Primeiro de Janeiro de 2018. Como é bom ser pai.
Um dos brinquedos favoritos do meu filho, e meu também, são os clássicos Blocos de Montar. Pequenos tijolos em diversos tamanhos e formatos com um elemento de ligação em comum. Completamente flexíveis e intercambiáveis. Sozinhos não são nada, mas dependendo da forma como os colocamos juntos, podem adquirir a forma de praticamente qualquer coisa.
Desde que minha esposa comprou este brinquedo, eu sento no chão e tento ensinar meu filho a brincar. No começo ele simplesmente pegava as peças com as duas mãos e as girava olhando admirado as cores e formas dos blocos. Depois enfiava na boca. E por último o jogava longe e ia atrás de outra coisa que o chamasse mais atenção.
Eu não sou de desistir fácil, então pacientemente pegava os bloquinhos e começava a montar uma torre. Nas primeiras vezes bem básica, simétrica e quadrada. Mas com o passar do tempo tentei emular arquitetos mais modernos como Santiago Calatrava e Norman Foster. Aos poucos, ele perdeu a mania de colocar as peças na boca e passou a se divertir derrubando meus prédios. E dia após dia um episódio de seriado de monstros japoneses se repetia. Eu construindo prédios, e o Arthur rangendo os dentes corria em direção a eles jogando tudo abaixo com apenas algumas mãozadas.
Passado mais um pouco de tempo, ele começou a se interessar pelo processo de montagem dos prédios. No princípio mais para derrubá-los antes mesmo de serem concluídos, mas de repente ele sacou como os blocos se uniam. E arriscou montar alguns, mesmo que ainda sem muito jeito nem coordenação.
A partir deste momento inauguramos mais uma fase de desenvolvimento dos blocos de montar. Eu iniciava a brincadeira montando as fundações do prédio numa base firme, e depois passava pra ele as peças uma a uma, para que ele as montasse na base crescendo seu próprio prédio. No início eu ainda indicava o local para ele montar as peças. Mas rapidamente ele passou a decidir sozinho onde queria colocá-las. Ao final da brincadeira o prédio era derrubado e começávamos de novo.
Depois dessa fase já consolidada, eu passei a incentivá-lo a brincar com o prédio, um pouquinho antes de derrubá-lo. Interagindo com outros brinquedos, como carrinhos e bonecos de seus personagens preferidos. Fingindo que eles estacionavam na garagem e moravam por ali. A questão é que fatalmente, no meio dessa brincadeira sempre aparecia um dinossauro ou monstro que acabava derrubando o prédio.
Certo dia decidi soltar todas as peças do bloco de montar na sala e sentei no sofá. Fingi que faria outra coisa, mas fiquei observando ele montar as peças sozinho. No princípio ele montava torres muito parecidas com as que montávamos junto, mas com o passar do tempo passou a montar torres de sua própria imaginação.
Hoje ele deu mais um passo adiante. Pode ser um delírio de pai, mas por um momento, enquanto cozinhava o almoço vi ele montando uma torre com sua prima e eles juntos fizeram a torre mais alta que todas que nós já havíamos feitos juntos. Nem preciso dizer o quanto fiquei emocionado.
Blocos de montar. Acho que metáfora é até evidente e nem preciso de um parágrafo de conclusão, mas vamos lá. Que jornada maravilhosa ver meu filho progredindo diariamente, dando um passo de cada vez e indo cada vez mais longe. Espero poder continuar dando o exemplo e montando bases firmes para que ele possa ir cada vez mais longe. Não só construindo prédios, mas construindo seu caráter, vida escolar, carreira, família; enfim: sua vida. Daqui a 18 dias ele inicia a vida escolar e não vejo a hora que sua evolução com os blocos de montar seja replicada, mas ao mesmo tempo já estou com saudades do tempo em que ele só virava as peças com as mãozinhas, as colocava na boca e depois as jogava longe.
Como é bom ser pai.
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Blocos de montar
Non-FictionPequena crônica de ano novo para que um dia, Arthur, meu filho possa ler em retrospectiva e saber um pouco da sua primeira infância.