Ímpeto dos Deuses

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O Mensageiro dos Deuses ascendia, velozmente, contra as pesadas gotas de chuva que evaporavam ao tocar seu corpo, deixando um extenso rastro de névoa ao seu redor. Em pouco tempo Hermes alcançou seu destino e contemplou o portão de nuvens que se estendia no céu. Após reverenciar as deusas Estações, que abriram caminho, o deus entrou no Olimpo, transcendendo um cenário cinza e chuvoso, coberto por nuvens, para um ensolarado, sem barreiras entre o sol e o terreno composto por nuvens banhadas em bronze.

Vislumbrou, no horizonte, o palácio do rei do Olimpo, rodeado por outras pequenas moradas e estátuas de diversos deuses. Deslocou-se na velocidade do pensamento, chegando aos gigantescos portões de ouro que, sozinhos, abriram. Hermes entrou, mas dessa vez andou de passos lentos em direção ao maior trono, ocupado por Zeus.

– Que notícias me traz, Hermes? – a voz ecoou por todo o salão – Espero que seja importante. Caso contrário, poderia tratá-las com outros deuses.

Hermes ergueu a cabeça, Zeus projetava-se dezenas de metros acima em seu trono.

– Creio que julgará suficiente importante. – Respondeu o mensageiro.

 Zeus franziu suas espessas sobrancelhas prateadas. Fez um gesto para o mensageiro continuar.

 – Recebemos ameaças... conspiram contra seu reinado. Contra o Olimpo. – Informou, indo direto ao assunto.

Com uma reação inusitada, que deixou Hermes preocupado, o deus dos céus soltou uma gargalhada estridente, zombando da notícia.

– Não ouse se preocupar com isso Hermes. Toma-me por incapaz?  Aliás, quem, em sã estado, ousaria desafiar minha soberania? Não me diga que Hades está me contrariando novamente.

– Pelo contrário, Hades é quem mais foi afetado... Perséfone foi raptada e uma mensagem, cujo remetente ele desconhece, pede o Trono do Olimpo como resgate. Ele ameaçou apoderar-se de seu trono: caso Zeus não resolva isso, terei eu de resolver.

A posse do Olimpo não era do deus do Sub-Mundo, o fato de pedirem para Hades algo que não possuía só podia significar uma coisa: queriam que ele se voltasse contra Zeus e roubasse seu trono.

– Permiti que meu irmão desposasse minha filha, e é assim que ele agradece, deixando-a ser raptada? – Anunciou Zeus, com fúria nos olhos. – E ameaça me destronar. Diga-o que é dever dele recuperá-la! Não perderei tempo com Perséfone, ela é agora responsabilidade dele.

Zeus omitia sua ira. Mesmo que não se importasse tanto com sua filha, seu orgulho fora atingido, alguém ousou desafiá-lo. Raptar minha filha, e ficar impune?, pensou o deus.

Hermes continuou:

– Como quiser, mas creio que se esqueceu de Deméter. – Zeus revirou os olhos, suspirando ao ouvir o nome. – Ela está, mais que todos, furiosa, Perséfone é o que mais importa em sua vida. Exige que recupere sua filha. Ela o culpa pelo seu seqüestro.

Zeus contraiu os lábios, com raiva. Não era difícil adivinhar que Deméter gastaria todo seu tempo na busca de Perséfone e abandonaria suas tarefas como deusa da agricultura. Após um breve momento de silêncio e reflexão, o deus respondeu, quase que para si mesmo:

- O solo se tornará infértil e trará caos aos mortais. Quem está por trás disso tramou bem os planos. – Tão logo Zeus profetizou, Hermes concordou.

Por fim, Zeus assentiu e deu suas últimas palavras:

- Indicarei os melhores para ir atrás de minha filha, e peço que diga para Hades fazer o mesmo. Sobre Deméter... julgo que ela não se preocupará com a agricultura até encontrar nossa filha. Os homens terão de suportar o que está por vir.

Dita as palavras, Hermes se retirou do palácio do deus dos céus. Tinha uma mensagem importante para entregar. Saudou as deusas Estações, que guardavam a entrada do Olimpo, e atravessou as nuvens.

 Agora já não chovia: nevava... Uma densa neve caía sobre um solo infértil.  

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⏰ Última atualização: May 25, 2014 ⏰

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