Deve ter sido algo que comeu."

            Esse comentário fez eu pensar se ela sequer comia.

            "Talvez. Não importa."

            "Mas está melhor?"

            "Estou. Obrigada por ficar tocando ontem para mim."

            "Sempre que quiser."

            "Onde eu parei na história? Ah, sim. Nós três ficamos grandes amigos. Bem, eu adoeci muito. Muito mesmo. Quer dizer, no começo começou com umas tonturas, fraqueza. O médico suspeitou de anemia ou perda de sangue, mas não achou nenhum sinal de ambos. Aos poucos, fui piorando e piorando e não conseguia nem levantar da cama. O sol me ardia a pele, então precisava do escuro, sentia dores e fraqueza. Ele vinha me visitar. Achava que era por mim, mas então descobri que pediu minha irmã em noivado. O porco!"

            "Deus do Céu!"

            "Eu morrendo e ele se casando com minha irmã! E ainda não é tudo... Não, não! Com medo de que a doença se espalhasse, o povo de Moon Hollow queria se livrar de mim! Meu pai não deixou que me matassem, então o desgraçado ofereceu um lugar do farol onde eu podia simplesmente ser esquecida! Essa maldita sala onde estou!"

            "Que miserável! Como é o nome desse homem tão perverso?"

            "Nathaniel Thorne."

            "Nat... Eu sinto muito..."

            "Por quê?"

            "Eu conheci os netos dele... Fiz um pouco de amizade com ambos. Pareciam ser boas pessoas."

            "Talvez sejam. Eles não tem culpa dos pecados dos avós."

            "Vou descobrir isso. Mas me desculpe."

            "Não se culpe por algo que você não tinha como saber, Nate. Olhe, acho que já é hora de você ir dormir..."

            "Tem razão, Claire... Mas eu prometo que vou tirá-la daqui! Custe o que custar!"

O FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora